Istórias de Pescaria
Milton Sapiranga Barbosa
É bom que todos atentem para o título. São istórias de pescarias (verdadeiras) e não istórias de pescador (mais ou menos verdadeiras).
Já na fase adulta de pescador, meu clã de pescaria era formado por amigos e compadres, entre eles, Cruz, Paturí, Humberto, Hamilton, Ionas, Moacir, Délio Paiva, Camarão, Alenquer, Flávio Guidão, Diógenes Elesbão e Higino Belo. Destes, os quatro últimos já foram para o andar de cima e que pelo que fizeram de bom na terra, descansam ao lado do Criador, sem a menor dúvida. Da turma toda, o Higino Pereira Belo, que nós carinhosamente chamávamos apenas por Gino, era o mais engraçado, por seu raciocínio rápido e por suas frases sem noção, principalmente quando tomavas umas boas talagadas de branquinha, rum ou de gelosa espumosa.
Gino era cheio de nove horas, criando frases e palavras que só existiam mesmo no seu imaginário, simples, ingênuo até, mas sem nunca ofender quem quer que fosse. Quando disse que estava transportando na canoa um “turuçú”, vasculhei o pai do burro, consultei tudo e até hoje não sei o significado de turuçu. (penso que seria o cruzamento de turu (larva encontrada em madeira apodrecida) com açú (que na língua indígena significa grande). Não sei, mas foi a única forma que econtrei para definir turuçu (se alguém souber o significado exato de turuçú, por favor, informe).
Agora vou contar dois causos, que vão comprovar porque o Gino era o mais engraçado da turma.
1) Certa vez, numa sexta-feira, estávamos cavando na área do aeroporto atrás de minhoca para a pescaria que seria realizada no sábado. Na busca da isca preferida por aracús e acarás, estavam eu, o Humberto Moreira, o Flávio e o Gino, nosso personagem principal desta croniqueta. Uns cavavam e outros pegavam e colocavam as minhocas dentro das latas., quando o Gino perguntou de supetão: “Ei, vocês viram ontem o enterro da morte do Pedro Campina?” Espanto geral. Ninguém entendeu bulhufas e o Flávio repetiu: “enterro da morte do Pedro Campina, Gino?” E ele: “sim, passou ontem à noite na TV”. Aí caiu a ficha, é que no dia anterior tinha sido enterrado o grande sambista e compositor da Mangueira, marido da Dona Zica, Cartola. Eu perguntei: “Não foi o enterro do Cartola?” E ele: “isso, isso, o cascola, o cascola morreu”. Por uns cinco minutos ficamos rindo e zoando o preto.
Certa vez, seguíamos no carro do Humberto Moreira rumo ao Pirativa (área de pesca, com muitos poços piscosos, localizada entre Maruanum e Igarapé do Lago, à época terra sem dono, hoje toda demarcada). Na frente iam o Humberto e o Cruz; no banco de trás, eu, Gino e Flávio. Papo vai, papo vem, o assunto girou em torno do conjunto Os Cometas, do qual Humberto e Cruz faziam parte e, inclusive, na noite anterior, haviam participado de mais uma apresentação do grupo. Durante a conversa, o Humberto disse que faltavam alguns ajustes para que a performance do conjunto ficasse ainda melhor. Aí o Cruz, que sempre se mostrava ser mais experiente, o bam-bam-bam da turma, deu seu parecer, falando: “ O que falta para Os Cometas é uma boa cobertura” Nem bem o Cruz fechou a boca, tomamos um susto quando o Gino gritou a plenos pulmões: “PARA O CARRO!” Ante a insistência do nosso amigo pedindo para parar o carro, o Humberto Moreira, diminuindo a velocidade do veículo, perguntou: “Pra que parar o carro, Gino? Nós já estamos atrasados.” Aí o Gino disse: “Para o carro e deixa eu saltar para tirar umas palhas para fazer uma cobertura pros Cometas.” Ninguém segurou o riso, nem mesmo o Cruz, que foi a vítima do raciocínio rápido do negão.
Até hoje, eu e meu compadre Humberto Moreira, estamos sempre lembrando das presepadas do nosso inesquecível amigo Higino Pereira Belo, que fiz questão de homenagear ao escrever essas mal traçadas linhas, assim como todos os demais que foram acima citados.
1 Comentário para "Sapiranga conta “istórias”"
Acho muito legal as crônicas de Sapiranga ele poderia nos prêmiar com belo livro é pura história amapaense ainda esta semana quando estive acompanhando o meu pai no consutório do Dr Cabral vi uns amigos de meu pai do tempo da ICOMI na Serra do Navio e não pude deixar de prestar atenção nas estórias de João do Roque ou Chico Roque uns dos primeiros açougueiros da cidade
Um abraço