O novo disco de Paulinho Pedra Azul

Por Zenilton Custódio, especial para o blog

O cantor e compositor Paulinho Pedra Azul é romântico como músico e prático e arrojado como produtor. É um dos poucos artistas brasileiros de grande público que não se rendeu à ditadura das gravadoras, o que lhe permite manter a integridade do trabalho e ser dono de seu destino profissional.

Com 23 discos lançados, ele começa a divulgar o 24º trabalho em Linhares, onde se apresenta no dia 30 deste mês, no clube Mata do Lago, ao lado de Cirinho do Rio Doce e outras atrações.

Os interessados em curtir o show devem fazer a reserva de mesa pelo telefone 99778 6306 e/ou adquirir os ingressos no Marcelo Joias, em frente a Lanchonete Caliman, no Centro de Linhares.

Nesta semana, o cantor, escritor e artista plástico Paulinho Pedra Azul concedeu a seguinte entrevista ao jornalista Zenilton Custódio:

Em junho vai completar 23 anos que eu lhe entrevistei pela primeira vez, quando você promoveu um show em Nova Venécia. Na ocasião, você tinha 39 anos e 20 anos de carreira, subindo ao palco com o UH, um grupo de rock local formado por uma turma que lhe cultua como ídolo. Lembra desse show?

Lembro-me muito bem, Zenilton. Fiz o primeiro show da minha vida na cidade de Nova Venécia, no final de 1973, numa festa de debutantes, junto com a banda UH. Voltei lá 20 anos depois e fizemos outro show. Somos amigos até hoje! Olha só o que a música faz!

Na ocasião, nós conversamos sobre vários assuntos e você se queixou muito do Escritório Central de Arrecadação e Direitos Autorais (Ecad), órgão que comparou a um jardim zoológico, que “prende os animais, dá aquela comidinha, mas, não solta os bichos de jeito nenhum”. Mudou alguma coisa de lá pra cá?

O Ecad evoluiu na captação, mas, não na distribuição. Como todas as entidades arrecadadoras do país, o órgão continua com defeitos e injustiças.

Você ainda está fugindo das gravadoras?

As gravadoras é que fugiram de mim! (risos). Depois de tantos anos independente, fui convidado pela Som Livre para lançar um disco comemorativo aos meus 30 anos de carreira. Prometeram tudo e não fizeram nada! Peguei meu tape de volta e segui caminho, como sempre fiz! Isso virou uma coisa normal na minha carreira musical. Sou independente até hoje. E sou muito feliz e realizado.

Vamos falar de música. Em 1993 você lançava seu sétimo disco, Uma História Brasileira, que foi muito elogiado pela crítica. Fale um pouco sobre sua discografia?

Tenho 23 discos lançados. Agora em maio lanço o 24º trabalho, e só um não é independente, que é o Jardim da Fantasia, lançado pela RCA/BMG Ariola, em catálogo até hoje. Uma História Brasileira é um disco cheio de musicalidade e poesia, onde todos os músicos tocaram da forma que quiseram, fazendo seus próprios arranjos. Uma liberdade sem fim!

A gente sabe que seus primeiros trabalhos foram fortemente influenciados pelo pessoal do Clube da Esquina. Como essa relação funcionou e se desenvolveu ao longo de sua carreira?

Fui influenciado por Roberto e Erasmo, The Fevers, Beatles, Os Incríveis, Altemar Dutra, Jackson do Pandeiro, Gonzagão, Nelson Gonçalves, Fagner, Djavan, Alceu Valença, Chico Buarque etc. O Clube da Esquina foi a última influência na qualidade musical e nas letras de Fernando Brant, Márcio Borges, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos

Você não frequenta muito a mídia de massa, no entanto tem forte penetração em ambientes específicos e mais elitizados. Você diria que sua música, dentro do atual contexto de consumo é elitista?

A minha música é MPB. É uma música simples, que fala da relação humana, de perdas, encontros e da natureza. Gosto de compor vários ritmos, pois o Brasil é o país mais diversificado musicalmente. Vai do ouvido mais simples ao mais sofisticado.

Sua música mais famosa é Jardim da Fantasia, mais conhecida como Bem te vi. Dizem que você a compôs em homenagem a uma noiva que teria morrido. Foi mesmo assim?

Jardim da Fantasia (Bem te vi) foi composta para uma namorada, mas, ela está viva ainda! Inventaram essa estória e não consigo mudá-la. Virou mito e assim segue por aí nas divulgações.

Em tempos em que estilos como sertanejo e arrocha predominam nas emissoras de rádio, em que estados brasileiros você encontra mais público para sua música que tem, digamos, um conceito mais sofisticado?

Meu público cresceu muito desses anos pra cá. O que me deixa muito feliz! Público fiel, que consome meu trabalho com muito respeito e amor. Procurei sempre crescer, fazer discos melhores, me aprofundar mais na poesia, nos arranjos, em função do meu público, que cresceu junto comigo. Isso é uma bela troca.

Além de músico, você também é artista plástico e escritor. Fale um pouco sobre isso. Como você concilia essa multiplicidade de talentos?

A poesia é diária na minha vida. Escrevo todos os dias. São 17 livros lançados. Desde novinho escrevo, pinto e toco. Sou um apaixonado pela poesia e admiro Mário Quintana e Rubem Alves, apesar de curtir outros autores como Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade.

Como um músico de gosto privilegiado, você poderia nos dar uma dica do que está rolando de legal na MPB hoje, além de você, claro?

Nós temos cantores e compositores novos que são ótimos! Da geração de Lenine, Chico César, Celso Viáfora, Tadeu Franco e Rubinho do Vale até Pedro Morais, Kadu Viana, Déa Trancoso, Consuelo de Paula e tantos outros. Estamos muito bem servidos de música e poesia de altíssima qualidade.

Conhece Linhares?

Conheci Linhares muito pouco. Cantei umas duas vezes aí e em São Mateus e região. Morei em Vitória um ano, onde concluí o então segundo grau no Colégio Estadual e fiz muitos amigos! Foi muito importante pra minha vida.

Em Linhares não temos muitas oportunidades de ouvir músicos do seu nível, apesar de termos em nossa região e município artistas de raro talento. Por isso, existe uma animadora expectativa que seu show possa estimular o consumo dessa vertente musical.

Eu também estou muito feliz por essa oportunidade. Vai ser uma troca de energia muito boa.

Como aconteceu esse intercâmbio com Cirinho do Rio Doce? Vocês já definiram que música vão cantar juntos?

Eu e Cirinho estamos nos aproximando agora, como deveria acontecer. Ele é um lutador e um grande exemplo pras gerações futuras. Talentoso e humilde, como todos deveriam ser. Sinto-me orgulhoso em dividir o palco com ele e outros amigos.

Ainda está tomando uma cerveja?

Tomo uma cervejinha sempre! Aos 61 anos, ainda me acho um menino. Cuido da alimentação e da saúde em geral. Quero cantar muito ainda!

O novo disco poderá ser lançado em Linhares?

Está para chegar o novo disco. São 20 músicas, onde canto com vários amigos. Se não chegar a tempo de lançar aí agora, volto em outra oportunidade para lançá-lo.

  Mande um recado para os linharenses que estão ansiosos para ouvi-lo no show do dia 30.

Expectativa enorme para conhecer mais pessoas que se interessam pelo meu trabalho. Vai ser uma noite muito bonita. Abraços em todos e muito agradecido a você, Zenilton, pela força e o carinho de sempre.

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