Para não esquecer Hélio Penafort

Hélio Penafort (foto), jornalista e escritor e excelente contador de histórias, se ainda estivesse neste planeta teria completado 81 anos de vida nesta segunda-feira, 21. Meu amigo Hélio partiu num carnavalesco mês de fevereiro, mas é imortal pela sua obra.

Revirando meus arquivos, encontrei um recorte de jornal de junho de 1988 – que a Alcilene guardou com tanto carinho – com este belíssimo texto do meu pai Alcy Araújo sobre o amigo Hélio Penafort:

“Quando conheci o Hélio Penafort os vícios da civilização ainda não haviam poluído a sua singela maneira de transitar nas ruas do meu mundo, deteriorado por uma sociedade sem anjos, onde os poetas lutam para que a poesia não se perca entre ruídos de máquinas, sons de buzina, assaltos e políticos.

Hélio Penafort fumava cigarros “gaivota” e o Álvaro da Cunha finos “king-size”. Tomava conhaque “São João da Barra”, quando o Manoel Couto ingeria “white house”. Cortava o cabelo no Mercado Central, enquanto o Ezequias Assis já freqüentava o salão de um cabeleireiro gay. Tudo nele era de uma pureza de pescador.

Eu estava defronte de um contador de estórias que fazia rir o Padre Jorge Basile, numa tarde, na redação-oficina da “Voz Católica”, jornalzinho da Prelazia de Macapá, onde tantos talentos vieram à tona, como o companheiro João Silva e outros mais.

Hélio Penafort, há trinta anos bem vividos, bem comidos e bem bebidos, conta estórias. Na imprensa, no rádio, na televisão, nos livros que publica. Suas reportagens são contos, com personagens dançando o cacicó ou o turé, cavalgando ondas na costa oceânica ou singrando rios em igarités. Nas suas estórias, a mata, a terra molhada, o rio, a cachoeira do Firmino ou de Grand Roche. Na paisagem, sempre o homem. O caboclo, o índio, o negro. E mulheres de pernas bonitas e corpo cheirando a marés, a mato no amanhecer, a ervas que Deus plantou no chão amapaense.

Hélio Penafort é uma antologia folclórica. Um estudo de antropologia. Um livro para sociólogos e freqüentadores reincidentes do Bar do Abreu.

Entre uma estória e uma lenda, entre um mito e uma carraspana, ele já foi radialista, telegrafista, fotógrafo, prefeito municipal, juiz de paz, chefe de gabinete do governador, diretor de rádio-jornalismo, produtor de textos e programas de rádio e TV e sabe Deus mais o que.

Alto, desengonçado, careca, vive sorrindo, como quem tem a certeza de que a vida pode ser maravilhosa, não importa as acontecências. Certa vez ele disse: “Estou pê da vida com o Paulo Oliveira”. E em lugar de franzir o cenho, caiu na gargalhada.

Não há civilização que enodoe a alma deste contador de estória, carregada de poesia e de humor transparente. Com trinta anos de jornalismo, ele continua um homem da fronteira, que traz nos olhos o brilho das águas que se fixaram em sua visão. Só sei do Hélio zangado, quando estão botando no esfriador de arroz do seu amado e onírico Oiapoque. Aí ele protesta, no mais castiço patuá. Eu disse castiço?”

  • Tive a honra de conhecer e conversar ou melhor, escutar as estórias e histórias do Amapá pelo grande Hélio Penafort
    Apaixonado pelo Amapá e tinha que provar e filmar A Pororoca…. E conseguiu
    O Padre Jorge foi tbm um grande conselheiro e amigo de todos…
    Lembro do Paulo, no Palácio do Governo …
    Gente boa e tempo bom.
    Mesmo divergindo, tínhamos um ponto comum- o Amor pelo Amapá e pelo povo amapaense e suas belezas inigualáveis…

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