Cronistas do blog

A moda dos “xiques”
Cléo Farias de Araújo

Como diria Rui Barbosa: “Tudo o que se possa ler, conduz ao aprendizado. Portanto, da mais científica literatura aos gibis, tudo é válido: sempre aprendemos algo ou, em último caso, relembramos o que anteriormente estudamos”. Logo, ninguém sai de uma leitura, sem ter aprendido um pouco mais. Por conta disso, leio muita coisa, com considerável freqüência.

Em conversa com um amigo, ao qual chamo carinhosamente de “Cabôco”, ele me saiu com esta:

—Não tenho luxo comigo. Mas, para ser honesto, não gosto de muita coisa que se diz ou que se vê por aí, atualmente. Um exemplo: o uso incorreto das locuções verbais, que nada mais são que quilométricos arranjos, onde o pobre do autor do texto aglutina vários verbos, no intuito de convencer o leitor ou ouvinte que aquele é o melhor caminho. Isto reflete certo desconhecimento gramatical. Porque as pessoas acham bonito, foi ficando e virando moda.

—E…—pedi que prosseguisse.

—Quando alguém nos liga, querendo vender algo, aí é que a porca torce o rabo. É um tal de: “eu vou estar remetendo; nós vamos estar resolvendo…” e por aí a fora. A coisa, de um tempo pra cá, está tão na moda, que até o Roberto Carlos, há algum tempo, cantou: “Eu não vou saber me acostumar…”.

Sem esperar que eu me manifestasse, continuou:

—Concordo que a locução verbal auxilia na montagem do texto. Contudo, o que critico é o mau uso, ou seja, o excesso. A junção de mais de dois verbos, num mesmo momento da frase, pode muito bem ser aplicada de forme inteligente. Então, exemplos como: nós vamos estar resolvendo”, ao invés de “nós resolveremos”, ou “nós vamos resolver”, ao meu sentir, padece de pobreza disfarçada de riqueza.

Eu vi que, nesse ponto, meu amigo tinha razão. Ele, alongando o papo, demonstrando insatisfação com as coisas do momento atual, acrescentou:

—Hoje, ninguém mais fala em viver, mas em vivenciar; não mais se diz saudade, porém, saudades (como se o “s” fosse revelar o tamanho do sentimento de alguém); todos só pensam em resgatar, ao invés de recuperar ou reaver. Até os nomes próprios, são diferentes. Não se vê mais alguém registrar um filho como Antonio, Francisco, Raimundo, Maria, Benedita ou Joaquina (não que eu os ache tão bonitos, mas também não tenho nada contra). O que se vê, no feminino é uma série de “annes”, “ennes”, “ennies”, “innes”, “elles”. Para os meninos, temos: “son”, “ton” e outros “arranjos” mais (que também não os acho nada interessantes). Importam tudo do exterior, como se nos fizesse um bem enorme. Quem não tem um nome assim, não tá com nada. Hoje, se um pai registrar um filho com nomes que não estejam na moda, ah, é capaz até de até bullingzarem (olha o estrangeirismo!) a criança. Até a nobre profissão de PROFESSOR, foi substituída por EDUCADOR. Dá a entender que querem modificar por completo a Língua Pátria, excluindo, inclusive, as históricas brasilidades. Ademais, escrevem nomes cuja pronúncia quase sempre destoa do correto. Às vezes, por achar um som (não “son”) bonito, tacham o moleque com aquilo.

—E o que é pior: — Segurou a cabeça, como em desespero.— Nome é uma das poucas coisas que a pessoa não tem culpa. Feio ou bonito, temos que carregá-lo a vida inteira. Às vezes o nome é tão feio que a pessoa prefere ser chamada por um apelido. Se vai à Justiça trocar de nome, ainda assim, quando perguntamos se você conhece o fulano (citando o novo nome) e ninguém diz conhecer, sempre nos referimos ao nome antigo. Ou seja, ninguém consegue se livrar do nome de batismo.

Lembrei a ele que há um tempo atrás, o deputado federal Aldo Rebêlo ingressou com um projeto de lei,  a fim de que não fosse mais permitido o uso de estrangeirismos no Brasil, pois possibilitaria um aprendizado de melhor quilate. Parece que não deu em nada.

Meu interlocutor ficou alguns segundos em silêncio, como a meditar no que lhe dissera. Depois, olhando para mim, falou em tom sério:

—Ora, se a língua existe para facilitar a comunicação entre as pessoas, por que usar “estratégias” que mais são barreiras e que desaguam em mais dificuldades? Por que não simplificar?

Não tive outra alternativa, senão balançar a cabeça, assentindo.

Finalizei o papo, expondo o meu pensamento sobre o assunto:

—Tens razão, “Cabôco”. Tá certo que a língua é dinâmica e que, por conta disso, sempre vai experimentar mudanças. Porém, creio eu, cabe aqui, na medida exata, lembrar o Professor Napoleão Mendes de Almeida, que, com certeza citaria Paulinho da viola: “Tá legal, eu aceito o argumento. Mas não me altere o samba tanto assim”!

(OBS: a palavra chique foi grafada com “x”, de propósito!)

  • Cléo viver sem a sua amizade, e como tentar tiarr leite de um urso para o café da manhã, da muito trabalho e não vale a pena ass: Rosa mendes

  • Lhe achei meu amigo querido, e achei muito poético o sonho do resgarte do valor da educão, e enquanto eu lia o final do seu relato tive o desejo de reunir alguns dos professoers do passadoi e fazer um jantar para elles e agradeçe-lhes em nome de todos os alunos do mundo o amor em que tratarão até hoje a educação muitos até hoje gastaram os melhores anos de suas vidas e alguns até adoeçerão nesta ardoa taréfa talvez muitos não valorizaro a proporção da sua grandeza mais eu tenho a certeza que sem eles a sociedfade não tem horizonte, nossas noites não tem estrelas, nossa alma não tem saúde, nossa emoção não tem alegria, o mundo pode não aplaudir mais o conhecimento mais lucido da ciencia tem de reconheçer que os professores são os profissionais mais importante da sociedade, e muito obrigado por me lembrar disso eles são os mestres da vida.

    • Cancelar a mensagem anterior CLEO.

      * Achei você meu amigo querido, li o seu comentário, tive o desejo de reunir alguns dos professores do passado e fazer um jantar para eles. Agradecer-lhe e dizer quantas eles foram importantes para mim. Se não valorizamos nossas raizes não temos como suportar o intempéries da vida. Em nome de todos os alunos do mundo, gostaria de agradecer a todos o amor de trataram até hoje a educação, muitos gastaram os melhores anos de suas vidas, alguns até adoeceram nesta árduas tarefas. Muito não foram valorizados na proporção de sua grandeza, mas eu tenho a certeza sem os professores, a sociedade não tem horizontes, nossas noites não tem estrelas, nossos almas não tem saúde, nossa emoção não tem alegria. O mundo pode não aplaudir, mas o conhecimento mas lucidos da ciência, tem de reconhecer que são os profissionais mais importantes da sociedades, obrigado meu amigo por lembrar-me que vocês são mestres da vida.
      Cleo e Maria José, o tempo pode passar e nos distanciar e jamais se esqueça de quem ninguém morre quando vive no coração de alguém, a nossa amizade é um pedaço do seu ser dentro do nosso próprio ser.

      me adicione o meu msm ………………………………………………………………..

  • Muito bom o seu texto,não sou Arte-Educadora, leio muito sobre linguagem, linguística, essa área me interessa. No momento, não aguento mais ouvir a expressão ” Bom dia à todos e a todas”,e por aí vai. Bom dia à todos inclui masculino e feminino.

  • Meu caro Cléo, Só pra lembrar da língua como era no seu apogeu clássico, que tal o nosso grande mestre Ruy Barbosa?

    “Não delireis nos vossos triunfos. Para não arrefecerdes, imaginai que podeis vir a saber tudo; para não presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis chegado a saber.”

    Esse era o “cara”.

    • Oi, Robson. Ainda mais longinquamente, apenas o latim clássico é que deveria prevalecer (baixaram até decreto nesse sentido). Porém, como as pessoas precisam se comunicar, a simplificação fez com que surgisse o latim vulgar, donde o português derivou. Simplificar é o caminho. Então, por que seguir na contramão?

      • É verdade meu amigo, Comunicar é um ato essencial ao Homem. Portanto, quanto mais claro e simples melhor. Gde abraço

  • Prezado Cléo,
    Oportuna a sua crônica. De nomes “embaralhados” lembro de um comum no nordeste, o Onaireves (Severino).
    A sofrida e mal paga classe de professores ainda terá muita dor de cabeça com o MEC, haja vista, o mesmo estar imputando nas escolas o tal livro popular e expressões como: Nós pega o peixe, Nós vai e a gente sabemos deverão ser consideradas corretas por serem faladas pela grande maioria dos menos letrados deste País. Eles aprenderam a palavra inclusão, então….
    Acho que o que está sendo gasto com a baboseira deveria ser usado para corrigir e não para analfabetizar as crianças cujos professores tanto batalham para dar o melhor mesmo sem condições em função do desastre que é a estrutura do ensino público no País, basta acompanhar as reportagens da Globo sobre ensino que estão sendo veiculadas nesta semana no JN no ar.
    Ou a sociedade reage contra os desmando ou teremos “menas gente” alfabetizada de forma correta.
    Sds,

    • Caro Ruy, como sempre, vc tem razão. Há coisas que valem ap ena serem importadas. Já, outras, nem tanto. Gostei do “menas”, que certa vez falei e a prfª Risalva me corrigiu, mostrando que o contrário de mais é menos. Nunca mais falei errado (essa palavra. rsss!). Obrigado pela deixa.

  • Ola Cléo,
    Estava sentindo falta de sua crônica, o assunto merece um debate, sempre digo que no BRASIL nos falamos o “brasileiro” e não o portugues de Portugal. Chique é usar as expressões da nossa terra e o caboco que mora no sul nem sabe o que é! Morro de rir.

    • Oi, Ilka. è verdade o que dizes. Nossa lingua não é o português, mas o brasileiro. Afinal, se formos fazer a transcrição fonética de palavras (de acordo com a pronúnia) articuladas por um português e por um brasileiro, constataremos diferenças marcantes.

  • Amigo Cleo, sua crônica era a que eu queria escrever, parabéns. A verdade é que nossa submissão aos Estados Unidos é latente. Ai de quem pronuncie uma palavra inglesa errada, é logo taxado de analfabeto. Agora pronunciar uma palavra italiana, francesa ou outra que não seja inglesa(americana)pode, taí o Palocci que não me deixa mentir, posto que o correto seria falarmos Paloti (dois “cês” em italiano pronuncia-se com o som de “t”), e o meu, perguntaria, pois é, o meu nome seria pronunciado Sidu Mitione (pois “dou” em francês pronuncia-se “u”).
    Trabalhei na Defensoria Pública e presenciei vários casos de nomes estrambólicos, para nós, simples brasileiros, senão vejamos: Shanna, Gary, Pollyanna, Michaell, Raphaella, Avagina (junçao dos nomes das atrizes Ava Gardner e Gina Lolobrigida). Vejam a quantidade de consoantes, parecem que quanto mais consoantes colacarem nos nomes de seus filhos, mais chances de terão de obterem sucesso. Quanto ao gerundismo infelizmente essa praga pegou, não dá mais pra combater.
    Um abraço do amigo José Sidou Góes Miccione.(veja que pelo menos tenho o José)

    • Brigadão pela colaboração. A aula de italiano é impagável. Só um cidadão com tão larga folha de viagens para dar essa aula.

    • Teve o caso de um “caboco” que resolveu colocar o nome do filho de Walt Disney. Não soube se expressar no cartório e o moleque recebeu o nome de Valdisnei.

  • Gostei muito da sua crônica. Há anos tento combater esse gerundismo usado em excesso por promotores de telemarketing.
    Outra falha muito grande é achar que nomes estrangeiros são chiques. Ledo engano! E constatei isso descobrindo o significado de alguns sobrenomes alemães, algo como Fulano Panificadora, Fulano Casa de Ferragem.
    Conheço um Lindon Johnson da Costa e uma Cleópatra da Silva Alho. Coitados! Será que esses pais não têm noção do ridículo?
    Um dia desses um colega pediu minha opinião sobre colocar o nome da sua filha de Rana. Respondi que a sonoridade é boa, porém, etimologicamente, “rana” vem do latim e significa rã. E disse mais: se você se identificar com essa espécie de batráquio…
    Outra coisa de que não gosto, comum na nossa região, é formar um radical com a junção dos nomes dos pais e alterá-lo de acordo com o nascimento dos irmãos: Elinaldo, Elinildo, Elinilson, Elinalva…
    No coment!

    • Ao estudar direito Civil I, a Profª Maria Elisa nos mostrava no livro, alguns registros de nomes, como: Himeneu Casamentício das Dores Conjugais; Um, Dois, Três de Oliveira Quatro e assim por diante.

  • Sou professora e fico “horrorizada” em ver a grafia de determinados nomes. Não bastasse o nome complicado, existe quem utilize o nome e o sobrenome do homenageado da moda.Eu não gostaria de alfabetizar essa criança. Pense no enrolado que dá? Afinal, somos da junção de todas as raças, mas, pelo menos no nome não seria melhor simplificar? Que tal: Maria, José,Carolina,Elvis,Demétrio,Filipe,Elvis,etc…

  • Obrigado, Néa, pela postagem. O texto em tela, ao invés de criticar escolhas, apenas enseja pensar um pouco mais sobre o assunto.

  • A língua evolui mas temos de ter o cuidado de não cometermos excessos. às vezes o som de uma palavra pode até ser agradável, mas a grafia é complicada e a criança só vai aprender a escrever quando atingir a maioridade.

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