Um belo poema de Luiz Jorge Ferreira

De pleno acordo.
Qualquer dia desses esqueço meu coração!
Luiz Jorge Ferreira*

Qualquer dia desses esqueço meu coração
…em uma gaveta da cômoda.
Em dobras redobradas de
uma fronha.
Em uma frase , tipo ‘ as paralelas dos pneus
n’agua das chuvas são duas retas em que foges’…
Belchior me disse um dia em que chutei as bolas de cima do palco em que ele fazia um Show em Belém… fugir é procurar voltar…
E a água da chuva, repleta de rugas, estranhamente estranha com um perfume de Dama da Noite, sem beliscão ou açoite, fingia fugir de mim também.

De pleno acordo… silencio os acordes que são uníssonos com as batidas do meu coração que fingem ultrapassar as barreiras das recordações, e as salgam sem ter medo de altura e aviões…
Eu sou não mais um rapaz Americano Latino, nem ladino, nem concursado com a ajuda de importantes parentes, distribuídos aleatoriamente pelos corredores do poder, ou no plano Planalto, ou nas dobras verticais ao Equador, paralelas também pátio do Colégio Amapaense, onde aprendi Parábolas, Reticências e Triângulos Obtusos e Esferas Quadriculadas , sob um Sol Latino Americano.
Sou uma ave anômala sob estranhas penas que apenas tu tens penas do que sinto um pouco pouco de ser um louco olhando de viés.
…para as tóxicas toiças de papel, onde talvez tenha amarrado meu coração que toda a semana se arranha, se esfrega, se espreme, se esmaga por essa caminhada chamada vida.
E eu fujo de tudo fingindo ter chegado.
E ao meu lado atordoado entre flores e pecados…
Meu coração repuxando o passado a todo custo.
Dança a imberbe consigo mesmo.
Parece estranho…’mas se um dia eu chegar muito louco’…
De pleno acordo… acordo os acordes, e para ‘não ser infeliz sozinho ‘
Qualquer dia desses esqueço meu coração, trabalhador…vagabundo!
Em uma gaveta ruída pelo tempo, fora nem dentro, abandonado ao relento…
Qualquer dia desses dias, de pleno desacordo com o acordo, meu coração esqueço, e adormeço em vão,como quem se presta a se esquecer de novo.
Em pleno acordo de não ser infeliz sozinho.

*Luiz Jorge Ferreira é poeta, cronista, contista, escritor e médico. Tem vários livros publicados e faz parte  da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames). Nasceu no Pará, mas viveu a infância e juventude em Macapá. Há muitos anos reside em São Paulo.

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