Crônica

Parabéns! Você  foi contemplado…

Por Ademir Pedrosa

Sonhei que eu lutava desesperadamente contra um jumento no sonho. Ele tentava me copular, no sonho. Arremetia-se sofregamente sobre mim, e tentava me penetrar. Eu me esperneava na tentativa de me desvencilhar do animal, mas não reunia força suficiente para escapar da investida.

Há uma coisa que acontece em sonho que eu não sei explicar; mas não se consegue reagir, nem correr, nem nada. Ainda que se esforce com força hercúlea, o resultado é pusilânime. Bate uma fraqueza inexplicável, uma impotência descomunal. Parece filme em câmera-lenta…

O jumento armado não desistia, e zurrava escandalosamente. Entreguei os pontos e acordei. Despertei, aturdido, de um sonho abissal, mas não pude evitar o assédio fálico do jumento que conseguiu meter a metade. Senti-me desolado, mordido e ultrajado. Vociferei os mais coléricos palavrões.

Quando silenciei, ouvi o meu celular dar um sinal de alerta. Era uma mensagem. Acionei o dispositivo da caixa de mensagem e estava lá: Parabéns! Você acaba de ganhar um carro Citroën, 0 km, 4 portas e + R$5.000,000 (cinco mil reais).

– Santo Deus! Se eu soubesse que o sonho era um presságio freudiano da sorte, eu tinha deixado o jumento meter tudinho!  – disse com as faces tauxiadas de vergonha, mas disse…

Em seguida a mensagem instruía como fazer para obter melhores esclarecimentos: “Ligue grátis de um telefone fixo p/0318596695751. “B da Sorte!”– Rede Record.”

Corri pro telefone da esquina de minha rua, e liguei. Nada. Liguei outra vez, afinal de contas a ligação era grátis; e, sobretudo, havia um baita presente me esperando. O telefone chamou por duas vezes e atenderam do outro lado da linha:

– Alô! Bom dia! – Uma doce voz feminina me cumprimentava cordialmente – Em que posso ajudar-lhe, senhor?…

– Acabei de receber uma mensagem em meu celular que diz que ganhei um carro Citroën…

– Parabéns! O senhor é um felizardo.

– Jura?! Eu não acredito…

– Pode acreditar! Você ligou de telefone fixo, fez o certo. Agora, só por formalidade, qual o número do seu Celular, e de onde você está ligando, de que cidade?

– De Macapá, e meu celular é 8127 3438.

– Qual o prefixo, senhor?

– 96, nove, meia…

– Aguarde um minuto, por favor… Obrigada. O “B” da Sorte da Rede Record agradece por ter ligado e confirma que o senhor é o premiado de um carro Citroën, zero km, quatro portas e mais cinco mil reais em dinheiro.

– Caralho!… – Gritei triunfante, com toda a força dos meus pulmões.

– Senhor, eu compreendo seu entusiasmo, mas o senhor tem que seguir nossas instruções de praxe, e preencher a ficha cadastral com seus dados pessoais.  Ok?

– Claro. Desculpe…

– Então… Você tem que ir i-me-di-a-ta-men-te (escandia as sílabas com uma conotação imperiosa) à concessionária de sua cidade, e pedir à gerência que entre em contato com nossa Agência. E depois é só receber a chave, e sair em seu novo automóvel. Relex!

– Que maravilha! Eu sou um sagitariano de sorte…

– Senhor, faltou só uma coisinha…  Antes, você tem que ir a uma agência bancária e fazer um pequeno depósito da taxa de serviços. O valor do depósito é de apenas R$1.711,71 (mil setecentos e onze reais e setenta e um centavos). O recibo do depósito você deve apresentar ao gerente da concessionária para que ele libere a entrega de seu automóvel.

– Caramba!, me pegou desprevenido… Até quando tenho que fazer o depósito?

– Quanto mais rápido, mais rápido também você terá seu carro. Ligaremos ainda hoje pro seu celular e passaremos o número da agência bancária e o número da conta na qual o depósito da taxa administrativa deve ser efetuado. Mais uma vez parabéns e boa sorte!

– Drogas!, por esta eu não esperava. Ok. Deixa-me correr atrás desse dinheiro sem que a sorte me abandone, tchau…

Depois disso só  se ouvia o sinal seqüenciado do telefone desligado. Eu tinha que tomar providências. Ruminei a memória para lembrar-me de um credor amigo, lembrei-me de um que, compreensivelmente, cobrava uns jurozinhos, e liguei:

– Preciso urgentemente de uma grana emprestada. Ganhei um carro Citroën pela Rede Record, e tenho que pagar uma taxa…

– De mil setecentos e onze reais e setenta e um centavos…

– Exatamente. Como é que você sabe?

– Porque eu também ganhei o carro, o meu cunhado ganhou também, o meu vizinho da frente idem e o namorado da minha secretária doméstica também…

– Jura?!

– Seu cabeçudo, isso é golpe. Até o valor do depósito é 171 dobrado, que é o artigo do código penal de estelionato, uma sacanagem pra pegar otário…

Caiu a ficha. Desliguei o telefone abruptamente, de vergonha. Quase que caí no conto do vigário, uma vigarice explicita e sarcástica. Eu, um sagitariano de sorte, tse… tse… tse… E ainda tive aquele sonho pervertido com jumento. Eu, heim, rosa?! Tocou meu celular. Atendi-o sem consultar o visor, devia ser “eles”. Eles iam se vê comigo. Não era; era a Pérola, minha filha:

– Pai, a CEA cortou a energia de casa…

    • A intenção é o entretenimento da leitura. Embora isso exija esforço para oferecer ao leitor o que apraz à leitura. E ainda tem gente que acha isso chinfrim. Obrigado, Erick, por ter gostado…

  • A abstinência etílica do Ademir está causando delírios e obnubilações no cérebro dele. Essa história já é contada há muito na rêde. Ele, em busca de alguma luz, fez uma adaptação bem chinfrin e tenta passar pros menos informados algo que não é seu.Que picaretagem, também, vindo de um cara que tentou queimar o livro do saudoso Hélio Penafort…

    • Potoca e Renivaldo Costa são as mesmas pessoas. Pode apostar. Por duas razões: ele tem verdadeira obsessão pelo vocábulo “etílico”, assim como o Lobato tem por “sobretudo”; o Luís Melo por “doravante”; João Milhomem por “com certeza”, e o Prof. Lobo por “outrossim”, pra ficar apenas nesses três. Outra coisa denuncia o cabeçudo. A burrice de pôr acento onde não tem. “Rêde”, por exemplo. Paroxítonas terminadas em “a”, “e” e “o”, como “coco”, “gelo” não são acentuadas, mas o ágrafo ainda não aprendeu a lição do Mobral. Ele diz que minha crônica – como é mesmo? – é uma adaptação chinfrim do que dispõe a Net há muito tempo, e me acusa de picaretagem. E ainda diz que tentei queimar o livro do Hélio Penafort. Santo Deus! Devo ter jogado pedra na cruz. Que tentei fazer foi dar um destino útil àquele livro, “Barcellos, Síntese de Dois Governos”. Almejei reciclá-lo. Por que não? Há os puristas que acreditam que livros não devem ser “destruídos”. E julgam equivalentes os verbos “incinerar” e “reciclar”. Então os nazistas reciclaram os judeus à raça ariana. Esta é muito boa! Aos puristas babacas devo dizer que uma edição da Bíblia Sagrada, por apresentar erros na enumeração de seus capítulos, foi reciclada na Pensilvânia, Estados Unidos. E aí qual é o pó? Escuta aqui, “bem-informado”: mostra o endereço na internet onde está o plágio. Eu já vi esse filme. Sabe aquela história de se repetir mil vezes a mentira pra que ela se torne factual? Dá uma preguiça… Só espero que a Alcinéa não retire meu comentário porque citei nominalmente o Renivaldo Costa. Ora, se não é ele, que acuse o engano. Mas acho muito difícil o Batman revelar sua identidade secreta…

  • É PLÁGIO!

    Essa “estória” está na INTERNET. O papo é velho assim como o mundo gira, dia e noite, noite e dia…. Não tem nada de novo. És mesmo um cabeçudo.

    Falta de criatividade: vai arrumar uma lavagem de roupa!!!

    Eu, hein?

  • kkkkkkkkk……muito boa,amei.Acho que esse “jumento” tem nome e endereço,pois deve ser a turma da harmonia em desespero querendo “pegar” qualquer um desprevenido.Vai pagar tua conta de energia e aproveita p/pagar a da água tb,pq se cortarem oque já não tem(água),capaz que entre “tudinho” mesmo……kkkkkkk

  • Inobstante as observações quanto a eu haver trocado o local do “r” quando da digitação, tenho uma interpretação desse sonho.Até agora você está meio f…do, pode ficar por inteiro ou f…do e meio, então você precisa urgente arrumar algo mais produtivo para fazer e ajudar a pagar a energia da casa e as demais contas. Ninguém merece um pai desses.

  • Ademir Pedrosa
    é uma baita narrador (escritor), que pesadelo
    e que advertência. Ademir avisa: cuidado com o jumento e com os golpistas. Os jumentos estão sendo disimados, os golpistas estão nas ruas em campanha !
    daniel de andrade

  • Ei! ei! que conversa é essa do Ruy Smith de que Flamenguista tem sonho de luta corporal de intenção duvidosa com quadrúpede! isso ae e coisa de Vascaíno com vontade de ganhar a libertadores! e quanto ao prêmio num esqnta não Ademir. na próxima msg tu ganha o carro Citroën, 0 km, 4 portas e + R$5.000,000 (cinco mil reais). kkkkkkkkkkkkkkk!!!

  • O que é isso, Pedrosa, tá virando flamenguista? Ainda bem que o quadrúpede não consumou o intento. De outra forma não estarias aqui, contando a bizarrice. Será que não é um presságio do resultado do jogo de domingo? Agora me deu medo!

    • Flamenguista, eu? Deputado, eu sou alfabetizado… Ando desconfiado que os leitores da minha crônica leiam somente até a parte do jumento, e se divertem à beça com as agruras dos outros; depois disso perde a graça. Acham ridículo alguém ainda cair num conto do paco em pleno século XXI. Depende, quando é bem arquitetado o sujeito titubeia. Agora, há algo mais patético em acreditar no assalto da Amcap? E tá assim de neguinho que jura que aquilo de fato aconteceu, não era miragem. Eu fui escrever alguma coisa sobre o assunto, e fui expulso da Amcap. Logo eu que fui um dos sócios fundadores daquela agremiação. Fiz recentemente abstinência alcoólica, ando sóbrio e vigilante. Mas mesmo que tivesse tomado um homérico pileque, nem fudendo eu seria persuadido de que o assalto fora factual. Por falar nisso – meu bom botafoguense –, escuta essa: o sujeito morreu e foi pro céu. Ali, não suportou aquela monotonia, aquela tranqüilidade celestial. Foi até São Pedro e propôs: Pedrão, eu tô a fim de abrir um bar aqui no céu. São Pedro deu de ombros, afinal cristão nenhum tinha reivindicado algo tão inusitado. O cara abriu o bar, e no dia da inauguração vendeu 30 grades. Ele pensou, pensou… Decidiu ir pro inferno. Ora, se no paraíso ele vendeu 30 grades, imagina no inferno com aquele calor é escaldante?… E foi. Depois de dois finais de semana, ele voltou triste e cabisbaixo. São Pedro quis saber o ocorrera. Ele disse indignado: Pedrão, ali é a maior barca furada; não vendi sequer uma latinha… Mas também pudera, o inferno está cheio de evangélicos! Cai o pano. Domingo: 3 a 1 pro Botafogo. Corro o risco de quebrar minha abstinência no Bar do Abreu com 3 gols do Loco, Loco, Loco, Loco Abreu!

      • Vai sonhando , vai!! 3×1 no Flamengo onde já se viu!! Ei Domingo vou tá no Abreu, qndo chegar um peqno perto de ti e te oferecer um Citroen novisco, sou eu e se, se…A seleção Rubro negra peder pago umas !

      • Que é isso Ademir?
        Tá parecendo coisa de São Paulino BAMBI. Mas tudo bem, vou dá um desconto porque vc é Botafoguense como eu.Lembro de vcs quando moravam no Laguinho em frente a Dona Maria Cunhan, e do Zé Buxinha com a 7 do São José,grande ponteiro.
        Moro atualmente em São Paulo.
        Um grande abraço.

  • Pingback: Giro pelos Blogs : Alípio Júnior

    • Os pusilânimes usam sempre pseudônimos, com os quais pretendem atacar. Têm medo de ser identificados, temem a própria sombra. É sintomático. Gosto daqueles que se identificam, mesmo quando destilam seus venenos. Mas acho também pusilânime atitude daqueles que se expressam por parábolas, enigmas, charadas e outros recursos que exijam decifrações ou adivinhações. Yashá, o que você pretende dizer com essa frase lacônica: “Aí, sim, fomos surpreendidos novamente…”? Nuintendi. Mas advirto: não me subestime.

      • Eita! Meu comentário não encerrava nada de tão obscuro. Nenhum veneno a ser destilado, garanto. Trata-se apenas de uma expressão costumeiramente empregada na internet (em especial no Twitter). E quer dizer exatamente o que diz: que algo surpreendeu. A história definitivamente surpreendeu a mim. Só isso. Nada além.

          • Só se o Xunda for mais competente. O jumento só enfiou a metade!!! Mesmo assim, imagino o estrago que foi feito. Tadinho de você!!! Hehehehe
            P.S. ; Olha Ademir, depois vou te contar umas histórias da vida real. Fui muito amigo dos seus irmãos Amilton e do saudoso Airton (Zé Buxinha). Trabalhamos juntos na ICOMI. Naquela época, você ainda era garotinho. A última notícia que tive do Amilton, era de que ele estava residindo em São Luiz (MA). E a última vez que falei com ele foi em Fortaleza(CE)em 1988.

          • Esta é pro BRT:

            O Kaome ainda reside lá. Fez recentemente 70 anos, e continua casadíssimo com a Socorro Paixão. É tricolor, o coitado. Você pode imaginar o cara com 70 primaveras ser torcedor do Fluminense? Em casa a maioria é tricolor, exceto o Betinho, caçula, que é vascaíno; eu e o Airton que somos botafoguenses. Torço pelo Botafogo por causa do Airton, que era fã do Garrincha, e que jogava de ponta-direita no timaço do São José, craque. Vou te contar uma do Arnaldo, torcedor do Fluminense. Quando foi Vereador, ele tinha uma admiração pelo Aldo que era lateral-direita do Fluminense; mas o chamego dele era o Bira que atuava no Internacional de Porto Alegre-RS, ao lado do Falcão. Certo dia, ao regressar do Rio Grande do Sul, veio por São Luís pra visitar o Amilton. Torcedor do Sampaio Corrêa (eu acho, se não for ele vai me matar), ele convidou o Arnaldo pra assistir ao jogo, em que o Raimundinho era o craque do Sampaio. E disse convicto ao Arnaldo: “O Raimundinho joga pra caralho!” O Vereador, com aquela retórica que lhe era peculiar, disse ao Amilton: “Escuta, acabei de assistir ao Falcão jogar pelo Inter, e tu queres que eu vá ver esse tal de Raimundinho do Sampaio Corrêa? O Amilton mudou de assunto. Encontrei a Cristina Homobono no supermercado, e ela me contou coisas do arco-da-velha. E percebi que eu não sou mais aquele garoto que você conheceu. Tenho 54 anos, é verdade, mas as pessoas juram que tenho, no máximo, 53. Se você é amigo dos meus irmãos, é meu amigo também. Um abraço.

  • Que pesadêlo heim Ademir!!Hehehe…Parabéns pela bela narrativa!!Infelizmente esse golpe existe, mas pior que os estelionatários, são os analfabetos que não sabem apreciar um bom conto!!

    • Que Pesadelo heim Ademir!!Hehehe…Parabéns pela bela narrativa!!Infelizmente esse golpe existe, mas pior que os estelionatários, são os analfabetos que não sabem apreciar um bom conto!!

    • Você em quaisquer cafundós do mundo é analfabeto, não sabe ler. Aliás, não sabe escrever também.

    • Mauro, você é bezerra e eu é que sou gay? Se você fizer jus ao nome, você tem cotação alta no mercado. A escrava Chica da Silva que tinha essas contrações casou com o milionário João Fernandes, e ganhou alforria e diamantes. Você vai ter muitos pretendentes. Você conhece o Mário?…

    • Você é muito burro mesmo, Luís Antônio. Não obstante você ser uma bicha híbrida, resultante do cruzamento de sua égua com o meu jumento, nada impede de você ser um asno cuspido e escarrado com nojo – arg! – dessa historinha sem noção.

Deixe um comentário para Ademir Pedrosa Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *