Tia Biló, a cultura viva do marabaixo

Tia Biló, a cultura viva do marabaixo
Por Cláudio Rogério

A madrugada de hoje, no silêncio dos tambores, anunciou a partida de Tia Biló. Eita, que além das estrelas, nas batidas do marabaixo, neste momento, nossa “Preta Velha” emana ao lado dos baluartes e ancestrais de nossa cultura mãe, seu leve e doce cantar.

Aqui neste chão da Amazônia, onde pisou por 96 ciclos do marabaixo, Benedita Guilherma Ramos, carregou mastros, coroas, fitas, murtas, ladrões, caldos, cantorias, gengibirras e muita fé em devoção à Santíssima e ao Divino, amém!

Nos campos do Laguinho, havia um jardim, onde Tia Biló significou a última açucena de Julião Ramos a desviver, mas como toda flor, deixou nestes campos, pólens de matriz africana para colorir mais e mais os jardins e campos da cultura nossa de cada dia.

Quis sim, Olorum chamá-la na primavera vindoura, para que seu povo aqui da terra Tucuju cantara ao som dos tambores, “tá caindo flor, tá caindo flor, lá no céu, lá na terra, oh! Lê lê tá caindo flor…”

E Biló da resistência, não se conformou somente as rodas de marabaixo, viajou além, e foram honrarias, prêmios, homenagens, ensinamentos, palestras e entrevistas. Agendas dignas de uma mestra na arte de fazer cultura popular do marabaixo.

Seus voos que inspiraram poetas, escritores e compositores chegaram à cena do rock amapaense, onde teve seu nome eternizado em uma banda, a “Tia Biló”.

Nos festejos, as bandeirinhas e fitas azuis e vermelhas sempre deram um toque de magia colorindo sua casa e seu barracão, onde povos se enalteciam aos fogos e cantorias, a chegada da manhã. E junto na fé, ali estava Tia Biló, agradecendo e pagando sua promessa, herança deixada pelo pai. Agora transmitida aos seus filhos, netos e todos seus seguidores.

Toda vez que ecoar uma caixa de marabaixo nos quatro cantos do mundo, ali, estará firme Tia Biló, mais viva e mais presente como nunca.

Assim, nos sentiremos protegidos, inspirados e seguros para mantermos sempre erguida e no topo dos mastros da vida, a cultura do marabaixo.

Salve, Tia Biló!

(Fotos; Aydano Fonseca e Gabriel Penha)

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