Artigo dominical

Vou furar a sua mão
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 Uma avó muito pobre criava um neto que tinha ficado órfão. Com o passar dos anos descobriu, horrorizada, que o rapazinho tinha o costume de roubar. Era um pequeno ladrão. Conselhos, sermões, súplicas e castigos já não serviam mais para nada; o pequeno estava acostumado no vício. Uma noite, a avó, não tendo mais a quem recorrer, ameaçou o neto com uma aterrorizante punição:

– Está vendo este ferro com o qual mexemos nas brasas da lareira? Se você roubar de novo, quando ele ficar vermelho, eu vou furar a sua mão!

– O menino não acreditou naquela ameaça e continuou a roubar. As denúncias chegaram aos ouvidos da pobre idosa. Assim, logo que o rapaz chegou a casa, arrastou-o até a frente das brasas onde o ferro já estava esquentando. O neto ficou pasmado, não queria acreditar no que estava acontecendo. A avó, com todas as suas forças, segurou-lhe a mão, depois pegou o ferro já vermelho e… transpassou a mão dela. Hoje, o rapaz é um homem. É alguém que não rouba mais. Se tivesse que meter a mão nos objetos dos outros, preferiria antes queimá-la.

Uma história triste e ao mesmo tempo surpreendente. Um amor muito grande pode chegar a um extremo deste. Até dar a própria vida para salvar a vida de outros.

Chegando ao final do tempo pascal com as solenidades de Ascensão e Pentecostes nós entendemos que Jesus cumpriu até o fim a sua missão. Deu tudo, amou-nos até o fim. O perigo é sempre aquele esquecer ou deixar por menos o que ele fez por nós todos. Deixou-nos o mandamento do amor; disse-nos para nos amarmos como ele nos amou. No entanto, mais do que as palavras vale o exemplo. Sem a cruz, Jesus poderia ser um dos muitos sábios religiosos ou pensadores que apareceram e sempre vão aparecer na história da humanidade. Sem a ressurreição também poderia acabar tudo no silêncio de um túmulo. Morte e ressurreição sempre serão um só, único e grande mistério da vida de Jesus. Salvador e Redentor, para os que acreditam; um caso simplesmente fantasioso ou inexplicável para os céticos de plantão.

Como último dom dele e do Pai, Jesus prometeu e enviou o Espírito Santo para sempre lembrar e entender o que ele fez e ensinou. O Espírito realiza a promessa do Senhor de não nos deixar órfãos, desamparados, esquecidos (Jo 14,18). O Espírito não é, porém, uma memória cristalizada uma vez por todas. A boa notícia do evangelho é uma palavra viva. O Espírito vai ajudar a lembrar de tudo o que Jesus fez e ensinou para que ele continue falando e caminhando junto aos homens e às mulheres de hoje, como fez no passado e fará no futuro. É por isso que os apóstolos não puderam ficar parados olhando para o céu; eles espalharam-se pelo mundo para comunicar a todos quanto grande é o amor, a misericórdia e a fidelidade de Deus. Somente assim a proposta de Jesus é e será colocada sempre ao alcance de todos. Todas as gerações dos homens que buscam a verdade, que estão com fome e sede de justiça, que são chamados construtores de paz, poderão conhecer e confrontar-se com Jesus, com a sua mensagem e o seu exemplo.

Alguns ficarão incomodados, outros continuarão incrédulos, mas muitos se tornarão, por sua vez, discípulos e testemunhas do profeta crucificado, o Filho de Deus, rosto humano do Pai. Enquanto alguns, poucos ou muitos, se deixarem “ferir” e marcar pelo fogo do Espírito Santo a missão está garantida. São feridas e marcas do amor divino, como tantos cristãos e cristãs experimentaram e ainda experimentam.

São chagas doloridas, mas saudáveis. Ferimentos de bondade e de sacrifício. Falando de Cristo, São Pedro escreve: “Por suas feridas fostes curados. Andáveis desgarrados como ovelhas, mas agora voltastes ao pastor e protetor da vossa vida” (1 Pd 2,24-25). Tenho certeza que ainda hoje muitas mães sofrem por causa dos erros dos seus filhos. Choram e definham. Mas nunca perdem o amor. Pena que alguns filhos  entendam isso tarde demais.

  • Já imaginou se toda vovozinha de certos políticos do Brasil e em especial do estado do Amapá fizessem isso ?
    Teríamos muita gente com a mão furada !
    Bom dia e fica ai a historinha do nosso Bispo !

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