Vou ser doutor

Milton Sapiranga Barbosa

O relato de hoje, é sobre a determinação de um amigo/irmão de longa data. Nossa amizade, inclusive, já completou 50 anos e um pouco mais, e podíamos  até ter criado e patenteado, a festa  de Bodas de Ouro da Amizade.

Meu amigo tinha um bom emprego, com ótimo salário para os padrões da época, como professor de matemática da rede municipal de ensino. Sua esposa, Áurea Penalber,  também professora, lhe dera um casal de filhos  maravilhosos. Meu amigo/irmão possuía casa própria e um fusquinha zerado. Vivia bem, sem maiores preocupações  com o dia seguinte.

Um dia ele chegou em casa com uma proposta, que a primeira vista me pareceu absurda. Me queria  como sócio na licitação que a FAD (Federação Amapaense de Desportos), iria realizar para arrendamento dos dois bares existentes no Glicério Marques, que até então eram explorados pela dupla Mildes Abdon e Odoval Moraes, que havia desistido do negócio.

Apesar de achar uma idéia louca, pois nunca havíamos trabalho com vendas (ele professor, eu radialista), topei.

Oferecemos a melhor proposta e vencemos os demais concorrentes. Naquele tempo, o Glicerão recebia bons jogos e estava sempre lotado, inclusive com a  realização de jogos interestaduais. Por conta disso, os dois bares,  vendiam horrores de latinhas de cerveja.  Começamos gelando as latinhas  em um barril  e  com menos de cinco meses, já possuíamos  três  prosdócimos novinhos e a curica cada vez mais empinando. Caminhavámos a passos largos para uma independência financeira respeitável, quando  meu amigo voltou a me surpreender. Chegou comigo  e disse de supetão; ” meu amigo, VOU SER  DOUTOR”. Seu tom de voz e seu olhar demonstravam muita determinação naquele momento, que só me restou perguntar: “o que foi que houve?”. ( Macapá sofria com a falta de trigo e para se  obter  o pão nosso de cada dia, só enfrentando imensa fila e muito empurra-empurra. )- ele então explicou que  chegara cedo na panificadora Lisbonense (ficava na Leopoldo Machado, próximo a farmácia do Waldir Carrera- hoje, ambos estabelecimentos não existem mais), se encostou no balcão e começou a gritar para ser  atendido (e ele é barulhento que só vendo). Os atendentes nem aí para seus gritos. Ele só via sacolas e sacolas cheias de pães passarem por cima de sua cabeça. Num dado momento, olhou para trás e viu uma sacola ser entregue ao Dr. Raimundo Ubiratan Picanço e Silva. Foi a  gota d`água. Meu amigo desistiu de comprar pão naquele dia e então tomou a feliz decisão; VOU SER DOUTOR, e completou: Nessa terra só tem valor quem um DR. na frente do nome.

Entregamos os bares, vendemos os bens e rachamos meio a meio o apurado, inclusive o dinheiro que estava depositado numa agência bancária. Aprovado de cara no vestibular, viajou para Belém, onde, depois de  4 quatro anos ,  recebia o diploma de engenheiro  mecânico, retornando em seguida a Macapá, já podendo usar um DR., na frente do nome. Contudo, meu amigo/irmão não mudou nada, nunca se impôs ou procurou obter privilégio por possuir  estudo de nível  superior. Continua um cara simples, amigo dos que os cercam. Gosta, de tomar umas geladas no bar do  do Abreu  e torcer pelo  seu Flamengo.

Calma, já vou matar a curiosidade de todos; meu amigo/irmão, é o Dr. Moacir Simões Tavares, ou D´MOÁ, para os íntimos, assim como eu.

  • O Milton esqueceu de dizer que o apelido de infância do Moacir é Cahorro Magro (e ladrão. Trata-se de um cara sensacional.

    • É meu compadre. O apelido ele ganhou do Pe. Salvador. Como escoteiros, também éramos corinhas, ajudando o Padre nas diversas atividades realizadas na Capelinha. Missa, Novena, etc. Como era de praxe nas igrejas, os coroinhas costumavam filar vinho e hóstia que ainda não tinha recebido a benção do Bispo D. José Maritano. Um belo dia o Moacir foi surpreendido com a mão na massa. Padre Salvador então falou, além de cachorro, magro e ladron. Quem estava com ele, tratou logo de espalhar seu novo apelido; Cachorro, Magro e Ladrão. Antes do flagra era só apelidado de cachorro magro.

      • Milton, sou colega de turma do Moacir, e portanto vou acrescentar o apelido carinhoso de “velho” que ele ganhou quando fizemos faculdade juntos.
        Aliás, estamos justamente procurando os colegas “desgarrados” pois em março próximo completamos 25 anos de formado!
        Agradeceria muito se você fizesse chegar até ele meu e-mail e solicitasse que ele entre em contato comigo com brevidade.

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