Artigo dominical

A camisa de muitas cores
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Muito tempo atrás existia uma aldeia cujos moradores eram todos muito pobres. O inverno, daquelas bandas, era terrível: congelava tudo. Todos estavam preocupados com um pobre, muito idoso, que sofria demais com os rigores da estação. Com efeito, ele não tinha roupa de frio, mas somente alguns velhos trapos. Precisava de um bom agasalho de lã. O problema era que, naquela vila, ninguém tinha dois agasalhos e também não tinha dinheiro para comprar um. O que fazer? Uma mulher teve uma ideia brilhante.

 – Se cada um de nós tirasse um fio da sua camisa de frio, acredito que teríamos lã suficiente para confeccionar um novo agasalho para o pobre velho, ninguém descobrirá o segredo e ninguém sentirá falta de um fio de lã.

 Todos aceitaram a ideia. Cada um trouxe o seu fio. As mulheres hábeis no tricô trabalharam bastante e, antes do frio ficar insuportável, aprontaram um bonito agasalho de lã para o pobre. O homem o aceitou com as lágrimas nos olhos, não somente porque o casaco o resguardaria do frio, mas muito mais porque era o fruto da colaboração de todos. Os fios eram de tantas cores diferentes. O pobre, sem querer, lançou uma nova moda: aquela que é fruto da solidariedade.

Pensei que essa historinha de generosidade e carinho pudesse nos ajudar a entender um pouco a beleza da festa de Pentecostes. Vento e fogo são sinais bíblicos que, além da força, simbolizam a luz que clareia o caminho de cada ser humano e a liberdade do Espírito. No evangelho, naquele anoitecer do dia de Páscoa, Jesus sopra sobre os apóstolos também para significar a vida nova do Espírito, assim como, no início, o “sopro” de Deus organizou e animou a criação toda, que volta a ser nova, como no primeiro dia, refeita e reconciliada. Quem levou até o fim este plano de amor foi Jesus. Se com a desobediência de Adão a humanidade e a criação toda se afastaram de Deus, com a obediência de Jesus tudo e todos voltam a ser amigos dEle. Se os pecados estão perdoados, a paz e a união devem caracterizar a comunidade dos discípulos de Jesus. O dom do Espírito Santo, dom do Pai e do Filho, deve, agora, manter viva e real a experiência amorosa do reencontro da humanidade com Deus. Esta novidade e a força do Espírito Santo não se esgotaram naqueles dias, mas continuam, ainda hoje, animando e sustentando os cristãos nos caminhos da história humana até a volta gloriosa do Senhor Jesus.

Onde e como podemos ter a certeza de que Jesus não nos deixou órfãos e que o Espírito Santo garante a nossa comunhão com o Pai e com o Filho? Acredito que possamos encontrar a resposta nas palavras da Primeira Carta aos Coríntios proclamada neste domingo: “Há diversidade de ministérios, mas um só é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1 Cor 12,5-6). Devemos acreditar que a riqueza das nossas paróquias e comunidades esteja nas nossas diversidades entendidas como variedade de dons, aliada, ao mesmo tempo, a uma grande disponibilidade para tornar visível a unidade do único corpo do Senhor. Este é o milagre de Pentecostes: reunir os diferentes, sem misturar ou confundir; reunir, apesar e além das diferenças, para manifestar a única e perfeita união no único Espírito. A diversidade é sempre mais visível; o que falta manifestar mais claramente é a unidade, justamente para que o mundo creia (cf. Jo 17,21). Diversidade e unidade somente podem acontecer quando todos aprendermos a colaborar, colocando em comum os dons (ministérios e atividades) que recebemos do Espírito Santo.

As nossas comunidades são um exemplo “visível” de diversidade e variedade. Temos crianças, jovens, adultos e idosos. Temos casados e solteiros, temos diferentes profissões, diferentes sofrimentos e alegrias, anseios e esperanças. Temos diferentes maneiras de rezar, de dialogar com Deus, de participar da Igreja. Se todos nós colaborássemos mais na acolhida, na escuta, nas diversas tarefas comunitárias, a unidade e a comunhão se tornariam cada vez mais evidentes. É por isso que nas comunidades não deveriam existir simples espectadores: ou somos participantes – nos sentimos parte integrante – ou acabamos ficando fora, isolados.

 A unidade, não é fácil, mas quando acontece é maravilhosa, faz nos sentirmos bem, úteis, entre amigos, irmãos. Concluindo a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, devemos lamentar o escândalo das divisões. Poder e dinheiro dividem – e muito – mas a fé em Jesus deveria unir, não dividir. No seu nome, deveria ser glorificado o único Pai de todos. Um corpo em pedaços, afinal, não sobrevive.

 Rezemos para que apareça algum pobre que, por compaixão, obrigue-nos a colocar em comum ao menos um fio das nossas camisas. Reconstruiremos assim um único pano, como foi a veste de Jesus que “era feita sem costuras, uma peça só, de cima em baixo” (cf. Jo 19,23). Talvez de muitas cores.

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