Poesia no Hospital da Criança

Na sexta-feira o Movimento Poesia na Boca da Noite estendeu o Pano da Poesia no Hospital da Criança fazendo a festa natalina dos pequeninos ali internados e seus acompanhantes. Juntos com a gente médicos, enfermeiros, nutricionistas, crianças internadas e acompanhantes dessas crianças declamaram poesias, brincaram de roda, riram, esqueceram a dor, as agulhadas das injeções, o gostinho amargo dos remédios e se divertiram a valer. “Todos aqui estão se divertindo muito e nós, adultos, voltamos a ser crianças”, disse a enfermeira Olinda, diretora do Hospital. Para fazer a festa, distribuímos poesias, bolhas de sabão, brinquedos e origamis natalinos, contamos histórias, cantamos e dançamos juntos. Teve até número de mágica e a historinha do “Lourenço” (uma brincadeira que o Raule faz com um lenço).
A emoção tomou conta de todos e para que você, leitor do blog, sinta um pouco desta emoção leia este texto do César Bernardo de Souza e logo abaixo do texto veja as fotos:

O Poesia na Boca da Noite voltou ao Hospital de Pediatria para mais um encontro com as crianças internadas ali. Levou poesia de criança e brincadeiras de adultos para as crianças. Dessa vez fui lá, com nó na garganta e lágrimas nos olhos permaneci  lá.

Quando cheguei olhei para o andar superior do hospital e vi atrás de pequena abertura da vidraça da janela uma mãe tendo ao colo uma criança parecendo de meses.

 Ela assistia o que se passava embaixo e expressava-se aflita, como que a traduzir para o bebê o que ela ouvia e via. Sem perdê-la de vista fui chegando para encontrar na “árvore” da poesia o “meu” poema, ao acaso.

Dizia o poetinha (9 anos) Asaf Assunção:

“Existem borboletas de varias cores,
Brancas, azuis, amarelas, verdes, pretas…
Todas elas brincam na luz
E todas tem lindas asas
Com formatos diferentes
Elas voam livremente
Formando arco-iris
No imenso céu azul
Da minha janela eu avisto um tão bela
Que passa agora por mim”.

Depois quis me integrar, como ajuda veio-me ao colo espontaneamente um das menores crianças da turma presente na tenda da poesia. Nada disse. Vasculhou meu bolso e dele tirou meus óculos, não gostou e à conta tomou-me das mãos o telefone celular.

O encanto do garotinho se deteve no modo fotografia, em cuja tela ele via outras crianças.

Enquanto isso crianças se enfileirava para declamar para as outras acomodadas para ouvir. Um encanto total: crianças mostrando poesia a crianças. Mas, encanto dos encantos: avós recitaram poesias para os seus netos internados no hospital – duas delas se apresentaram sobre o pano da poesia.

Rapidamente os tons da noite tomaram conta do ambiente, outra lembrança não me trouxe que não fosse correr novamente a vista para a janela onde vi na chegada a mãe e o bebê.  Continuavam lá.

Foi então que dei com os olhos na mamãe e neném indígenas, a curiosidade e o embevecimento do curuminzinho não deixava pensar que estivesse tão doente assim. Ele queria poesia, puxava a mãe pela saia.

Fui a elas, a mamãe índia se chama Kanaiu Waiãpi, a criança me foi apresentada por seu nome “de guerra”, mas ante a minha incapacidade de compreender o que a mãe dizia ficou-me o nome civil: Dário Waiãpi.

Está internado por causa de malária, Kanaiu não tem esperança de que seu neném vá ter alta até o Natal.

Minha neta estava comigo, nas cadeiras do fundo ela acompanhava a festa com visível surpresa. Não me disse, mas adivinhei que descobria naqueles momentos a extensão do Poesia na Boca da Noite. As mágicas que iam sendo feitas, as brincadeiras inventadas pelos poetas “palhaços”, as encenações a foram encantando.

Não deixei que nossos olhares se cruzassem em momento algum porque assim, creio, evitaria que percebesse que rezava agradecendo a Deus por ela cheia de saúde em meio a tantas crianças esperando autorização daquele hospital para voltarem ser apenas criança.

 Médicas e Enfermeiras também declamaram poesias para seus pacientes mirins

Chegando a minha hora de recolhimento fui ao encontro da Alcinéa, um pouco afastada do palco dos acontecimentos – espairecia rendida a tantas emoções.

Chamei-lhe a atenção para a janela do andar superior do hospital, a mãe ainda tinha seu bebê ao colo, continua lá… quem sabe compondo uma poesia para seu bebê.!?”


  • Foi realmenta maravilhosa a sexta-ta feira com poesia no hospital com nossos pequeninhos. Cesar seu texto me emocionou, vocë expressou o nosso sentir cada vez que vamos a pediatria, a poesia e o amor ajudam na saúde de nossa alma e corpo. Obrigada César por compartilhar conosco esta magia. Beijos…

    • Você está em todas, hein! Parabéns! Sinto saudades de Macapá. Ao contrário do que se pensa, a vida cultural da cidade é muito intensa. Ainda vou declamar “O Velho Mestre” ou “Monólogo das Mãos” num desses encontros.

  • A diferença entre esse grupo poético e outros além do talento é que vocês vão onde se precisa de poesia enquanto os outros vão onde tem cachê, jabá, bufunfa.

  • Quero parabenizar o grupo de Poesia na Boca da Noite e dizer que nunca vi um trabalho tão grandioso e lindo como esse que vocês fazem. Vocês respiram, transpiram, vivem poesia e amor.
    Talvez vocês não tenham nem noção da grandiosidade do que vocês fazem e imagino que não deve ser fácil, imagino o quanto vocês dispoem de seus preciosos tempos e recursos financeiros para fazer tudo isso voluntariamente. Vocês são a prova do compromisso com a poesia, com a cultura e com a sociedade.
    Obrigado por vocês existirem e compartilharem seus talentos e amor. Vocês são grandes e muito importantes para o crescimento cultural do Amapá. O talento de vocês é inquestionável e isto é muito bom numa terra numa terra tão carente de bons poetas.
    Parabéns a todos e aproveito para desejar a todos vocês um feliz natal e um próspero ano novo.

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