Artigo dominical

Conversões ao contrário
Dom José Conti, bispo de Macapá

Um dia um sábio aventurou-se até a cidade para converter os habitantes. No começo, as pessoas o escutavam, arrebatadas por suas palavras. Aquelas pregações enchiam as praças. Com o passar do tempo, porém, a novidade acabou. Assim, aos poucos, não havia mais ninguém para escutar o profeta. Um forasteiro por ali passava e percebeu que aquelas palavras estavam cheias de verdade e sabedoria, no entanto ecoavam no vazio.

– Por que o senhor continua a pregar – perguntou ao profeta – não está vendo que a sua pregação é inútil? Todos foram embora. – No começo – respondeu calmamente o sábio – eu esperava mudá-los. Agora continuo falando. Falo ao vento e à escuridão, para não deixar que eles mudem a mim.

Até aqui chega a fábula budista. Nós podemos rir do pregador, mas no fundo ele tinha razão. Lutava para que a verdade que queria transmitir aos outros continuasse, ao menos, a iluminar a sua própria vida.

A página de Lucas onde se apresenta a figura de Zaqueu, chefe dos cobradores de imposto e rico, é, sem dúvida, uma das mais simpáticas dos evangelhos. Zaqueu é de estatura baixa, mas nem por isso desiste de ver Jesus. Para tanto, corre na frente e sobe em uma árvore. Jesus, apesar das críticas, decide parar na casa dele e lá acontece a transformação de Zaqueu. Com Jesus perto dele, o dinheiro lhe parece tão pouco importante, que decide doar a metade dos seus bens aos pobres, e aos que fraudou vai devolver quatro vezes mais. Zaqueu ficou mais pobre de dinheiro, contudo enriqueceu de amor com a presença de Jesus na sua casa. Uma lição e um exemplo para todos nós. Muitas vezes estamos perto de Jesus: na igreja, em nossa casa, na liturgia, na oração, no silêncio, na reflexão. Raramente, porém, sentimos a necessidade de mudar algo da nossa vida. Talvez nós acreditemos já ter entrado na casa de Jesus; no entanto ele ainda não entrou na nossa. O nosso coração ainda está longe. Nunca muda nada das nossas idéias e da nossa maneira de agir. Jesus é paciente e misericordioso, continua passando e continua a oferecer-se para entrar na nossa vida. Cabe a nós a decisão de acolhê-lo de verdade.

As grandes conversões das pessoas sempre nos fascinam. Ficamos com inveja da coragem e da ousadia delas. Cortaram mesmo muitas coisas, muitos bens materiais pela raiz. Nós também continuamos a sonhar com mudanças radicais e, no entanto, não prestamos atenção a outras “conversões” que estão acontecendo ao nosso redor e das quais nós precisamos nos defender. Seria mais correto falar, neste caso, de “conversões ao contrário”.

Quantas vezes constatamos que algumas pessoas boas, que participavam da Igreja, ajudavam nos grupos e nas atividades, desapareceram de vez da comunidade. Ao serem questionadas, a maior desculpa que ouvimos é: “não tenho mais tempo”. De fato, assumiram outros compromissos, acumularam mais empregos, fizeram novas amizades, encontraram novos interesses. Algumas melhoraram financeiramente, aumentaram a casa, compraram um terreno e precisam cuidar dele. Agora vivem correndo, cheias de afazeres, precisam cuidar melhor também da própria pessoa, aparências e roupas incluídas. As novas amizades são exigentes, precisam de atenção para não passar vergonha. Em geral, essas pessoas levam a família ou outros colegas consigo. Pertencem agora a um novo c lube; devem conhecer e ser conhecidas. Os convites aumentaram. Muitas portas se abriram. Enfim, entraram numa fase nova de suas vidas. Uma maravilha. Aconteceu uma conversão radical aos negócios, ao dinheiro, ao lazer, às vaidades. Na vida nova não sobra muito tempo para refletir ou para avaliar o que está acontecendo. O que faziam antes lhes parece tão longe, tão repetitivo, tão chato. Foi tempo perdido.

Ninguém está livre da tentação dessas “conversões ao contrário”. Podemos ser jovens em busca de chances ou adultos preocupados em não ficar para trás. Se vacilar, vamos ser arrastados. Existe antídoto para isso? Existe, e é um só. É o mesmo do sábio da historia que, no final, repetia para si mesmo as suas palavras, para não esquecer o que ele acreditava e que dava sentido pleno à sua vida. Para nós são as palavras de Jesus. Se não queremos ser engolidos pela voragem do materialismo, da ganância, da banalidade da vida e da disputa sem fim, precisamos sempre deixar ecoar no nosso coração as palavras de vida do Senhor. Devemos fazer isto antes de tomar qualq uer decisão, antes de mudar o rumo da nossa vida, sem saber para onde iremos depois. Se não nos tornarmos, de verdade, seguidores de Jesus, podemos ser “convertidos” pelo mundo. Por isso, abramos logo para ele a porta da nossa vida antes que seja tarde.

  • Linda mensagem, realmente cada dia precisamos renovar nossa fé, através da oração e da palavra de Deus. A riqueza material, as amizades temporarias fazem tão mal a nossa vida. Porém, é uma pena que não conseguimos ver todo esse mal antes de uma grande decepção em nossas vidas. O bom é que Deus sempre esta esperando por nos. Sempre acreditando em nossa conversão.

  • Alcinéa, gosto muito destas postagens do seu blog, essas que nos lembram que não somos apenas carne, temos uma alma- que devemos zelar tanto quanto o corpo, para sermos felizes agora e adiante. Quando ficarmos velhos, as coisas materiais vão nos parecer pouco importantes. Quem não cuida da vida espiritual vai se desesperar diante das dificuldades da vida, e doravante, ao fim dela. Mudando de assunto, eu quero te agradecer por ter me autorizado a assinar meus comentários com o endereço do meu blog, para aumentar meu número de acessos. Depois disso, tive um aumento de acessos e seguidores, hoje tenho de dez a vinte acessos diários, e acho esse número excelente e estou satisfeita, principalmente por se tratar de um blog de pensamentos e poemas (é difícil conquistar leitores para este tema). Bem, então quero te agradecer mais uma vez e dizer que de agora em diante consigo “caminhar com minhas próprias pernas”, vou continuar acessando e participando do seu blog, mas assinando meu nome normal, sem citar meu blog. Simplesmente porque estou feliz da vida com o que consegui conquistar, sem nunca esquecer da ajuda do blog alcinea.com. Qualquer hora eu vou dedicar um poema para você no meu blog. Uma semana de muita proteção divina para você e sua família!

  • Claro que não tenho certeza, mas acho que o bispo votou no Lucas.
    Sei que ele não vai contar,mas, Alcinéa pergunte à ele? De repente… Ele te conta.

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