S.O.S – A Lagoa dos Índios está morrendo!
Milton Sapiranga Barbosa
Creio que todos estão lembrados da crônica Raiva e Tristeza, na qual eu lamentava o descaso dos chamados órgãos competentes, criados para proteger o Meio Ambiente, Flora e Fauna, falando especificamente sobre a Lagoa dos Índios, que no meu entender, se bem cuidada e protegida, seria um dos mais bonitos cartões postais de Macapá. Enfatizando que a mesma estava completamente abandonada, cheia de lixos diversos, na sua outrora límpidas águas. Até óleo despejaram no local, matando diversas espécies de peixes, entre eles, traíra, piranha, pratinhas e uéuas.
E foi ao passar outra vez naquele logradouro, que me veio a mente as pessoas, adultas e moleques, como eu, a época, que deixaram sua marca, pela perícia na pesca ou por outra particularidade qualquer. Entre eles o “Jacaré”, que era quem ordenava a hora e o término do banho. Quem desobedecesse sofria as conseqüências. Certa vez, um desavisado, que não conhecia a Lei Jacaré, foi chegando na ponte, tirou camisa e tibum. Pra que? O Jacaré passou mão na sua zagaia, que estava sempre ao seu lado e atirou no rumo do “atrevido”. O bico do ferro central da zagaia entrou no bumbum dele, que saiu as pressas de dentro d`água em desabalada carreira, não sem antes ter aquela arma retirar de suas nádegas pelo próprio Jacaré, que simplesmente disse: “Ainda não é hora do banho”. O moleque, apavorado com o olhar feroz do seu algoz, esqueceu até a camisa em cima do corrimão da ponte.
O Jacaré era tão bravo, que sucuri, de meia boca, enrolava na perna dele e ele saía tranquilamente de dentro do lago, como se ela fosse uma sanguessuga, que tivesse presa a sua perna.
Lembrei também do Joanico, filho da dona Otávia, que morava na esquina da Leopoldo com a Cora de Carvalho (por onde será que ele anda? Soube que ele estava morando às margens do Rio Matapí e que mordido por uma cobra teve uma das pernas amputadas). Ele, Joanico, que também era bom na zagaia, um dia arpoou uma bota na Lagoa só para mostrar que ela tinha o órgão vaginal igual ao de uma mulher. Tinha até cabelos. A molecada toda foi olhar. Ele explicou que se um humano quisesse fazer as vezes do boto, morreria, se não tivesse alguém que o tirasse de cima dela. (Será? Não sei!)
Na Lagoa, que tem ligação com o Rio Amazonas através do Igarapé da Fortaleza, se podia pescar Pirapitinga, Tucunaré, Cuiú, Apaiarí, Surubim.etc, etc. Lembrei do Célio Paiva (um grande zagueiro do Juventus, filho do seu Barbosa da Sapataria), que chegava por lá só a tarde, por volta das 17 horas . Sentava à sombra de um esteio e só começava a pescar 17h45, pois era quando um imenso cardume de jacundás aparecia no local. Ele fazia a festa, grandes cambadas, pois o jacundá é um dos peixes mais fácies de fisgar, pois o mesmo engole a isca com uma voracidade incrível. Ele não errava um.
Tinha também o Sabará (outro craque que jogou no Juventus, São José e Paissandu), que preferia pescar dentro da lagoa, ao que ele apelidou de pescaria “ cabecinha no fundo. É que ele ficava dentro do lago com água pelo pescoço, daí o nome que ele empregava para sua maneira de pescar.
Lembrei do velho e bom preto “Seu Gonzaga”, pescando em sua canoa no meio do aningal, pitando um “porronca” cigarro feito com fumo de rolo -tabaco puro- e, sempre que eu e o Deodato, o Dudu, perguntávamos se estava batendo bem “pratinha” (peixe da família do pacu) naquele ponto ele dizia: “meu filho tá, mas é na miúda, na miúda, na miúda”. Como nós já havíamos descoberto seu truque, sabíamos que ele estava pegando só pratinha graúda, que chamávamos de “pires”, devido seu tamanho se parecer com o parceiro da xícara, e íamos para perto dele e também passávamos a puxar só pratinha graúda. Ele ficava carrancudo, mas nós nem aí, fazíamos a festa.
Ali fiz grandes amizades que perduram até hoje. Como homenagem listo alguns : o Dmoá,

Clóvis, Wálter Damasceno, os irmãos Miranda Maia (Wálter, Ruy, Antonio, Paulo, Pires), os Irmãos Lemos (Romeu, Ceará, Picolé), os irmãos Queiroz do Couto (Dudu, Bilica, Chico e Jorge), Bené Valadares, Catara, Lucide, Luciberto, Chope, Chico Almeida e seu irmão Jorge , Galo, Carrapeta, João Dutra, Manduca, Alcides etc.etc… Apesar das boas recordações, constatei, que apesar de ter mostrado em rede mundial minha revolta, raiva e tristeza, nada, nadica mesmo de nada, foi feito para tentar salvar a Lagoa dos Índios, que a cada dia que passa, vai morrendo aos poucos, infelizmente.
Cadê Ibama, Sema, Semam, Polícia Ambiental? Não deixem a Lagoa morrer. Por favor, ajam enquanto é tempo. Salvem a Lagoa dos Índios, pelo amor de Deus!
P.S. Quero convocar os amigos listados acima, para formarmos um mutirão e marcarmos um dia na semana, para realizarmos uma limpeza no local, para ver se as autoridades (in) competentes criam vergonha e passam a dar uma melhor atenção a Lagoa dos Índios.
24 Comentários para "Crônica do Sapiranga"
Milton Sapiranga. Conte comigo para essa missão, pois ainda há tempo de salvarmos boa parte daquele suntuário ecológico e tenho certeza que muitos, do nosso tempo, e de agora, se engajarão na empreitada.Abraços.
O Sapiranga é um presente do blog, adoro. Dispensa qualquer comentário, é show!
Nossa que legal… Vendo essa foto do meu pai (Antônio Maia) e meu tio Rui Maia e o assunto “lagoa” me lembro bem o primeiro peixinho que pesquei com ele lah…rsrs chamavam de #pratinha n sei bem qual eh mas foi muito divertidooo recordação que guardo p mim de uma maneira incondicional \o/
oi samantha! vc esqueceu de mencionar seu tio mais velho, o Wálter Maia, o Caíta, que também está na foto, a direita da mesma. Um abraço à família.
Caro Sapiranga, estou retornando a terrinha após estada em Natal e Fortaleza e fiz comentário com um amigo em natal, que estou louco pra voltar pra casa, moro no bairro Marabaixo e todos os dias passo pela lagoa e ainda me emociono de vê-la verde e exuberante, mas só no período de chuva pois no inverno ela vira roça são focos de fogo todos os dias, e essa prática é voltada para a caça de tatu e perema
Sapiranga, voce mexe fundo. São tantas vivencias que relembras, cujas nos faz voltar ao tempo de menino. Alugáva-mos bicicleta no Chiquinho ou Zeca curupira e matáva-mos aula no Barão para pedelar na estrada de piçarra e deliciar-se com um belo banho na Lagôa dos Indios. Quando ia-mos tudo bem, mas na volta, contra o vento forte de maré de enchente, e hora pra chegar, era brabo. Valia à pena. Falamos em nosso livro que a Logôa dos Índios, era o delta do Igarapé da Fortaleza, onde até bôtos apareciam, além dos cardumes de peixes que vc sita com propriedade. Ficávamos lá na Serraria, no bôca do Igarapé da Fortaleza(não havia ponte) e mimavamos a beleza espetacular que a natureza nos propiciava nas enchentes e vazantes do lindo estuário. Destruiram…Destruiram… é só saudade!!!
Estou longe, mas sou solidário a essa legítima causa.
Caro Milton, é certo que interessa aos especuladores o aterro da lagoa. Sei que existe um morador nobre, e será que do interesse dele fazer alguma coisa para salvar o belo loca? Tenho boas lembranças da lagoa, lugar de água cristalina e de muito peixe.Fez parte da minha infância.
Belas lembranças. Topo ir ao evento. Pode contra comigo.
Abs
Alcione
Sobre a Lagoa dos Índios um fato a comentar. Certa vez caminhando por aquele local acompanhei uma equipe de reportagem abordando um ancião com sua varinha de pescar:
– O senhor sabe que é proibido a pesca aqui na Lagoa dos Índios, como diz aquela placa logo ali – perguntou o repórte apontando em direção a uma placa um pouco escondida pelo mato e bastante desgastada pela intempérie do tempo.
– Sim meu jovem, eu sei. – respondeu de bate-pronto o ancião.
– Ê mesmo assim tá pescando? – rebateu o insistente repórter.
– Meu jovem, se voce me der cinco paus (R$ 5,oo) agora pra eu comprar pelomenos um quilo de picadinho pra dar de comer pra minha velha e meus filhos, eu largo essa linha agora mesmo.
O repórte ficou sem ação, seu cinegrafista caiu na rizada.
Caminho todo dia pela Duca Serra e não deixo de parar pelomenos cinco minutos na Lagoa para admirar sua beleza e respirar ar puro, as vezes até sentir a neblina bem de manhã cedo. Sempre deparo com varias pessoas pescando no local. Na minha opinião acho que não há nenhum problema, desde que seja para subsistencia, como foi o caso do velhinho da repórtagem. Porém atualmente vejo varias pessoas com certo poder aquisitivo pararem suas pick-ups, pularem n’água munidos de arpões e outros apetrechos e voltarem cheios de tucunarés (só uma vez contei treze)como a exibir troféus, enquanto o pobre pescador pena pra pegar cará para garantir a “boia” do dia. Acho isso um crime contra a natureza que tem que ser combatido. Cadê a policia ambiental?
É um crime contra a natureza e um prazer mórbido de destruir, de demonstrar superioridade sobre outroa seres, como o ato praticado pelo tal Joanico, citado pelo Mestre Sapiranga em sua crônica.
Gostaria de entender como uma pessoa que diz crer em Deus, que se declara cristã pode praticar atos dessa natureza, sem qualquer remorso.
Concordo com você, quando defende a exploração da natureza para a subsistência, como é o caso do homem que pesca para sustentar a sua família. No entanto, acho um absurdo o cara estar com a geladeira cheia de mantimentos e sair para pescar.
Tem até uma música que trata disso: “tá nervoso, vai pescar”. Em outras palavras, induz o psicopata a buscar na destruição da natureza uma forma de extravasar suas frustrações, suas amarguras, sua natureza depressiva. O que os peixes têm a ver com os problemas dos homens?
Certa vez vi uma cena que até hoje me choca: várias canelas de veados em frente à casa do Hermínio Gurgel, na Coaracy Nunes, frutos de uma caçada. Se o cara passasse forme, eu me calaria, mas garanto que a São Paulo Saldos lhe proporcionava uma excelente qualidade de vida, pelo menos em termos de abastecimento.
Por isso costumo dizer que Deus criou o Céu e a Terra em 5 dias, e no 6º dia criou um ser à sua imagem e semelhança para destruir tudo o que ele havia criado antes.
Oi, Roque. Brilhante observação. Também sou pescador amador, mas só uso linha de mão e molinete. Fico triste com os mergulhadores, pois “balam” qualquer coisa. Parece que, para estes, o importante é trazer à tona, troféus. A preservação das espécies não interessa a essas pessoas. Dá a entender que o futuro não contará com as espécimes lacustres e marinhas. Uma pena!
Seria uma maravilha se o poder público tomasse a iniciativa de fazer um balneário, parecido com o Curiaú,proporcionando lazer, para a família macapaense, principalmente as que moram próximo a Lagoa dos índios, nos bairros Alvorada, Marabaixo, Cabralzinho, etc. O povo agradece.
Quando comecei a frequentar a lagos dos Índios, a maior parte dela já estava tomada por aguapés, mururés e outras plantas aquáticas. O espaço para banho era mínimo. Isso se deve ao lançamento de material orgânico na água, rico em nutrientes, e que favorece a proliferação dessas plantas. Por outro lado, reduz a quantidade de oxgênio na água e provoca a redução dos peixes.
Infelizmente não moro em Macapá para participar desta campanha. Mesmo assim, gostaria que a Alcinéa postasse o andamento dos trabalhos.
A fama das paisagens amazônicas instigam a todos pelo mundo. A FAMA avança, sem oposição, sobre a paisagem famosa. Extendo a convocação a alunos para buscarem mais responsabilidade ambiental e menos FAMA.
Mestre Milton, parabéns pelo relato-denúncia. pois realmente estão acabando com a Lagoa. Me alio a vc e ao Ruy, no sentido de fazermos algo. Aproveitemos o espaço do blog, com permissão da embaixadora Alcinéa, para conseguirmos mais apoio e melhorarmos o que for possível.
Cangalha menor, sua sugestão é espetacular e merece ser levada adiante. O que acontece com a Lagoa é culpa do próprio poder público. Os caras vão avançando na destruição e chamados a assinar os famosos TAC. Cada metro invadido é um TAC assinado, e a Lagoa só desaparecendo. Tô nessa.
Ok, concordo plenamente que as autoridades precisam agir, mas elas estão preparadas, senhores, olhem quanto de verba essas instituições responsáveis têm, uma miséria, trabalhar com meio ambiente necessita de gente especializada, equipamentos, veículos, gestores não politiqueiros, dá uma voltinha nessas instituições, não têm computador(não tem que ser qualquer porcaria), software(nem se fala!), linkar instituições afins utopia, e por ai vai… Sem esses reais mudanças, não espere por resultados diferentes do que esses resultado de anos de irresponsabilidade! E isso se aplica a tudo… Olhem para dentro dessas instituições que vamos pq estamos como estamos…Mas…Sem esperança não dá, com pé no chão, please!
Muito legal este relato e proposta para salvar a Lagoa dos Indios. Além de reunir amigos, faz da vida boa, uma boa vida. Apesar da distância, Macapá Porto Alegre, ficarei espreitando quantos irão participar desse reencontro. Parabéns pelo texto Milton Barbosa.
http://www.saitica.blogspot.com
daniel
Prezado Milton,
Você esqueceu da folclórica figura do Batintin, que ao fisgar um peixe apelava piedosamente à Nossa Senhora que não permitisse sair do anzol e nunca era ouvido.
Tenho grandes recordações da Lagoa dos Indios, moleque da nossa época que ali não pescou não viveu a plenitude de ser moleque.
Lá pesquei um tucunaré grande que não “pegava” isca de ninguém e dei sorte, estávamos eu e o Bilica, saimos correndo de lá, pois, já estávamos com 12 uéuas e se o Jacaré chegasse fatalmente perderíamos a cambada, pois, se intitulava dono do mesmo.
Pretendo estar em Macapá após o dia 20 de maio, se ainda não tiver ocorrido o mutirão estaremos prontos para o apelo do amigo. Será um grande prazer rever os amigos e contribuir um pouco para chamada de atenção no que diz respeito à conservação da Lagoa, uma bela área de ressaca que precisa ser olhada com compromisso de futuro, tanto pelo usuário como pelo poder público.
Milton, quem sabe esta atitude possa se tornar habitual e periodicamente sa faça um mutirão não só na Lagoa dos Indios mas em todos os outros locais que a mãe natureza esteja pedindo socorro.
Um grande abraço a todos e Saudações.
Não gostaria de conviver com esse tal “Jacaré”, que direito de polícia, nem com Joanico, detentor de grande irresponsabilidade ambiental. Quando moleque, baleei um passarinho naquele xavascal que existia perto da residência do governador e até hoje o ato me pesa na consciência.
No caso da Lagoa dos Índios, sempre falei na turma do curso Gestão Ambiental que acho uma luta vã essa travada entre a natureza com o poderio econômico.
E, por isso mesmo, costumo dizer que a natureza não precisa de nada, exceto ser deixada em paz.
Eh realmente uma pena ver a Lagoa dos Indios sumindo. Quando crianças, nosso pai nos levava la. Sapiranga, a pior coisa é o interesse pessoal das pessoas que têm o poder para mudar as coisas para a melhoria do bem comum e não o fazem: politicos sem o minimo compromisso com o povo, com a terra onde vivem. Desejo sucesso ao mutirão e, sugiro que levem a imprensa com vocês, pois se aparecer alguém querendo impedir, ficara registrado. Um abraço.
querido sapiranga, vc está pensando em fazer um multirão de limpeza na lagoa, não fique pensado que vai ser fácil, por lá vai aparecer um batalhão de órgão ambientais, a ex: no final do ano um empresário começou a fazer uma grande arvore de natal para embelzar e quem sabe um cartão postal… ele foi impedido pelos chamados órgãos ambientais que depois de muita burocracia o empresário decistiu… mas não soube de nem um órgão ambiental impedindo a invasão de grandes empreendimentos em torno da lagoa…
É uma pena que a Lagoa dos índios esteja morrendo por culpa dos grandes projetos que foram implementados naquela área e o poder público parece que está “cego”. Como explicar os licenciamentos dados para grandes construções em uma área de preservação ambiental. Neste momento só Deus para socorrer aquela linda área.E PIOR AINDA NÃO FOI INVADIDA POR POBRES SEM TETOS.