Felicidade
Alcy Araujo (1924-1989)
O poeta hoje está feliz. Está feliz e tem um belo assunto para você. É que neste dia está aniversariando Alcinéa Maria. Não sei se você conhece alguma coisa da minha vida particular e sabe que eu amo Alcinéa Maria. A que tem cabelos cor de mel e olhos grandes e castanhos, que também me ama, que sente uma necessidade inevitável da minha presença, do meu amor e do meu carinho. Que vai até as lágrimas se eu lhe causo qualquer desgosto, mesmo involuntário.
Alcinéa Maria, a que me espera de braços abertos, tendo nos lábios o mais belo sorriso que eu conheço, cada vez que volto para o seu amor, a que vem feliz ao meu encontro, a que pede carinhosamente para que eu não parta, para que eu não a deixe ficar.
Hoje a bem amada está fazendo aniversário e o poeta está imensamente feliz. Confesso que hoje beijei sua face linda, acariciei seus cabelos cor de mel, sob a luz difusa da aurora e recebi em troca o seu carinho. Confesso que quase não tive forças para deixá-la. Porém, logo mais estarei ao seu lado. Digo mais que só me afastarei para vê-la mais feliz do que nunca assistir a minha volta. Você que ama sabe o que é a dor do afastamento e a suprema alegria da volta. Nada é mais belo do que a volta para a Bem-Amada.
Outra confissão que faço a você, aos que não conhecem certos detalhes da minha vida, é que minha esposa sabe que amo Alcinéa Maria e não tem ciúmes, e fica feliz sabendo que minha Bem-Amada é feliz ao meu lado.
Como hoje a Bem-Amada está fazendo aniversário, a minha esposa vive comigo os mesmos momentos de felicidade e de alegria.
Um dia magnífico, o de hoje. Alcinéa Maria, a de cabelos cor de mel, olhos grandes e castanhos, completa quatro anos dentro da sua inocência de anjo.
Deus te abençoe, minha filha.
(Crônica publicada em fevereiro de 1956 em jornal. Está também no livro Autogeografia lançado em 1965)