Rio de mim
Annie de Carvalho e Tiago Quingosta
Boca do Amazonas,
rasga-me com teus dentes,
mastiga minha solidão,
engole meu receio
e depois me beija.
Encharca minha mente,
minha natureza selvagem.
Necessito de ti, inunda-me, arrasta-me.
Em teus bancos de areia,
Afoga-me e salva-me.
Quero ser o teu afluente,
tua bacia hidrográfica.
Drena meu sangue e faz-me tua corrente.
Mergulha meus receios
e minhas lágrimas.
Nos teus braços eu quero
um acalento voraz,
sedimenta então minha dor.
Entrego-te tudo o que me apraz,
nem que seja para jogar-me nas tuas afiadas pedras.
Tua vazão já me mataria
por não suportá-la.
Dói!
Mas ficar sem ti é morte súbita.
Leva-me ou me destrói!