Artigo dominical

A competição
Dom Pedro José Conti
, Bispo de Macapá

As populações de dois países confinantes adoravam canoagem. Muitos possuíam canoas e praticavam este esporte sozinhos ou em equipes. Certo dia, as duas seleções decidiram competir para ver quem era melhor. O time do país A ganhou com um quilômetro de vantagem. A alegria dos vencedores correspondeu à decepção dos derrotados. Precisava fazer alguma coisa para poder ganhar no ano sucessivo. Foram organizadas comissões de investigação para apurar os defeitos que tinham causado o fracasso. Depois de muito trabalho, os detetives do país B descobriram que, na equipe do país A, um só comandava e sete remavam, ao passo que, no time do país deles, sete mandavam e um só remava. O defeito estava, portanto, na subdivisão das tarefas. Assim o país B contratou uma firma especializada para melhorar a atuação do time, e a equipe que ia competir passaria a ter somente quatro comandantes, dois fiscais dos comandantes, um fiscal dos fiscais e um remador. No segundo ano, a canoa do país B foi distanciada pela equipe do país A de dois quilômetros. A firma especializada considerou culpado o remador pelo escasso rendimento e sugeriu a sua substituição. As discussões e os inquéritos continuaram. Até hoje, o país B nunca ganhou uma competição. Talvez um dia descubram algum segredo para ganhar.

A historinha em si, dispensa muitos comentários. Qualquer time, qualquer grupo de pessoas, que queira ganhar numa competição, ou mesmo atuar em conjunto para produzir ou construir alguma coisa, precisa da colaboração de todos. Essa “colaboração” será tanto melhor e obterá mais resultados quanto mais for a consequência do esforço, da dedicação e da entrega de todos. Todos, a começar pelos responsáveis, devem molhar a camisa de suor. Num time de futebol, por exemplo, todos precisam correr com as pernas, a cabeça e o coração. As pernas são o esforço, a cabeça é a organização e o coração é o amor pelo time que une a todos.

Com essas simples comparações, não tenho nenhuma pretensão de explicar, nem de longe, o “mistério” da Santíssima Trindade. Mais do que querer entender, neste caso, o “mistério”, devemos contemplar as maravilhas do nosso Deus, assim como Ele quis se fazer conhecer. Com efeito, nós cristãos não falamos do Pai, do Filho e do Espírito Santo porque somos mais sabidos ou inteligentes de outros, somente acreditamos que assim seja o nosso Deus: um único Deus, mas em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

Foi Jesus, o Filho que assumiu a nossa carne mortal, que nos ensinou a chamar Deus de Pai. Ensinou-nos a não ter medo dEle, a não ficar somente pedindo algo para nós, mas a aprender a louvá-lo e agradecê-lo na certeza de ser sempre amados por Ele. Também não deveríamos ter dúvidas sobre o amor de Jesus. A vida dele foi uma continua entrega aos pequenos, aos pobres, aos que sofriam no corpo e no espírito. Cumprida a missão de nos fazer conhecer o verdadeiro rosto de Deus, Jesus prometeu que não ia nos deixar órfãos na luta contra o mal e a morte, por isso na cruz e, depois vivo e ressuscitado, entregou o Espírito Santo aos seus amigos. Daquele dia, até o fim dos tempos, é o Espírito Santo que nos ajuda a acreditar e a amar a Deus e aos irmãos.

A nossa vida, mas também, e sobretudo, as motivações que nos ajudam a viver são dons do Espírito Santo. O egoísmo, a ganância e a indiferença, têm como consequência a “morte” do irmão. A solidariedade, a fraternidade e a união têm como resultado a alegria de ser amigos e de buscar, juntos, paz e justiça: vida nova e plena para todos.

Quem afirma acreditar e confiar num Deus que é Amor, união perfeita e generosidade total, não pode ter inimigos, invejar o outro, favorecer divisões, usar de violência. A união, a colaboração de todos se aprende em casa, nas nossas famílias; aprende-se nas nossas comunidades, aprende-se também numa equipe de esporte, em qualquer atividade onde o esforço de todos seja ao mesmo tempo necessidade e resultado. Contemplando a Trindade aprendemos o amor. Será que é pouco?

  • Caríssimo Dom Pedro, toda semana leio as suas orações em forma de “artigos dominicais” aqui em Ananindeua, região metropolitana de Belém do Pará. Estou divulgando os seus artigos entre os amapaenses aqui residentes, inclusive ao Pe. André Gamba (Xaveriano e italiano). Prossiga na sua catequese dominical, educando-nos na fé.

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