Naquele tempo

Macapá era cortada por igapós, havia muitas áreas de ressaca, o clima era ameno. Tão ameno que ventilador era luxo. Aparelho de ar condicionado nem existia nas bandas de cá.
Março era o mais que mais chovia. A combinação chuva forte, maré alta e lua não provocava alagamentos. Podia chover uma semana sem parar que nenhuma casa ia pro fundo, que nem uma rua ficava alagada. Havia lama, isso sim. Muita lama. Aliás, os meninos adoravam a lama. Achavam o lamaçal tudo de bom pra jogar futebol e peteca. Se podia andar descalço pelas ruas e quintais sem medo de pegar leptospirose. Não havia ratos.
Eis que a cidade cresce e os governantes começam a aterrar as áreas de ressaca. Poderiam em vez de jogar toneladas de aterros nos igapós, fazer uma pracinha ao redor, com bancos e jardins. A cidade ficaria muito mais bonita.
Mas não. Aterraram tudo em troca de votos. E o resultado está aí: basta uma chuva de 15 minutos como a da manhã de hoje para Macapá praticamente ir pro fundo. As ruas viram rios, o trânsito fica um caos, as casas são inundadas. Andar descalço, tomar banho de chuva na rua ou quintal, fazer uma peladinha de futebol na chuva é tentativa de suicídio.

Lembro de um igapó, na avenidas Mendonça Furtado, Almirante Barroso e Cora de Carvalho entre as ruas Jovino Dinoá e Odilardo Silva. Era tão divertido molhar os pés ali, pegar peixinhos, apanhar flores. Os mais ousados davam um mergulho. A água não era contaminada. Os meninos juntavam recipientes de soro – que naquele tempo eram vidros de boca larga – para servir de aquário. Era cada peixinho lindo! Pena que não duravam mais de dois dias.
Nos igapós também se “pescava”sarará para colocar no mingau de mucajá.
Alguém pode perguntar se havia palafitas como hoje nessas áreas. Não. Não havia. Ninguém construía casa no lago. Se construía no entorno. Dentro não.

Passarela naquele tempo era coisa usada em desfile de misses. Nada a ver com as passarelas de hoje que governantes constroem, pintam da cor de seus partidos e fazem festa de inauguração com direito a discurso, foguetório e holofotes da televisão.

  • Macapá de outrora era a cidade joia da Amazônia, ruas largas, calçadas transitáveis, arborização, poucas praças, mas bem cuidadas. Hoje Macapá está desfigurada, caótica, esburacada, fedida, deformada, feia etc. Não, eu não sou pessimista e nem venho fazer criticas vazias, eu só quero expressar a minha revolta com a classe política que tem se apropriado dos cargos públicos para enriquecerem ilicitamente e ter status, sem se preocuparem com a cidade e a população. Essas invasões de calçadas estão ocorrendo há muito tempo sem que nenhum gestor público faça alguma coisa, o Amapá é um Estado pobre sem muitas oportunidades de empregos, por esse motivo o comércio informal prolifera assustadoramente. Desta forma as largas calçadas planejadas antigamente hoje estão sendo ocupadas por ambulantes de todos os tipos. Só para citar algumas dessas invasões temos : o entorno da escola Sebastiana Lenir e muitas outras escolas, lá são vários trailers obstruindo totalmente as calçadas, as calçadas laterais do pronto socorro, várias calçadas do centro comercial, as calçadas residenciais servindo de garagem e até mesmo como mais um cômodo da casa isso em todos os bairros de cidade, canteiros centrais abandonados pelo poder público e ocupados por barracas, espaços dentro de praças sendo loteados e ocupados, as margens do destruído canal da Mendonça Júnior ocupadas por barracas que vendem comidas, enfim, são tantas as irregularidades que na configuração urbanística atual Macapá se assemelha à uma favela de ruas largas.
    Esse panorama existe por falta de uma fiscalização rigorosa, permanente, eficaz e sem fazer vista grossa e nem apadrinhamento político. Macapá e o Estado do Amapá merecem e precisam de políticos corretos e honestos, assessorado por bons profissionais, senão aqui será umas das piores cidades para se viver. DESDE A DÉCADA DE 1980 QUE A SITUAÇÃO PIORA A CADA ADMINISTRAÇÃO TANTO ESTADUAL COMO MUNICIPAL.

  • Até rios alagam, ou se alargam, ou transbordam, mas, hoje, regiões de cidades como Macapá, Belém, Manaus, vão para o fundo após chuva grossa e de várias horas, porque os escoadouros naturais, como igarapés, foram aterrados, por votos ou ignorância.

  • Na verdade, os nossos ministérios não estão sendo explorados devidamente por parte de nossos governantes, no sentido de que esses problemas sejam sanados dignamente, entendo eu, também, por falta de técnicos competentes de os governos estadual e municipal, priorizando planejamentos com responsabilidade e, sim priorizando planejamentos pessoais, em detrimento a uma população lascada e falida sem o bem comum humanitário de nossas autoridades.

    Nossas autoridades também, não estão tendo humildades em contactar com políticos inteiramete ligados ao governo central federal e de trânsito fácil, justamente por orgulhos ignaros e, que se dane, repito mais uma vez, o sofrido povo do Estado do Amapá e, especicialmente a nossa Macapá querida.

    Não adianta esses pseudos pré-candidatos bradarem contra a atual administração, por que alguns deles tiveram participações anteriores, atuando como assessores e até mesmo secretários de governos e, também, não tiveram as devidas competências em elucidas os vários problemas do Estado e de Macapá.

    Égua, meu!
    E, olha que são pré-candidatos pra caramba, e todos querendo “salvar” o Estado e, especialmente, cuja prefeitura padece de técnicos competentes pelo andar da carruagem.

    Aproveitem o Sarney e, parem de orgulho.

    Tadeu Pelaes.

  • Alcinéa, discordo de você, tenho 57 anos; Macapá sempre alagou no inverno em alguns pontos, como na Padre Julio em frente ao Araras, no Perpetuo Socorro, nas áreas próximo as ressacas e igarapés. Também sempre teve pontes, passarelas e palafitas. Na Padre Júlio, São José, Tiradentes, General Rondon, Eliezer Levy, no centro, cansei de empinar papagaios naquelas pontes. É que você morava em terra firme. Quanto as passarelas construida atualmente é uma necessidade das populações que moram nas ressacas. A retirada das pessoas desses locais insalubres é demorada e traumática; muitas dessas pessoas não querem sair. Mas os governos municipal, Estadual e Federal precisam agir e dar uma alternativa para essas pessoas.

  • Existem duas maneiras de ser o problemas das ressacas. Aterra ou tira todo mundo. Como aterrar causa danos ambientais, ficamos , então, com a solução de tirar todo mundo. É a solução, ambientalmente correta e socialmente justa.

    • Concordo com você meu nobre amigo, porém são mais de setenta mil pessoas morando em cima da ponte. Como remover toda essa gente de forma ordenada e urgente? Será que ainda tem vaga lá no Macapaba?

  • Nunca achei nem vou achar normal pessoas morando em áreas de ressaca, para mim isso é bizarro,desumano ….como moradora da periféria (na verdade Macapá toda é uma grande periferia) conheço muita gente que mora ali e a vida é sofrida: a água é suja, as crianças caem, adoecem, sem falar que é muito simples bandidos se esconderem no meio daquele labirinto de pontes. Não é humano permitir que pessoas vivam assim, mesmo que as pontes sejam de ouro, mas será que ninguem vê isso?? Gostaria que os politicos cínicos que constroem pontes e fazem festa para comemorar fossem criar seus filhos em palafitas, sem água potável, sem esgoto….. Imagine como Macapá seria bonita com os lagos desocupados, como um dia já foi…como seria bom pro turismo local. Eu amo Macapá e fico extremamente triste pela minha cidade está tão largada, nunca esteve pior.

  • Você disse tudo Alcineia, o que ocorre hoje é o reflexo do crescimento desordenado de nossa bela cidade,quando a troca de voto era proposta, não pensavam se em um futuro próximo aquelas pessoas iam sofrer com as consequências de “matança dos igapós”, tb passei minha infância morando à margem de uma ressaca e brincava por cima dos miritizeiros e meu avô colocava malhadeira pra pescar. a água não era contaminada, como você bem colocou. Mas acredito que já que esse quadro mudou, o mínimo que as pessoas que ocupam essas áreas deveriam fazer, era manter esses locais limpos, ao invés de jogar lixo e até mesmo seus móveis velhos dentro dos lagos.

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