Artigo dominical

A busca do tesouro
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Quatro homens buscavam a verdade e foram ter com um mestre para expor a sua situação.

– Faz muitos anos que a procuro – disse o primeiro – e não encontrei nada.

– Encontrei um grande prazer na busca. Devo ficar satisfeito com isso? – disse o segundo.

– Às vezes penso de tê-la encontrado, depois percebo que não é verdade e que preciso continuar a busca – falou o terceiro.

Finalmente o quarto, disse: – Muitas vezes duvido de mim mesmo, outras vezes dos mestres, outras, da própria verdade.

– Vou lhes dar a resposta através de um exemplo – falou o mestre. Certa vez um grupo de pessoas decidiu cavar num campo com a certeza de encontrar ali um tesouro valioso. Levaram enxadas, pás e picaretas e começaram a trabalhar. Alguns cansaram rapidamente. Concluíram que, afinal, não valia o esforço. Outros encontraram cacos de argila. Pensaram que era o tesouro. Outros, pela primeira vez na vida, descobriram a alegria do trabalho e acreditaram ser aquela a grande descoberta. Outros, enfim, tendo encontrado muitas pedras e blocos de terra dura, caíram na angústia e no desânimo. Alguns, porém, foram perseverantes. Apesar do cansaço, dos cacos, das ilusões, da angústia e do desânimo não desistiram. Nunca foram expor as suas dúvidas a nenhum mestre, como vocês fizeram. Simplesmente persistiram. Descobriram que o verdadeiro tesouro com o qual tinham enriqueci do o sentido das suas vidas era a constância. Por isso receberam de Deus um tesouro suplementar e eterno.

Mais três parábolas também no evangelho deste domingo. Talvez uma quarta, na qual Jesus compara o discípulo a um pai de família que sabe tirar do seu tesouro coisas novas e coisas velhas. As duas primeiras falam de um tesouro escondido e quem o encontra vende tudo para comprar aquele campo. O mesmo faz o comerciante em busca de pérolas preciosas: vende tudo para adquirir a pérola de valor inestimável. Jesus está falando do Reino dos céus; parece claro, portanto, que o tesouro e a pérola preciosa sejam este Reino. Fácil entender porque já encontramos, inda neste ano, antes da Quaresma, as conhecidas palavras de Jesus: “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33). Contudo vale a pena nos perguntar: por que tão poucos estão dispostos a gastar a sua vida na busca deste tesouro? Talv ez lembrando os passos que precisam ser dados para encontrar e possuir o tesouro possamos descobrir e reconhecer onde e por que paramos e, quem sabe, retomar o caminho e a procura.

O primeiro passo a ser dado é, sem dúvida, convencermo-nos de que o tesouro existe e que pode ser encontrado. De fato, cada um de nós busca algo na vida. Os mais ativos procuram afirmação, sucesso, uma vida melhor. Alguns nunca ficam satisfeitos. Os mais preguiçosos buscam uma colocação e a tranqüilidade; em geral, acomodam-se e ficam olhando o resto da vida passar. No nosso caso, estamos falando da motivação da nossa existência, aquilo que move o nosso agir, o nosso sonhar e lutar. Nessa busca é bom quando entendemos que a razão de viver não pode estar somente nas coisas materiais ou no dinheiro. Existem muitos outros valores. Este é o segundo passo: acreditar que o tesouro que buscamos é o mais valioso de todos. Não tem comparação: todos os outros bens devem ser re-avaliados à luz do inestimável valor dele. Claro que, neste ponto, muitos param por med o de serem enganados; por medo de arriscar ou, simplesmente, por não enxergar outro bem que não seja a pessoa deles, o interesse deles, o que eles decidem ser bom para si. Para conseguir o tesouro, no entanto, é necessário renunciar a outras coisas, aos nossos critérios de avaliação, às nossas medidas, talvez a nós mesmos. É o terceiro passo: somente o tesouro vale. Quem não quer renunciar a nada e quer abraçar o mundo com os braços ou as pernas, dificilmente chegará a possuir o tesouro. A nossa vida e o nosso coração são limitados, neles não cabem tantos bens assim. O bem maior faz aparecer os outros menos importantes e até supérfluos. Por isso, é necessário nos libertarmos deles para deixar entrar o verdadeiro, mais valioso e único tesouro. O quarto passo, que a parábola de Jesus nos mostra no início, é a alegria. Quem chegar a encontrar e a possuir o tesouro, ou a pérola preciosa, fica muito feliz.

A essa altura, cada um de nós pode dar o nome certo ao tesouro de sua vida, como também às correntes que o aprisionam. O tesouro que Jesus nos oferece – o Reino – é ele mesmo, o seu amor, a sua vida doada. Com ele chegamos ao Pai, aprendemos a vê-lo nos outros irmãos e irmãs, a amá-los como Ele os ama, experimentamos a alegria do Espírito Santo. Talvez seja uma busca para a vida inteira e ainda falte tempo, mas vale a pena. Jesus garante.

  • Isso já aconteceu com um bispo de uma igreja neopentecostal. Ele conseguiu o mérito de conquistar um tesouro tanto no ceu quanto na terra.

  • Esse texto nos aquece a alma quando já estamos pensando em desistir. Caminhar em busca desse tesouro espiritual que Deus, deve ser a missão de todos nós, mesmo sabendo que a caminhada é dura e nao é fácil. Parabéns pelo texto.

  • Realmente! A Deusa das Letras tem razão, ao dizer que a infelicidade está na troca de coisas simples, por outras, sofisticadas. Deus, que tudo de bom nos dá, concede também a oportunidade de revermos nossos atos, referendá-los ou os refazermos, a fim de que tudo fique bem. Cabe a nós, espantarmos a cegueira espiritual que nos cerca.

  • Dom Pedro,bom dia! Paz e luz!
    Adorei o seu texto! Ele é cheio de luz e beleza. Eu creio no Reino de Deus e descubro a cada dia, algo de encantador. Posso estar errada, mas, penso que todas as possibilidades estão aqui, nesta linda Oca Planetária. O Reino e o Rosto de Deus está em cada irmão e irmã, em cada, flor, folha, pássaro… Nesta imensidaão de seres sagrados que o meu olhar não cansa de admirar e de Cuidar com Amor.
    Deus criou um Reino maravilhoso para nós, infelizmente o trocamos por vaidades, dinheiro, poder e tantas outras coisas tão pequenas e insignificantes, diante da verdadeida Vida. Por isso estamos infelizes, mesmo dormindo em camas de ouro.
    Mas ainda podemos mudar o curso de nossa história. Ainda podemos sentir o Amor mudando o rumo de nossos passos. Ainda podemos ser felizes!
    Continue escrevendo coisas belas!

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