Batendo palmas sob o travesseiro – Luiz Jorge Ferreira

Batendo palmas sob o travesseiro
Luiz Jorge Ferreira
…Apesar da distância entre nós
…as estrelas que se refletem nos cacos de espelhos …
Nos acenam com os olhos vermelhos, devem ter chorado mais que nós.
…devem ter lido nossas cartas, ouvido nossas falas, desenhado nossos sonhos, e sumido nossas vidas entre os dias de Ontem.
O menino que corre apagando suas próprias pegadas com desenhos de crianças…
Para mim que tenho lembranças vagas dessa estrada…parece ser o mesmo que brincava com o tempo quando Caetano cantou …
Parece ser o mesmo que eu desejei ser quando dentro o útero em que mamãe por nove meses me acolheu…nú…mudo…
ausente de tudo…mas ébrio de amor.
Semanas e meses cem vezes…
dancei abraçado ao angelical cordão umbilical.
Um dia avesso a partidas resolvi sair a esmo levando vida afora
…desesperadamente… vestigios do que fui…pensamentos e pelos e fios castanhos de cabelos,e que hoje tudo tanto se embranqueceu…
Descobri o chorar, e haja lágrimas…
Vou carregar essa água toda com as mãos em sede…e vou molhar as margens secas, dessa súplica que esgaça a solidão, que moribunda espalha boas novas como quem fala das auroras que viveu, ate que viesse a noite, essa que aprisionei e carrego comigo…enquanto sobre as lembranças que colecionei dentro da xicara em que tomo o café todas as manhãs…chove…chove.
Chove em mim…de fora…
Chove de mim… para fora de mim.
Tanta água, que se assemelha a sede.

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