Artigo dominical

A pedra de jade
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Um mestre era insuperável na arte de lapidar pedras de jade. Um jovem o procurou e lhe disse:

– Quero aprender a lapidar as pedras.

O mestre lhe perguntou:

– Conhece o jade?

O jovem, evidentemente, achava que sim, mas o mestre nem o deixou responder e logo lhe colocou na mão uma pedra ordenando-lhe que a segurasse firmemente. O jovem passou o dia inteiro segurando a pedra. À tarde, o mestre lhe disse:

– Se quiser mesmo aprender a lapidar o jade, volte aqui todos os dias.

O jovem não entendeu o porquê daquele exercício, mas estava decidido a aprender e a realizar, assim, o seu sonho. Por um ano inteiro, todos os dias, ele voltou com o mestre que, sem dizer nada, entregava-lhe regularmente uma pedra para que a apertasse com a mão. Um belo dia, porém, depois de ter recebido a pedra e tê-la segurada na mão por um bom tempo, o jovem falou:

– Senhor, esta pedra não é jade!

– Agora, sim, você conhece o jade! – disse o mestre.

Muitas vezes pensamos conhecer coisas e pessoas. Evidentemente muito depende do que entendemos por conhecimento, e do envolvimento que temos com a coisa ou a pessoa que queremos conhecer. Sabemos, por exemplo, que pesquisadores e cientistas trabalham, muitas vezes, anos e anos sobre um assunto querendo desvendar todos os seus segredos. Alguns gastam a vida inteira para chegar a formular uma descoberta científica; outros para apresentar uma nova teoria e outros para organizar um novo sistema de pensamento. Com as pessoas é, ainda, mais difícil porque ninguém permanece sempre o mesmo, seja porque envelhecemos, seja porque a vida – feita de alegrias e tristezas, de avanços e recuos – se enc arrega de nos moldar sempre de novo. Por exemplo: as decepções podem nos fazer retrairmos e nos fecharmos; as conquistas podem nos inflar de orgulho e de desprezo por quem não chegou aonde nós chegamos. E assim por diante.  Com isso, é comum dizer a quem encontramos após anos: – Como você cresceu, como você mudou -. O mais interessante e desafiador da vida é reconhecer também as mudanças em nós e em quem vive sempre ao nosso lado como o esposo, a esposa e os filhos.

Muito do nosso conhecimento depende, também, do envolvimento que temos com aquela pessoa ou aquela causa. A encontros formais e corriqueiros corresponde um conhecimento superficial e sem rastos. A um envolvimento afetivo positivo correspondem sentimentos de amizade e de confiança. Vivemos experiências de perda e de vazio quando um bom relacionamento acaba. Todos nós poderíamos contar muitas situações de encontros e desencontros, de momentos que marcaram a nossa vida pela alegria ou pela dor que os acompanharam. Pais, irmãos, educadores amigos e amigas, pessoas com quem convivemos algum tempo, formam o conjunto dos nossos relacionamentos.  Nós somos também aquel es que encontramos na vida. Todos deixam alguma marca, uma lembrança em nós. Se o encontro não foi superficial, nós oferecemos àquela pessoa algo para guardar, com carinho, do “lado esquerdo do peito”.

O que podemos dizer sobre o nosso encontro e o nosso conhecimento de Deus? Muitos se satisfazem com coisas passageiras e nada comprometedoras. Cumprem obrigações, recebem os sacramentos que a Igreja oferece, às vezes choram e se empolgam, mas nada de verdadeiramente envolvente. Nada, ou quase, que se pareça com amizade, confiança, familiaridade. Alguns têm medo que isso aconteça e defendem a própria privacidade: de fato Deus nunca entra na vida deles porque eles não o deixam entrar. Outros acham tudo isso perda de tempo e de energias. No entanto, Deus tem mais paciência, mansidão e ternura do que nós possamos imaginar. Ele nos conhece mais do que nós mesmos e por isso nos ama, apes ar da nossa indiferença, da nossa pressa e da nossa superficialidade (cfr. Salmo 139!).

Começar um novo ano litúrgico não é somente refazer um caminho. É uma nova chance de encontrar quem ainda conhecemos pouco e que tem muito para nos comunicar. A única coisa que podemos prever de Deus é o seu infinito amor. O resto sempre será surpresa, descoberta, encanto. Para conhecê-lo mais, precisamos segurar a nossa mão na mão dele todos os dias. Assim se alguém quiser nos enganar poderemos dizer-lhe com tranqüilidade e segurança: este não é o meu Deus, não é o Deus de Jesus, porque “eu sei em quem acreditei” (2 Tm1,12))

Advento é tempo bom para reencontrar a mão de Deus, segura-la até o Natal, depois até a Páscoa, e depois até…não largá-la nunca mais.

  • Mais uma vez o Bispo nos presenteia com belos ensinamentos, parece que é a mão de Deus escrevendo… Alcinéa, eu tenho varios poemas de Natal no meu blog, convido você para presigiá-los, se gostar de algum, pode publicar no seu blog à vontade, e desde já, um Natal de muita paz para você e família!

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