Macapá, a capital sem água nem esgoto

Do jornal O Estado de S.Paulo

Macapá, a capital sem água nem esgoto

Pablo Pereira – enviado especial de O Estado de S.Paulo

MACAPÁ – Uma cidade com 3% da área servida por rede de coleta de esgoto, 17% da população em região de ressaca do Rio Amazonas e o restante com fossas sanitárias, em muitos casos cavadas ao lado de poços d’água, e cerca de 60% das casas sem água encanada. Essa realidade do saneamento básico transforma Macapá, capital do Amapá, com 407 mil habitantes, no retrato do descaso. Todos os dias, crianças lotam hospitais com verminoses, dor de barriga e doenças de pele.

 

Comunidade São Lazaro, na cidade de Macapá  - Márcio Fernandes/AE
(Foto: Márcio Fernandes/AE)
“Ele já teve diarreia e agora está com coceira”, afirmou Anne Caroline Melo, de 19 anos, mãe de Carlos Henrique, de 6 meses, moradora do alagado de São Lázaro. Na quarta-feira, contou que havia um mês o filho tivera febre alta e fora levado ao Pronto Atendimento Infantil, no centro. Há três meses vivendo na pequena casa de madeira construída sobre o charco fétido existente há décadas e pagando R$ 200 de aluguel, sonha com o dia de ir embora.

Para o vendedor Sandro Melo, que também mora com os três filhos no alagado, a torcida é para que seja aceito no projeto Minha Casa Minha Vida. “Estou esperando. Aqui, o meu menino mais novo já teve diarreia. O médico disse que é por causa da água”, contou o rapaz.

A vizinha dele, Samara dos Santos, de 25 anos, também gostaria de partir. Com dois filhos, mora na área há 4. E eles já foram vítimas das doenças que perseguem as crianças da região. “Esse povo aqui da baixada é um povo esquecido”, disse.

A situação dos moradores do alagado de São Lázaro está longe de ser exceção. “É um exemplo de área de ressaca do município que precisa de solução rápida”, afirmou na quinta-feira o secretário da Saúde de Macapá, Dorinaldo Malafaia. “A situação de falta de saneamento no município é geral e gravíssima”, admitiu.

O impacto sobre a saúde é visível. A situação piora no “inverno amazônico”, nos primeiros cinco meses do ano, quando as águas potencializam a proliferação de doenças. De janeiro a maio, 5.483 atendimentos foram registrados no pronto-socorro infantil – diarreia, vômito, infecção intestinal, tudo reunido como gastroenterocolite aguda (ou Geca).

Qualquer mãe do Amapá, porém, imagina que os números estão bem abaixo do real. “Muitas vezes a gente nem leva no hospital”, diz Cláudia Silva, de 33 anos, que há 8 vive no São Lázaro. Ela teme que a filha Amanda, de 7, acostumada a correr sobre as passarelas de madeira, volte a cair na água podre sob as casas. Até agora, ela não aparenta ter problemas.

Em áreas vizinhas a São Lázaro, como o bairro Pantanal, a cerca de 2 km, a situação é igual. Nas habitações da beirada do rio, os dejetos humanos correm direto para a margem encoberta pelo matagal. Nos locais mais altos, assim como em bairros de classe média, os restos sanitários vão para as fossas. Os lotes são ladeados, em muitos casos, por poços de água, do tipo “amazonas”.

Os “amazonas” são os buracos no chão, alguns cercados de tijolos. Por R$ 500, um pedreiro cava um. Já para construir um poço artesiano, que busca água em lençol freático mais profundo, o preço muda. “É de R$ 2 mil a R$ 3 mil”, diz uma moradora do Pantanal.

Sobre o abastecimento de água, feito pela empresa estadual Caesa, a prefeitura de Macapá não tem certeza da extensão da rede. Dados informados pelo Amapá ao governo federal dão conta de cobertura de 41,7% da população urbana do Estado.

Indústria. Um caminhão de esgoto retirado de uma fossa de uma casa de quatro pessoas, com três banheiros, não custa menos de R$ 120. Há uma dezena de empresas especializadas. Os dejetos enchem os caminhões, espécie de aspiradores gigantes, com capacidade para 8 mil litros, e são descarregados na lagoa de decantação de Pedrinhas. Na sexta-feira, o tráfego era constante na descarga. “É época de pagamento de salário”, disse um motorista.

A procura pela limpeza de fossas é constante. “Registramos uma média mensal de 160 a 180 carradas (cargas)”, explicou a vendedora Elaine Cabral, da Jucar Saneamentos, que atendeu na quinta-feira o professor universitário Ricardo Ângelo Pereira de Lima. “O que mais nos incomoda nem é o pagamento do serviço”, afirmou Lima. “O que preocupa é a contaminação do solo, das águas. Macapá tem uma população permanentemente doente.”

    • Queria ter a solução, mas não tenho e é por isso a minha angústia de ver o Amapá tão esquecido, abandonado e servindo de terra fértil pra corrupto enquanto o povo sofre à míngua.

      • Grandes soluções para os problemas, foram descobertas após muitas experiências.
        Meu amigo vá tentando sempre o que não foi testado, pois repetir o já testado só atrasa o processo.

  • É triste a realidade desta cidade de Macapá.Como já cansei de dizer,aqui as secretárias e seus gabinetes lotadas de gente carguista sem fazer nada>muitos não sabem nem onde estão lotados.Outros, nem se dão ao trabalho de irem conhecer o local onde foram alocados.Não é necessário muito esforço para se comprovar este fato,basta dar umas voltinhas nas secretarias do GEA e PMM,é só conferir.

  • É um texto para reflexão. Considerando a fase de Estado. São 4 anos de PFL, 8 anos de PSB, depois 8 anos de PDT (+ harmonia), agora mais quatro anos de PSB. Vejam , nada mudou, continua tudo do mesmo jeitinho. Ano que vem tem eleição. Pensem bem. Você pode fazer parte do percentual que está na merda e, ainda, não percebeu.

    • Quem disse que nada mudou? Mudou sim,o GEA e seus secretários,acessores e D+++++ carguistas.A PMM e seus secretários,acvessores e D+++++++ carguistas.Mudou a folha de pagamento do GEA e PMM,que estão inchadas deste povo baba ovo.E ai,como nada mudou?

      • É verdade, Carla, só mudaram as moscas…
        Parece que aqui no Amapá a classe política só preocupa com próprio umbigo, muitos até fazem do mandato uma oportunidade única de ficarem ricos. O que vemos são dois grupos que a tapas e tropeções disputam o poder e nem um dos dois se importam com as demandas do povo, pois qualquer coisa que fazem é com objetivo eleitoreiro, com finalidade única de continuar mandando e desmando e para isso vale enganar o povo com promessas mentirosas que nunca serão cumpridas.

  • Eu gosto muito deste site por isso acesso todo dia. É um site diversificado, nele encontramos notícias, poesias, flores, fotos antigas e atuais da cidade, cultura etc etc. Gosto de sites assim que não focam apenas em um assunto.
    Parabéns, jornalista Alcinéa

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