AGORA PODE!
Milton Sapiranga Barbosa
Como nasce um apelido? Até hoje não apareceu nenhum estudioso que pudesse explicar, com exatidão, a origem do apelido.
Quem foi a primeira pessoa a ficar conhecida por uma alcunha?
De receber apelido nem Cristo escapou. Lembrem-se que na cruz em que Ele foi crucificado, acima de sua cabeça colocaram uma tábua onde se lia; “INRI”,-traduzindo: Jesus Cristo, o Rei dos Judeus.
Grandes figuras da história receberam apelidos, uns exaltando façanhas de guerra, atos heróicos ou de maldade, como Alexandre ( o Grande), Átila, o Huno- Flagelo de Deus ou Praga de Deus).
Existe até competição entre Cidades para saber qual é a campeã dos apelidos. Cametaenses e Vigienses, chamam, cada um para si esse título, mas ninguém se arrisca a dizer qual das duas é na verdade a cidade dos apelidos.
O meu amigo Carrapeta, cametaense da gema, sempre que nos encontramos no sábado à tarde, narra fatos hilariantes sobre como nasce um apelido. Narra ele que; “ Uma senhora, todos os dias ia para a roça e deixava sua filha em casa,, levando um sua companhia o genro e o neto. Certo dia o neto escutou gemidos roucos vindos do meio do mato, foi olhar e o que viu o deixou apavorado. Seu pai estava por cima de sua avó, que se contorcia toda. O moleque saiu então em disparada para ir avisar sua mãe que seu pai estava matando sua vovozinha. A noticia vazou e a partir daquele dia seu genitor ficou conhecido na cidade por: “ NÃO MATA A VOVÓ”.
Para defender a Vigia, lembro do saudoso amigo Suzete, pelhudo de quatro costados, que contava; “ Um juiz que fora destacado para Vigia, sabendo antecipadamente da fama da população em colocar apelidos, fez todo mundo saber que duvidava que alguém tivesse coragem de lhe apelidar. Esse juiz tinha um problema na perna direita. Dava um passo com a esquerda e puxava a direita de encontro a primeira, provocando aquele barulho de ordem unida, batendo um sapato de encontro ao outro quando o instrutor grita ALTO. Um dia ao passear pela cidade encontrou um senhor no alto de uma escada pintando e deu bom dia. No ato recebeu a resposta do velho gozador vigiense; “Bom dia seu TRANCA E CHUTA”. Era o que faltava, daquele dia em diante o Meritíssimo, passou a ser soado por todos pelo apelido de Tranca e Chuta. Os moleques gritavam e corriam, os adultos chamavam e se escondiam.. Segundo o Suzete, ele não demorou muito por lá.
Muita gente já morreu e matou por causa de um apelido. Nos meios jurídicos, dizem que durante um julgamento, o advogado pro réu, iniciou a defesa de seu cliente repetindo quatro vezes a frase; “Meritíssimo Juiz, quero dizer a Vossa Excelência e ao corpo de jurados que”. Só falava isso. Dava uma pausa e repetia: Meritíssimo…! Até que na quarta vez, o juiz irritado falou: “ Ou o senhor concluiu logo seu pensamento ou serei forçado a suspender a sessão”.
De imediato o advogado retrucou, dirigindo-se aos jurados. Vejam senhores, por apenas quatro vezes, só quatro vezes, tratei o presidente deste júri com o maior respeito, tratando-o por Vossa Excelência e ele ficou irritadíssimo.
Agora, imaginem o estado de meu cliente, que por 20 anos foi humilhado, na frente de todos, sendo chamado de Cara de Cavalo!
Os jurados, contam, absolveram o réu por unanimidade.
Quem de vocês não conhece uma pessoa apenas pelo apelido? Quem de vocês não foi apelidado ou apelidou um conhecido, de infância, escola ou trabalho?
Se alguém se declarar isento, vou custar a acreditar, até prova em contrário.
Eu, quando criança, ganhei de um amigo um apelido que me fez brigar muito, balar e apedrejar muito moleque, quando não conseguia chegar junto e partir pra briga.
O odioso apelido em questão é BUNDA DE XERIFE.
Vou logo afirmando que não tem nada de imoral e aconteceu assim: Numa manhã qualquer da semana, a turma da Favela estava reunida no vão entre a Sapataria do seu Barbosa e a Carvoaria Positiva do seu Manoel Cardoso. Por um desses acasos do destino, eu que sempre chegava na frente, fui o último a chegar no local, pois antes precisei encher com água um barril de 200 litros, pois se não o fizesse, nerusca de sair para brincar. Ao chegar junto aos meus colegas fui logo dizendo: hoje eu vou ser o Rocky Lane. Mas um outro moleque já havia se apossado do nome. Dalí em diante fui desfiando um rosário de nomes de artistas das histórias em quadrinhos e do cinema: Gene Autry, um gritava, sou eu. Búffalo Bill. Esse sou eu, dizia outro. E assim foi. Durango Kid, Flexa Ligeiro, Zorro, Tonto, Monte Hale, Bill Dinamite, Randolf Scott, Jesse James, Kid Colt, Tex Riter, Hopalong Cassidy, Roy Rogers, Cavaleiro Solitário, Cavaleiro Negro, Kid Carson. Todos esses nomes e mais alguns já haviam sido escolhidos. Até o Zorro Espadachim, no cinema interpretado por Errol Flyn, pertencia ao Isnard Lima, que possuía o uniforme completo do referido personagem.
Sem poder me apropriar do nome de um dos meus heróis, pronunciei a frase que iria me provocar muita raiva, por anos e anos. Falei em alto e bom tom: “Já que todos os artistas estão escolhidos só me resta ser o xerife!” O Lelé, que estava sentado, escorado na parede da carvoaria, e que até então se limitava a traçar riscos no chão, parou o que fazia, levantou a cabeça e pronunciou pausadamente, como que para marcar a frase: “ Tu não és nem a bunda do xerife! Foi o bastante. O apelido Bunda de Xerife pegou na hora e por causa dele briguei muito.
É que naquele tempo eu não sabia que não se deve ligar para apelido. Agindo assim não pega, mas se você se aporrinhar, aí é que a turma pega no pé pra valer.
Hoje, alguns amigos, como o Lelé, Percival, Izo, Hamilton, Haroldo Vitor e alguns mais, ainda me chamam de Milton Bunda ou Bunda de Xerife.
Bom, mas AGORA PODE. Não brigo e nem balo mais ninguém.
18 Comentários para "Crônica do Sapiranga"
GosteI do apelido “CARA AZEDA” KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
acho que é por ai mesmo , não se pode levar pra outro caminho,
ABRAÇO ” CARA AZEDA”” RSRSRSRSRS
Meu caro Milton, tenho um amigo chamado Pantaleão, dos bons tempos da Praça de Nossa Senhora da Conceição, que ganhou o apelio de “Cagão do Deserto”. Tudo porque num belo dia ele desceu o calçao e fez as “necessidades fisiologicas” sobre o monte de areia que estava na frente do quintal de um vizinho. O apelido pegou na hora. O panta ficacva p… da vida com o apelido. hehehehe.
Mestre Milton, Bons tempos aqueles em que os apelidos eram produzidos sem que o “homenageado” provocasse o Judiciário. Muitas vezes, como vc falou, resultava em carreira, susto e até em briga. Mas não passava disso. Conheço casos em que o apelidado, por ter um nome tão feio, prefere ser chamado pelo apelido. Outros casos existem em qque a “alcunha” se torna o sobrenome da pessoa. Lembro de um certo José que trabalhava no comércio de um determinado “Beto”. Aí virou “Zé do Beto”. Até ele se chamava assim.
Outro que odiava ser apelidado era um vendedor de pipocas. O pobre homem saía do sério e ficava vermelho de ódio quando a molecada do Barão o chamava de “Camarão”. Às vezes, ele largava o carrinho e corria atrás do insultante.
Esse senhor da foto é parecido com o Pedro Paulo, só que um pouco mais velho!
E por falar em apelidos, o Expedido da Cunha Ferro, conhecido como “90”, tinha um apelido no GM, do qual não me recordo. Só me lembro de que a molecada gritava o apelido e se escondia. Ele ficava “p” da vida.
Ah, lembrei-me: era “macaco”. Por que eu não sei…
Caro Amigo Roque. O Expedito Cunha Ferro, de saudosa memória, prestou relevantes servidos ao Amapá, como Chefe Escoteiro, Professor de Educação Física, Goleiro do Amapá Clube e Seleção Amapaense e como árbitro de Futebol, Basquete e Voleibol, entre outros. No futebol era conhecido por 91, mas o apelido que ele odiava e brigava pra valer, era quando alguém chamava ” Cabeça de Macaco”. Esse apelido, apenas o Savino se atrevia a chamar perto dele. Um abraço
Sr. Milton, sua crônica me fez lembrar, também, dos folclóricos “Benedita Pelada” e “Rubilota”, “Quinta-Feira” e “Belisca Lua”, cada um no seu contexto social. Que saudade guardo da inocência da minha infância!
É verdade Roque. Vc se lembra da “Copo de Açaí”, “Pinguim” , “Cinco Mil”, ” Raimunda Boi de Óculos” ” Maria Garrincha”, “do Preto Picolé”, “Carapanã de Cueca”, e do ” Mucura Carroceiro” ? Elas e Eles e muitos outros, ainda estão vivos em minha memória. Um abraço
Acho que era cabeça de macaco.
bom dia ,amei esta crônica.nos traz uma leveza.
Parabéns, seu sapiência. O tema é sempre recorrente, em qualquer reunião festiva. Sempre haverá quem apelide o semelhante. Vc tem razão: só quando a pessoa “pega corda” é que o apelido “pega”.
Olá Milton,
Todos nós na infância ganhamos apelidos, uns logo esquecidos e outros para sempre. Em casa eu era o “rato do deserto”, pois, mexia nos doces que a dona Iracema fazia para o Walter vender. Para os amigos era Rubilac e o Walter o “Nhanhã Caíca”,chamado até hoje por nós. Lembro que você ficava irritadísssimo quando alguém gritava: “Milton quiquiqui, bunda de xerife”. Mas, as irritações não passavam de baladeiradas e corridas nos que assim procediam.
Alguns apelidos de amigos: Alcione,o gajo ;Zé Levindo, o bimba; Raimundo Queiroz, o bilica;Jorginho, o mexicano.
Sds,
Que coisa mais deliciosa “Seu Sapiranga”.Há anos não ouvia mais tantos nomes de heróis passados.Que falta eles nos fazem.Hoje,na maioria das casas,só se pensa em jogos eletronicos em que,nem sempre,o “mocinho” é quem vence.Será que isso não está atrapalhando a nossa formação moral?Não sei,só sei que por causa de um lutador de “telecatch” chamado de “Nick Carter”(idolo da minha mãe) e que usava um topete tipo cascão,meu apelido até hoje é “careca” só porque mandei raspar o tal topete que minha mãe mandou o “barbeiro” fazer.Hoje damos muitas risadas disso tudo.Parabens mas nos faça um favor;Não demore tanto para escrever suas cronicas.Elas são,sempre,deliciosas.
Abraços
Oi, Mestre Milton. Que bom começar o ano com mais uma prazeroza lição, trazida do Livro da Vida Amapaense! Os apelidos são como um crachá no campo social. Algumas pessoas ganham a vida com ele (Pelé, Tostão, Carrapeta, Palito, Perereca, etc). Outros apelidos servem para mercar cruelmente os seres (quando chamam alguém de Nero, Judas, Napoleão). Mas o bacana disso tudo é a criatividade com que se alicerça um apelido: geralmente a alcunha quer dizer exatamente o oposto. Conheci algumas pessoas com essas tarjas e, ao pensar um pouco mais, caía na gargalhada.
Parabéns por mais um belo tema. Deus te abençoe sempre! Um abração do fã: Cléo Araújo.
Será q agora pode mesmo ?! E como é que o senhor se aporrinhou com o Esmailen q lhe chamou assim…rsrs bom ainda bem q eu não chamo o meu é diferenciado…”Sapi” esse é o meu! Mas eu POSSOOOOOOOOO.