“Istórias” de pescarias – Parte II
Milton Sapiranga Barbosa
Já disse aqui, que desde gi-ti-ti-to sou amante de uma boa pescaria de barranco. Posso afirmar, sem falsa modéstia, que de posse de um caniço, seja de bambu, pau ferro ou lamucí, faço misérias na beira de um rio, lagoa ou igarapé. Meu aprendizado apresenta o seguinte currículo: fiz o jardim da infância no igarapé da olaria, a alfabetização inferior e a superior nas pedrinhas; o primário, exame de admissão, colegial e ginasial no Igarapé da Fortaleza (hoje Gruta) e concluí 4 anos de faculdade na Lagoa dos Índios, onde passei a dar aulas de como fisgar uéua, pratinha, dente-de-cão, acarará, matupiri, tucunaré e jacundá, durante mais de 15 anos.
Depois saí por aí, mostrando minha arte com um caniço nas mãos pelos igarapés, rios e lagos, nas Cutias, Palma 1 e 2, Maruanum, Pirativa, Igarapé do Lago, Ajudante, Pacoval, Curiaú, Pedreira do Abacate, Santo Antônio da Pedreira, Bonito, Aporema, Vila Nova, Anauerapucu, Curicaca, São José do Tucunaré, Macacoari, Flexal, Bacuri, Las Palmas, Araguary, etc, etc…
Na maioria desses locais de pesca, tinha como companheiro fiel, o Raimundo Pequilo Góes de Almeida, filho do sr. Nilo Feitosa de Almeida e dona Amália Góes de Almeida, e irmão do Bento, Zé Góes, Isabel, Cecília, Valda, Nazaré e Selma. No bairro da Favela era mais conhecido pelo apelido de MUCURA. Era baixinho, passando de anão um palmo (plagiando o Miltão no depoimento da CPI do narcotráfico).
Esse meu amigo e fiel escudeiro, foi o pescador mais sortudo que conheci na vida. Uma das regras da pescaria com parceiros, é que não importa quem pega mais peixes. Se um pesca 40 e outro só 2, a divisão é sempre meio a meio, mas tem como parágrafo único: quem pegar o maior peixe leva. Nesse quesito, o Mucura era imbatível. Fosse onde fosse, ele sempre fisgava o maior e caía de gozação em cima dos parceiros. Ele aliava sorte e criatividade nas pescarias, como vocês verão a seguir.
Um dia chegamos cedo, por volta de 6 horas da manhã na Lagoa dos Índios e não levamos ferramenta para cavar atrás das minhocas e não tinha ninguém para emprestar um terçado ou mesmo umas iscas para começarmos a pescar. Como tinha sido dele a idéia de não levar enxada, perguntei: E agora? Como vamos pescar? E ele, na maior calma do mundo, pegou uma vara, amarrou um pedaço de linha 0,20 e na ponta desta um anzol mosca sem chumbada. Eu do lado só olhando para ver o que ele ia aprontar. Ato seguinte, ele introduziu o dedo mindinho numa das cavidades do nariz, fez uma bolinha de meleca, iscou e zás, pegou um pirantã (joão duro), um peixinho esverdeado, comum em rios, lagos e igarapés da Amazônia. Nesse dia, por incrível que pareça, foi o dia que pegamos a maior quantidade de peixes na Lagoa dos Índios, graças a sorte, criatividade do meu amigo Mucura. Ah sim! Como de praxe, o maior peixe, um tucunaré, foi ele quem pegou e veio zoando o amigo no caminho de volta até sua casa. Uma semana depois da pescaria da meleca, marcamos uma outra, que seria numa terça-feira, mas que não chegou a ser realizada.
No dia marcado, fui acordado duas vezes com pancadas na porta de casa e nas duas vezes a mulher me chamou dizendo que era o Mucura. Ia olhar e não tinha ninguém. Na terceira vez, já de pé, pronto para ir buscar meu parceiro, deparei com meu vizinho Geraldo Galvão( o Galo), que chorando muito me deu a notícia: “O Mucura morreu de madrugada no Pronto Socorro”. O baque foi doído em todos nós que adorávamos aquele baixinho sortudo, que antes de partir, tentou avisar o amigo que a pescaria estava cancelada. . E foi em homenagem ao inesquecível amigo, que passei a colocar Sapiranga (apelido dado por ele) em minha assinatura.
Esse é o time do Favelão. Os caras eram bons de bola e de pescaria.
Quem identifica aí o Mucura, o Galo e o Sapiranga?
6 Comentários para "As pescarias do Sapiranga"
Time do Favelão no Torneio Jotistão: Em pé, Edir, José, Alceu, Zé Góes, Mucura, Galo, Ruy Apolônio e eu de técnico: agachados: Cutia, Aluízio Cuiú, Carrapeta, Caramuru e Lito. Do elenco também faziam parte: Moacir, Wálter Damasceno, Bilica, Bento Góes.
Sobre a foto, o querido Mucura é o quinto em pé e vc o ultimo em pé.
Ola Milto, além de otimo pescador nosso amigo mucura, era um bom jogador de futebol, lembra daquele time bom que nos tinhamos…
By amigo vc foi muito feliz nessa singela homenagem ao Mucura.
É verdade Ribamar. Nosso time era mesmo afiado, do goleiro ao ponta esquerda. Dos atuais boleiros que tenho visto por aqui, nenhum, mas nenhum mesmo, sem falsa modéstia, formava no nosso time. O mucura também era bom de desenho, de baladeira, de peteca e fabrica móveis de sala como ninguém. Era um grande amigo, ou melhor, um irmão e estava merecendo mais esta homenagem, já que o Alceu Filho, na sua primeira legislatura, eternizou seu nome numa avenida do bairro novo esperança.Um abração deste amigo e obrigado pelos comentários postados.
Realmente,so pra refrescar ai vai o nosso timao: Louro(Aragao), Nelsinho(salomao santana – falecido), (outro zagueiro)Alceu, Ribamar, Mucura, Milton, Rato, Ozana, Moacir Banhos. Nao tinha nada pra ninguem, no campo da FIJO, by amigo.
Certo dia em que cheguei cedo na TV, tive o prazer de escutar da boca do Sapiranga algunas “Istórias de pescaria”. E ele me contando cada uma.. hehe. Milton, parabéns meu irmão. E muuuuito bom viajar lendo as suas estórias. Pode acreditar! 🙂