MINHA POESIA
Alcy Araújo
(1924-1989)
A minha poesia, senhor, é a poesia desmembrada
dos homens que olharam o mundo
pela primeira vez;
dos homens que ouviram o rumor do mundo pela primeira vez.
É a poesia das mãos sem trato
na ânsia do progresso.
Ídolos, crenças, tabus, por que?
Se os homens choram suor na construção do mundo
e bocas se comprimem em massa
clamando pelo pão?
A minha poesia tem o ritmo gritante da sinfonia dos porões e dos guindastes,
do grito do estivador vitimado
sob a lingada que se desprendeu,
do desespero sem nome
da prostituta pobre e mãe, do suor meloso da gafieira
do meu bairro sem bangalôs
onde todo mundo diz nomes feios,
bebe cachaça, briga e ama
sem fiscal de salão. – Já viu, senhor, os peitos amolecidos
da empregada da fábrica
que gosta do soldado da polícia? Pois aqueles seios amamentaram
a caboclinha suja e descalça
que vai com a cuia de açaí
no meio da rua poeirenta.
Cuidado, senhor, para o seu automóvel
não atropelar a menina!…
5 Comentários para "Chá das cinco"
Qta saudade do Tio Alcy Araújo: Valeu, pois nos ensinou dentre tantas coisas como levar a vida com bastante intensidade e grande competência. Parabéns Alcinéa, Alcione, Alcilene e Zoth pelo Pai.
Abs. Matta.
estou sempre lendo os poemas do Alcy, para tentar me inspirar e aprender com sua técnica fantástica. Ele é um dos meus preferidos. Abraços!
olá alcinéa,tenho doze anos e adoro o seu site.
gosto muito das fotos da Macapá antiga,se possível voçê poderia postar uma foto da ex miss amapá Fatima diniz. beijos!
Oi, Nicole
Não tenho fotos da bela Fátima Diniz. Mas vou tentar conseguir.
Beijos
Lindo Alcy, os céus festejam a alegria, a poesia e a ousadia de se gerar um mundo melhor! Que saibamos compartilhar o pão, o perdão e fazer diminuir a dor do irmão-irmã que cata alimentos nos lixões. Somos pássaros do mesmo ninho, água do mesmo rio, flor do mesmo jardim… Por que nas casas de alguns sobra e nas casas da maioria falta? Não é esse o mundo que eu quis!