Artigo dominical

A semeadura
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

– O que devo fazer? – perguntou o discípulo ao mestre.
-Vai, semeia um ato de bondade, colherás um costume.

Depois de algum tempo o aluno voltou.

– E agora o que devo fazer?
-Vai, semeia um costume, colherás um caráter.

Mais uma vez, depois de mais um tempo, o jovem voltou:

– O que resta ainda para fazer? – perguntou.
– Semeia o caráter – respondeu o mestre – colherás um destino!

A imagem da semente e dos frutos que dela nascem é, com certeza, uma das mais belas e compreensíveis comparações que podemos utilizar para entender, muito além dos processos da natureza, a própria realidade da vida humana. É fácil dizer que somos “eternos aprendizes”, no entanto, nem sempre sabemos aproveitar das lições da vida. O que fica mesmo dos conselhos, dos exemplos, bons e maus, que recebemos desde a nossa infância? Muito? Pouco? Nada? Quando, porém, temos a sabedoria de aprender com erros e caídas, como também com conquistas e descobertas, tudo isso entra a fazer parte da nossa vida, se torna um “patrimônio”, a nossa identidade de homens e mulheres em constante construção. Se a nossa vida não fosse esta sucessão de acertos e desacertos, avanços e recuos, seria, provavelmente, uma grande chatice; assim ensinam os mestres do pensamento humano. Em razão de tudo isso, é importante, vez por outra, parar para ver se o que foi semeado de conhecimento, convivência, encontros e desencontros, produziu frutos cada vez melhores. Crescemos, humanamente falando, ou não? Construímos saber, convicções, caráter? Ou vivemos à mercê das modas, dos aplausos, do brilho de outros?

Com o evangelho deste domingo, começamos a leitura do capítulo 13 do evangelho de Mateus, conhecido como o “discurso em parábolas”. O início é, ele mesmo, uma parábola que abre o horizonte das sucessivas. Simplesmente porque explica a missão de Jesus, semeador da palavra, enviado para revelar os “mistérios” e a dinâmica do Reino. Com efeito, as parábolas sucessivas começam com as palavras: o Reino do céu é semelhante a… Assim podemos dizer que o Reino de Deus, representado ao vivo pelo próprio Jesus, é ao mesmo tempo o anúncio, porque ele, o Senhor, deve ser acolhido como a novidade transformadora, mas é, também, a semente que, se encontrar um terreno generoso e fecundo, produz, aos poucos, os seus frutos. Por isso, declara Jesus, são felizes aqueles que têm olhos para perceber a presença do Reino e ouvidos para escutar a palavra semeada. Muitos profetas e justos desejaram ver e ouvir o que os discípulos estão vendo e ouvindo, mas não foi possível. Um convite claro a não desperdiçar a semente agora semeada com tamanha visibilidade e fartura.

Aquelas palavras ecoam também hoje para nós cristãos e para todas as pessoas de boa vontade. Qualquer ser humano pode ser o bom terreno para produzir frutos de amor, de justiça e de paz em abundância, na condição de não se deixar distrair, nesta obra, por outras propostas aparentemente mais atrativas, mas, afinal, sufocantes e capazes de ressecar qualquer coração. As parábolas sucessivas, neste mesmo capítulo, irão explicar que, na construção do Reino, precisará ter paciência, perseverança e muita coragem para escolher o que vale mais e deixar o que vale menos. No entanto o objetivo continua aquele de produzir frutos bons, porque este é o sinal evidente que a semente também foi de primeira qualidade. Vejam a responsabilidade e a missão que temos como cristãos: não somente devemos ser o bom terreno onde a semente produz cem, sessenta, trinta por um, mas também, provar, com isso, a força e o valor da Palavra semeada.

Infelizmente, a escassez de frutos deixa a suspeita da má qualidade daquilo que foi semeado. Mais uma vez, cabe a nós, em primeiro lugar, estarmos convencidos da bondade da proposta do Reino e acolhê-la com alegria, entusiasmo e disponibilidade. Assim, a pequena semente crescerá viçosa. Tudo começa com um ato de bondade, se tornará um costume, mais tarde será um caráter, enfim construirá um destino, uma meta: o Reino de Deus.

  • Esta mensagem, fez-me refletir , sobre a forma como estamos vivendo, ou melhor, se somos um fruto, no qual será germinado e se transformará numa árvore florida , onde irá multiplicar seus frutos para as futuras gerações. Frutos estes capazes de levar a mensagem do Reino de Deus.

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