Um poema de Álvaro da Cunha

Segredo
Álvaro da Cunha

O Verso é apenas uma forma
pálida e imprecisa.
Não diz do intraduzível sentimento,
da realidade latente e obsessiva,
do espírito intangível,
irrevelado e esquivo que há em mim.

Ninguém se iluda:
Sou um misto de êxito e desordem.
Conheço o receio da palavra
e a indecisão do gesto.

Dos apetites rudes,
clamorosos,
do meu corpo,
da volúpia sofrida e revoltada,
do meu sensualismo pela vida,
da ternura que anda em minha alma,
eu não diria nada.

O Verso é apenas uma forma
pálida e imprecisa.

(Extraído da Antologia Modernos Poetas do Amapá – 1960)

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