Lembras?

Lembras do cine João XXIII?

Ah, as facinemosas sessões de domingo à tarde, onde a gente se divertia com Carlitos, se empolgava com o Zorro e chorava com a Paixão de Cristo.

A entrada era pela Rua São José  e a saída pelo Largo dos Inocentes, bem atrás da Igreja de São José.

Nas tardes de domingo um programa imperdível era assistir filmes do circuito nacional no Cine João XXIII. Era lá que os jovens marcavam o primeiro encontro com a namorada ou namorado. Quem chegava primeiro guardava a cadeira do outro (a) e quando as luzes se apagavam, aí sim, todas as cadeiras eram ocupadas e os novos casaizinhos assistiam o filme de mãos dadas. Nada de beijo na boca no primeiro encontro. Lembram?
Era lá também que a molecada trocava revistas e figurinhas. Muitos meninos iam ao cinema só para trocar revistas. Chegavam lá com aquele monte de  Zorro, Tarzan, Superman, Roy Rogers, dentre outras,  embaixo do braço (não se usava mochila nessa época). Às vezes a fila parava por causa das trocas. Era um tal de “já leu? Já leu? Não. Bora trocar essa por essa” e assim todos voltavam para casa felizes com “novas” revistas para ler que, claro, seriam trocadas no domingo seguinte.
Ah, depois do cinema os jovens  iam dar uma voltinha no trapiche Eliezes Levy (que era também um passeio obrigatório nas tardes de domingo) e se os pais tivessem dado um dinheirinho extra era como um “vale-sorvete”. Sim, quem com um dinheirinho no bolso deixaria de tomar um sorvete servido em taças de inox pelo garçon Inácio no Macapá Hotel? Lembro de colegas que passavam a semana toda juntando uns trocadinhos  (inclusive o dinheiro dado pelos pais para a merenda) só pra tomar no domingo o sorvete do Macapá Hotel.

………………….E do Cine-Teatro Territorial, lembras?

Ficava no mesmo terreno da escola Barão do Rio Branco. Foi aí que aconteceu o primeiro Festival Amapaense da Canção (a música vencedora foi Canção cine-territorialAnti-Muro, de Alcy Araújo e Nonato Leal, interpretada por Célia Mont’Alverne).
No palco deste teatro se apresentaram grandes orquestras, famosos cantores e excelentes peças teatrais.
Era usado também para os programas de auditório da Rádio Difusora de Macapá. Também era um espaço muito bem aproveitado pelas escolas para realização de programações culturais.Quando criança integrei o grupo de teatro infantil da professora Aracy Mont’Alverne e tive o privilégio de me apresentar neste palco.
No palco do Cine Teatro Territorial brilharam cantores e músicos como Nonato Leal, Humberto Moreira, Aymorezinho, Sebastião Mont’Alverne, entre outros.

  • Belíssimo texto, Néa! E que essas lembranças-que também são minhas (pois me apresentei o Territorial e no João XXIII)- sirvam para que os pseudo-poderosos reflitam sobre cada tijolo jogado ao chão, apedrejando a memória amapaense.

  • Muito se ouve dizer por aí que somos um povo sem memória, e essa afirmação se torna muito tristemente verdadeira quando os nossos patrimônios históricos e culturais são deixados de lado, abandonados simplesmente. É incompreensível e inaceitável que os anos passam, os nossos bens materiais vão se deteriorando, os discursos em favor da proteção dos nossos elementos identitários vão se reproduzindo, os projetos de revitalização e adequação vão sendo elaborados, mas não saem do papel. Quanto burocracia, ou absoluta falta de vontade política? Um exemplo disso é a reforma e adaptação do prédio da Escola Barão do Rio Branco, onde se localizava o antigo Cine Territorial, hoje auditório da Escola. Tal projeto já está pronto, já foi entregue, em solenidade no Setentrião, à Gestão ainda no segundo semestre de 2013, mas até a presente data as obras não tiveram início. Até quando vamos esperar? Não queremos de maneira alguma que a lamentável história se repita: que a Escola Barão não seja mais uma “Cândido Portinari” ou “Walquria Lima”. Tivemos a promessa, e pelo menos eu ainda quero acreditar nessa promessa, de que neste ano de 2014, o Barão do Rio será reformado e adaptado. Os técnicos da ADAP, em parceira com os profissionais que trabalham no Barão, fizeram um projeto maravilhoso, a Escola Barão, reformada, ficará uma escola com estrutura física de primeiro mundo, mas precisa sair do papel, bem como o Cine Territorial e o Museu da Imagem e do Som, que completarão o complexo educacional e cultural daquele lugar.

  • Quase chorei quando vi o buraco que deixaram no lugar do CIne-Teatro João XXIII. Era uma vez… um espaço constituinte do patrimônio cultural do Amapá.
    Ao chão!
    E licenciado pela Prefeitura Municipal.
    Está sendo, agora, palco de uma construção para ampliar um shopping. Um shopping!
    O poder econômico detonando, mais uma vez, a história do Amapá.
    Até quando seremos coniventes com atrocidades tais? Daqui a pouco já não se terá memória viva neste rincão brasileiro.
    Triste. Deprimente.

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