Bate-papo com a estrela Ana Martel

Ela é branca no samba, é bossa-nova, respira notas musicais, canta, compõe, toca violão, escreve poesias… é mãe, esposa, mulher guerreira, socióloga, funcionária pública.

“A música não entrou na minha vida, foi a minha vida que entrou na música”, diz. Ela é Ana Martel, cuja intimidade com o palco começou quando tinha cinco anos de idade e se apresentou num programa de calouros que era realizado aos domingos no Santana Esporte Clube,em Santana. Pequenininha teve que subir numa cadeira para cantar para alcançar o microfone. Desinibida, olhou para a banda e deu a voz de comando: “1, 2, 3… agora!”. E agora Ana Martel vai brilhar em Juiz de Fora (MG), nas duas últimas semanas de julho. Ela ganhou uma bolsa para estudar Canto no Festival Internacional de Música Colonial e Barroca Brasileira, onde também se apresentará, a convite dos maestros Antonio Carlos e Erivaldo Fraga, com uma das orquestras que se formam durante o Festival, regidas pelos mesmos cantando uma canção de sua autoria acompanhada também de um Coral, além de outras clássicos da MPB.
Na semana passada, eu, os amigos Marcelo Barbosa e Zanjo Goulart e  Naiara Martel (filha da Ana)  decidimos fazer com ela um bate-papo para o blog. E ela topou. Onde vai ser, onde não vai ser… Marcelo – que   é casado com filha de libaneses e adora comida árabe – sugeriu o Bibblos e todos concordaram.

Marcelo Barbosa e Zanjo Goulart

No sábado, às 20h, estávamos todos no Bibblos para jantar e bater papo com a estrela. Um bate-papo descontraído e recheado de sorrisos e gostosas gargalhadas.


Foi assim:

Como foi que a música entrou na tua vida?
Não. Foi a minha vida que entrou na música.

Como assim?
Acho que já nasci cantando e com cinco anos de idade já estava me apresentando em programas de calouros em Santana.

Você tem idéia de quantos shows já fez?
Aaaah, não sei exatamente. É impossível dizer quantos shows eu fiz. Foram muitos. Mas fiquei um longo período sem fazer nenhum show. Foram 8 anos que fiquei sem cantar.

Por que?
Fui ter filhos, (risos)!!! Além disso, minha jornada de trabalho era intensa como bancária…E ter filhos e tempo para criá-los é maravilhoso. E outra coisa boa que me aconteceu neste período foi aprender a tocar violão, ainda toco mal (risos), mas serve para compor.
E comecei também a escrever poesia, me dediquei muito a estudar música. Fiquei longe dos palcos, mas nunca distante da música. Nessa época  morava em Belo Horizonte.

Quer dizer que não cantou em Belô?
Só cantava para os meus filhos. Ninava as crianças cantando Tom Jobim, Boca Livre, Gilberto Gil …

Show mesmo só quando voltou para Macapá?
Sim. E foi com a Vanildo Leal na Banda Brind’s.

Você já cantou em barzinhos, em barzão, já fez grandes shows… mas é verdade que já cantou também no meio da fumaça vinda de churrasqueiras e com o cheiro de churrasco impregnando nos teus cabelos, tua roupa?
(gargalhadas) É verdade. Isso aconteceu numa expo-feira aqui em Macapá. Fizeram um palco grande, bonito e iluminado para os artistas que vinham de fora, mas para os cantores regionais era um palco baixinho, pobre, cercado por aquelas bancas de churrasquinho. Não tinha nem platéia, só passantes…

Um total desrespeito ao artista amapaense.
É.

Mas eu soube que você é capaz de recusar até um alto cachê para fazer um show se não tiver uma boa platéia. É verdade?
Se eu tiver que escolher cantar pra uma boa platéia, mesmo sem ganhar muito ou ganhar muito e não ter quase ninguém me assistindo, escolho a primeira opção feliz da vida.Pois faço o que gosto – que é cantar. Dizer que não preciso de cachê é mentir, mas o fundamental e que tenha platéia. Foi assim no show do meu aniversário: Era uma platéia imensa,  maravilhosa  e eu estava muito feliz. E é isso que vale, isso é mais gratificante do que um cachê altíssimo.

Então você canta de graça?
Canto. Mas repito: não que eu não precise de dinheiro. Mas se uma escola me chama para fazer um show eu vou lá e não cobro um tostão e ainda presenteio a escola e alunos com meus CDs. A contrapartida que eu exijo é que a minha música se transforme em material de estudo naquela escola.

Você participa na próxima semana do famoso Festival de Inverno de Juiz de Fora. Como surgiu esse convite?
Fora minha atividade de cantora, sou aluna da escola de música. Conheci o maestro Erivaldo Fraga num show meu,quando ele veio aqui em Macapá ministrar uma oficina  e  conheceu meu trabalho. Ele rege uma das orquestras neste festival de inverno. Na primeira vez que fui participar do festival em julho de 2010, fui como convidada. A cidade respira música nesta época e este ano, eu ganhei, desta vez, uma bolsa para fazer  aulas de canto.

Quando e onde é a sua apresentação?
Formam-se umas quatro ou cinco orquestras no Festival, além disso, há as orquestras convidadas.
As apresentações acontecem todos os dias, em vários locais, como praças, no meio da rua do comércio, no teatro da Escola, shoppings e no teatro da cidade. Ainda não sei a agenda. Ano passado me apresentei com a orquestra no shopping porque  precisei vir antes do final. Este ano, como estava na incerteza do dia da minha ida, marcaremos quando eu chegar lá.

Qual a primeira referência musical que tu tens?
Samba. Quando eu participei pela primeira vez do Clube do Guri, minha mãe me fez cantar um samba enredo… Eu tinha cinco anos, cantei em cima da cadeira, pois os microfones não baixavam (risos).

E a poesia como veio?
A poesia veio primeiro que as letras de música. Era minha forma de me expressar artisticamente. Comecei a escrever poesias na época em que morava em BH.

Sua poesias já foram musicadas?
Sim. Quando voltei para Macapá o Zé Miguel pegou uma poesia minha  e falou que daria uma boa música. E deu! Fala sobre o Curiaú. Essa música inclusive foi tema de uma tese de doutorado.
E continuo escrevendo poesias. Uma delas virou a canção “Poesia da Poesia”. Foi musicada pelo Álvaro Gomes e Alan Gomes

Como você vê o sumiço do cd no mercado?
Hoje em dia toda a divulgação que se tem na internet massifica, deselitiza, divulga seu trabalho… e o artista tem que saber fazer ao vivo.
O trabalho de estúdio é diferente. Se o CD sumir, sempre restará uma mídia… e tem o show! Registrar é preciso, mas o show, pra mim, é o mais importantte!

Estúdio ou palco?
Palco. Nada pode pagar a sensação de estar num palco.

Que conselho você pode dar pro pessoal que está começando?
Só faça se tiver amor.

Qual a música que você mais gosta de cantar, a música que não pode faltar nos teus shows?
“Amor até o fim”, do Gilberto Gil. Está no meu repertório desde o primeiro show.

Qual você não cantaria de jeito nenhum?
Ahhhhhh, tem muitas.  Nosso ouvido é  poluído com muita coisa ruim e eu não vou contribuir para aumentar ainda mais essa poluição.

O que a Ana Martel escuta?
BBB (risos) –  Bossa Nova, Beatles e Bituca (Milton nascimento)

Dos artistas locais, quem tu mais admiras?
Joãzinho Gomes.

Como é o teu dia-a-dia?
Acordo e rezo logo. Vou trabalhar, vou pra academia, volto pra trabalhar… À noitinha quando chego em casa curto meus filhos, meu namorido, estudo música e componho. Os fins de semana são da família e amigos.

  • Neneca, minha querida, você, o CEPC, o bar “Gato e sapato”, do inesquecível Eurico Mendes e toda aquela época (anos 80), estão sacramentados em meu coração! E você? Sumiu no mundo sem me avisar… Beijão pra você, toda felicidade do mundo pra você!
    Bira

  • O sorriso da alma se reflete no olhar… Ana – com certeza – tua alma tem um daqueles sorrisos enormes… Isto se reflete no teu olhar. Parabéns. Sucessos.

  • Ana, tenho quase certeza que estudei com você no CESEP no curso de Matemática em 1981, mas depois você sumiu. Estou certo? Assisti uma vez você dando canja no Bar Lennon e gostei muito, ainda não tive oportunidade de presenciar um show seu, pois moro em outro estado, mas espero em breve ter esta honra.
    Sucesso.
    João Carlos.

  • Maravilhosa! Ana é toda boa… Na voz e nas palavras… Amei a entrevista. Parabéns pela iniciativa e pelo excelente conteúdo!

  • Como diz o ‘caboco’: Égua da entrevista… Paidégua… Ana Martel é isso, uma cantora que encanta com sua voz e charme… Parabéns pela entrevista!!

  • parabens seja assim uma colaboradora da musicas populares brasileiras sucesso aonde vc for de um barzinho ate um barzao

  • Muito boa a entrevista com Ana Martel, escuto muito as suas musicas principalmente aquela tem como titulo “Ana”

  • Ana, vc é uma estrela! Nao precisa de apoio governamental. Tenho certeza que es estrelas nao precisam. Nao precisa de favor, vc vai ate onde sua arte puder leva-la, sem precisar de mi mi mi! Sorte no caminho, nunca é demais!

    • Resposta ao Barbosinha: Amigo é claro que a Cultura (qquer Artista) precisa de Apoio. Note-se as Leis que estão aí postas e os gestores as ignoram. Quantos feitos foram deixados à posteridade por: Amilar Brenha, Zé Crioulo??? Ah, e os que ainda estão por aqui, atuando com afinco como Nonato Leal, Lolito do Bandolim, Cléo Araújo e Dilson Ferreira??? Esperamos pois, que o Sr.Zé Miguel, músico e “minhoca” (como assim se donomina), que é sensível a esse tema, desenvolva realmente um grande Trabalho à frente da nossa Cultura,corrigindo essas injustiças. Fquem com Deus.

  • Ana,
    Sabes que admiro teu trabalho. Tu sabes ser “Artista”. Que outras plateias possam curtir tua música. Abraços, Angela

  • Na volta de Juiz de Fora, se parar em Brasília, não deixe de avisar.
    Apesar do convívio, nunca te ouvi cantando.

    • Roque, passo em Brasília na madrugada do dia 1º de agosto… mas tenho previsão de fazer um show aí em setembro no Café da Rua 08! Se tudo der certo, vamos nos encontrar, sim! Bjs!

      • Eu me encarregarei de arrebanhar toda a comunidade paramapaense que mora em Brasília pra ir te prestigiar.

  • Ana Martel, (amiga é que acompanho desde a infância, da qual dou fã nº2), filha da Grande Mestra A. M. Martel Nobre (Diretora das E.E. José de Anchieta e Olavo Bilac). O mais trite nisso tudo, é a falta de apoio Governamental (em todos os nívies de Poder) à Cultura Amapaense e, com nossa Aninha não foi diferente. Mas, como Eva tem duas faces… continue soltando essa linda voz nas estradas.

  • Alcilene, Tinha o Sarampo, o Paço da Ladeira, o Pariká, O maracaibo… só as nossas noites paraenses já dava outra entrevista, rsrs!

  • Realmente foi uma Noite Maravilhosa com os Amigos Zanjo, Alcinea, Naiara e a Estrela Ana Martel(amiga de infância)!Bjs

  • O artista completo, além de cantar, também toca e compõe. Você é assim. Logo, completa. Parabéns por transpor nossas fronteiras, levando nossa arte a outros cantos. Um beijo com sabor de capim marinho e rala-rala.

  • Que maravilha encontrar essa entrevista aqui..Lembrei de quanto ela tornava maravilhosa nossa noite no Sarampo, em Belém, onde ela literalmente dava show..Ïamos todos os finais de semana para vê-la cantar..

  • Obrigada à jornalista e amiga Alcinea que pilota comn competencia este blog… e obrigada também aos amigos Zanjo e Marcelo. E também agradeço à minha filhinha Naiara que digitou! Bjs a todos!

  • Adoreeei!!! realmente a Ana me parece ser linda, tanto por dentro, quanto por fora, e nem é preciso conhece-la pessoalmente para sentir isso. Voce merece Ana Martel, somente as estrelas brilham. Ah… muito bom tbm poder ver a foto do nosso doce amigo Zanjo Goulart. Beijos a todos!

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