Milton Sapiranga Barbosa, especial para o blog
A quadra onde hoje estão situados os prédios do Conservatório Aamapaense de Música, da Receita Federal, da Justiça do Trabalho e da operadora de telefonia Oi, era área pertencente a Panair do Brasil, que depois passou a ser Viação Aérea Cruzeiro do Sul. A parte da frente se estendia até as imediações onde hoje está o prédio da Camâra de Vereadores e os fundos iam até o muro da escola Princesa Isabel.
O terreno da Panair, além das torres, depósitos e oficinas, era cheio de árvores frutíferas, umas plantadas pelo seu Rocha, que morava com a família numa residência da companhia, outras eram nativas, como mameira, tucumanzeiro, mucajazeiro e um imenso jutaizeiro, que quando estava carregado de frutos, era a árvore mais procurada pelos moleques. Era sair da aula ou da pelada, íamos apanhar jutaí, subindo na árvore, jogando pau ou usando uma baladeira. Seu Rocha, que não gostava que entrássemos no terreno, costumava usar uma espingarda com cartuchos carregados de sal para espantar a molecada, mas nunca feriu ninguém. Era ele aparecer de espingarda em punho que a turma se mandava. Num belo dia (toda história tem sempre tem um belo dia), estávamos lá apanhando jutaí e o Bamba, um moleque corajoso e ágil para subir em árvores, foi até as grimpas do jutaizeiro, pois lá estavam os maiores e mais maduros frutos. Tava lá o Bamba enchendo o macacão escolar de jutaí, quando de repente surgiu o velho Rocha que, astutamente, havia se escondido antes da chegada da turma. Os que estavam embaixo, atirando pau ou balando jutaí, conseguiram fugir, mas o Bamba, pobre Bamba, ficou lá em cima, sem poder descer, pois um homem armado, de cara amarrada, dava plantão embaixo da árvore.
Os que fugiram ficaram de longe observando a cena: seu Rocha apontou a espingarda no rumo do invasor e disse: “muleque, agora tu vais morrer!” Pra que? O Bamba desatou a chorar e no auge do desespero, disse, chorando de dar dó: “pelo amor de Deus, seu Rocha, deixe ao menos eu ir em casa tomar bênção da mamãe, depois eu volto para o senhor me matar”.
A molecada do lado de fora da cerca ria as gargalhadas. Seu Rocha, também não aguentou, deu um largo sorriso e mandou o Bamba descer, antes prometendo não fazer nada com ele. O Bamba desceu. Seu Rocha, ainda sorrindo mandou-o embora, não sem antes dar-lhe um leve pescoção. O Bamba, depois do susto, sumiu ladeira abaixo e só parou quando chegou em casa.
Apanhar jutaí, para o nego Bamba nunca mais. Panair, seu Rocha, o Bamba e o jutaizeiro, são boas lembranças da minha infância feliz, vivida no meu querido bairro da Favela.
5 Comentários para "Seu Rocha, Bamba e o jutaizeiro"
Parabéns, histórias assim é que nos faz viajar no tempo…O Poeta Urbano Serra, me informou que alí na esquina da Antonio Coelho de Carvalho, com a Gal. Rondon, existia um grande olho d’água, inclusive crianças da época tomavam banho, e que essa fonte alimentava o lago da praça Floriano Peixoto, é verdade?
Se for, na minha opinião mataram a maior riquesa do Amapá construindo um prédio bem em cima dele! Pois, no verão o lago seca!
Obrigado amigos Juninho ViN, Paulo Roberto e Alberto Farias, pelo incentivo.//Alberto, já plantei árvores, fiz filhos, mas ainda me falta escrever um livro. Estou completando 42 anos de rádio e tenho um monte de causos catalogados em arquivo que dariam um livro, mais como muitos dos personagens ainda estão por aí, precisarei do aval deles para citar os nomes e não ser processado.
Legal, como é bom ler histórias passadas, Sapiranga se vc tiver um livro, post aí onde podemos encontrar. Essas suas histórias são muito fascinantes.
Muito boa mesmo! esse tem muita dessas ai p/ contar!!! sa sa sapirangaaaaa
huahauhauhauhauhauauahua
essa foi a melhor.
muito boa seu Milton parabéns, ainda não perdi nenhuma historia dessas suas.