Artigo

O jogo da sombra e da luz
Manoel Ribeiro*

O que me atrai nas disputas políticas amapaenses são as movimentações pré eleitorais. É fascinante ver como esse jogo, delicado e altamente estratégico, é jogado à luz ou à sombras do poder de voto de suas lideranças políticas. Qualquer vacilo pode ser desastroso para as jogadas subsequentes e colocar em xeque a permanência ou não do candidato na disputa eleitoral e até mesmo no cenário político local.

O tabuleiro onde o jogo se desenrola influi pouco ou quase nada no mapa político nacional, apesar de termos por aqui nomes que têm o respeito das principais lideranças da política brasileira. Esse desenho conjuntural impõe, a certas forças políticas, movimentações, que de certa forma, podem ser difíceis de ser compreendidas. Então é preciso se distanciar das paixões ou simpatias para poder enxergar e ler as entrelinhas que se formam a medida em que as peças se firmam no tabuleiro.

E é nessa perspectiva, ao passo que vai se fechando os acordos pré-eleitorais, que surgem as coligações, que ao meu ver, nesse processo em particular, não refletem nenhum caráter ideológico e reafirma o fascínio desse jogo que é uma mistura de truco e xadrez, onde as peças são claras e nítidas, mas as intenções de alguns jogadores são dificeis de antever, ou faceis demais.

Colocando as peças.

As peças do jogo político amapaense são bem conhecidas, e quem as manipulas também.

De um mesmo lado do tabuleiro temos os representantes da “direita clássica”:

O Dr. Pedro Paulo (atual governador), tentando unificar as forças que compuseram os oito  anos do governo Waldez para que possa dar continuidade ao projeto de poder deste grupo. E Jorge Amanajás, que de certa forma, por mais que encontre-se momentaneamente em atrito com o governo do estado, também reflete a continuidade desse projeto político.

Entre os dois estão as previsões dos oráculos, cartomantes e analistas políticos que dizem serem mínimas as possibilidades dessas duas candidaturas passarem juntas para o segundo turno. Mas ninguém se arrisca a dizer quem fica ou quem continua no jogo.

Do outro lado, duas candidaturas que se propõe disputar o espaço da oposição: Lucas Barreto e Camilo Capiberibe. Duas grandes lideranças, dois jogadores que não jogam sozinhos, mas que ainda não jogaram juntos.

Nas eleições de 2008, Lucas Barreto correu por fora e se manteve, estrategicamente fora da disputa entre Camilo e Roberto Góes, no segundo turno. Algumas pesquisas de intenções de voto mostram que ele está bem diante do eleitorado, o que demonstra que ele saiu daquelas eleições com um patrimônio político bem expressivo. A quem diga que ele é mais um braço do octopus Sarney. Mas se ele é braço do homem, por que disse xô ao PMDB quando este partido lhe ofereceu apoio?

E logo depois declarou apoio a pré-candidatura de Randolfe ao Senado, reforçando ainda mais sua imagem independência política e sua disposição em disputar o espaço da oposição no tabuleiro político do Amapá. Lucas tenta aproximar partidos independentes que estiveram fora da base de apoio do atual governo, entre eles o PSOL.

Na outra parte da disputa dos votos da oposição está o PSB de Camilo Capiberibe, que recentemente conseguiu o apoio do PT, partido que esteve oito anos na base do governo Waldez. O PT tem como aliado nacional o PMDB de José Sarney que indicou o vice de Dilma. E mesmo assim a maioria das lideranças e militância do PT, incluindo a Dalva, relutam em deixar os cargos do governo e quer se atirar aos braços abertos de Pedro Paulo.

Mesmo com todo o esforço de setores do PSB em justificar e tentar transformar a chamada “Frente Popular” (PSB/PT) em uma força de oposição, os fatos mostram que essa coligação, assim como as outras movimentações são puramente pragmáticas. Neste caso em especial, a ordem número um é a eleição de Capi ao Senado e todos os acordos com o PT giraram em torno dessa pauta. Se é assim vale o jogo, porque Capi é peça fundamental e merece ser preservada no tabuleiro, tanto quanto Randolfe.

Nesse contexto o PSOL, que sem espaço político, que teve a candidatura de Randolfe ao Senado rejeitada pela “Frente Popular”, parte também para uma posição pragmática e avalia a possibilidade, que parece ser a mais certa para a tática eleitoral do PSOL, de apoiar a candidatura de Lucas Barreto. E assim alcançar seu objetivo no jogo, eleger Randolfe ao Senado e Clécio à Câmara de Deputados.

Assim, as forças políticas da oposição deixam de lado suas paixões e partem para composições mais pragmáticas, diferente do que foi a eleição de 2008. É pagar pra ver e torcer para que dê certo pro povo amapaense.

* Manoel Ribeiro é publicitário

  • Sim, mais pragmáticas e menos, bem menos programáticas!!!
    O PSOL mostra sua verdadeira estratégia. Só espero que não venham com aquela conversa de que representam uma alternativa classista e socialista, por favor!!!

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