Chá da tarde

Poema de Alcy Araújo declamado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) na sessão de quinta-feira, 16, da Comissão de Direitos Humanos do Senado

Participação
Alcy Araújo

Estou convosco.
Participo dos vossos anseios coletivos.
Vim unir meu grito de protesto
ao suor dos que suaram
nos campos e nas fábricas.

Aqui estou
para juntar minha boca
às vossas bocas no clamor pelo pão
sancionar com este rumor que vai crescendo
a petição de liberdade.

Estou convosco.
Para unir meu sangue ao sangue
dos que tombaram
na luta contra a fome e a injustiça
foram vilipendiados em sua glória
de mártires
de heróis.

Vim de longe
percorrendo desesperos.
Das docas agitadas de Hamburgo
das plantações de banana da Guatemala
dos seringais quentes do Haiti.
Vim do cais angustiado de Belém
dos poços de petróleo do Kuwait
das minas de salitre do Chile
Passei fome nos arrozais da China
nos canaviais de Cuba
entre as vacas sagradas da Índia
ouvindo música de jazz no Harlem.
Afundei nas geladas estepes russas.
morri ontem no Canal da Mancha
e hoje no de Suez.
Tombei nas margens do Reno
e nas areias do Saara
lutando pela vossa liberdade
pelo vosso direito de dizer
e de amar.

Estou convosco.
Voluntariamente aumento o efetivo
dos que não se conformam
em viver de joelhos
morrendo sufocando lágrimas
nas frentes de batalha
nas prisões
para dar à criança recém-parida
o riso negado aos vossos pais
o pão que falta em vossas mesas.

Meu filho
e o filho do meu filho
saberão que o meu poema não se omitiu
quando vossas vozes fenderam o silêncio
e ecoaram inutilmente nos ouvidos de Deus.

  • Deus já disse: “A fé sem obras é morta”. Alcy tem fé no futuro e sua belíssima obra mostra que o cabôco da Amazônia também é inteligente. Taí um homem completo. Parabéns, Embaixadora, pela divulgsç~so cultural. Bjos.

  • Ainda bem que o poeta e suas obras são imortais. Já pensou o mundo sem este legado? Lindo de arrepiar e nada obsoleto. Realidade pura! Sem dúvida, o Alcy É o nosso maior poeta.

  • Aliás, Alcy, não veio escutar poesias nas praças, não, dessa vez ele foi para os planaltos escutar o poeta que “não tem um caminho novo, mas um “novo jeito de caminhar”, a poeta que se disfarça de professora e o senador-menino que não tem medo de ser feliz.

  • Certamente Alcy abriu a janela do céu e fugiu nas asas de uma andorinha ou de um anjo, desses que voam e pousam nas praças só para ouvir poesias… Poesias… Poesias…

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