Carta para São Pedro

Carta para São Pedro
– Por Inocêncio Carrapato, o poeta do mato –

Meu Sum Pedro Pescadô,
nunca mais eu lé iscrivi
pra falá das disavença
do meu sufrido Brasi.
O gapó tá tão imenso,
meu santinho, qui só penso
im vortá pro Cajari!

Dispois da úrtima carta
qu’eu iscrivi pro Sinhô,
numa piscada dé zólho
munta cuisa aqui mudô:
arrumaro um prisidente
ladrão, gorpista, indecente,
mintiruso e inrabadô!

E tudo isso foi feito
pra acabá a corrupção!
E o cafajeste inda ri
rodeado dé ladrão
que dão as carta im Brasilha,
na mais pió das quadrilha
qui já pisô niste chão!

E o puvo, fumado e ordêro,
parece inté calhambeque
qui só pega no impurrão!…
Pra vivê ele fais breque,
sarta pra tudo qué lado
pra acabá arrebentado
qui nem istrepa-muleque!

Agora diga, meu Santo,
si eu num posso mé zangá
dé vê qui o Brasi parece
panela dé mungunzá
onde tudos mete as mão!…
Tamanha isculhambação
fais quarqué um sé isquentá.

Qui Deus naceu no Brasi
eu iscuito munta gente
dizê mas num aquerdito
nessa históra imprucedente:
sé Deus cesse brasilêro,
num dexava ixe imbustêro
sé passá pur prisidente!

Tô perdeno as isperança
e a vuntade dé vivê…
Tem fartano inspiração
e inté paper pra iscrevê…
Cum a crise sé agravano
eu já ando inté pensano
im morá cum Vosmicê.

Meu bom portêro do Céu,
peça pra Nosso Sinhô,
ulhá pela nossa gente
mandando vento a favô.
E num sisqueça, meu Santo
dé guardá, no céu, um canto
pr’este pobre trovadô.

  • Bom dia, Alcinéa! Admiro muito suas poesias. Gostaria de saber por gentileza, quem foi Inocêncio Carrapato, o poeta do mato?
    Existiu ou foi uma figura poética?
    Atenciosamente,
    Maristela Weyl

    • É um poeta paraense. Vou perguntar pra ele se posso revelar sua identidade e te digo.
      Abraços

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