Fiéis até a morte

Milton Sapiranga Barbosa, especial para o blog

Esse é um relato sobre  dois  animais  que  foram heróis em minha infância. Quando mamãe se mudou do Bairro Alto para construir  casa própria,  de  palha e paxiúba,  no  novo bairro que surgia,  trouxe   com  ela  dois  cachorrinhos,  “batizados” com nomes  que só muito tempo  depois  fiquei sabendo porque se chamavam  Pega  Tudo e Rompe Mato.

Eram grandões, resultado do cruzamento de uma cachorra vira lata com, segundo mamãe,   um pastor alemão, mas acho que era mestiço, pois à época, anos 51/52, não acredito que existisse cachorro  da raça alemã em Macapá.

Nossa primeira casa, chamada de  casa velha  depois que uma outra foi erguida na Mendonça Furtado, ficava na avenida Almirante Barroso, onde hoje mora o senhor     Miguel Galvão. Todas  as tardes mamãe,  ia  tirar lenha no mato  que  ficava passando a pista do aeroporto de Macapá, mais ou menos onde hoje  é a quadra da CEA. Os dois cachorros sempre estavam em sua companhia. Pega Tudo era assim chamado porque não perdia uma caça de jeito nenhum. Paca, tatu, cutia, não faziam festa  na frente dele. E Rompe Mata entrava em qualquer capoeira.

Por que  heróis? Vou explicar.

1 – Pega Tudo – numa das idas  para buscar lenha,  mamãe  só  não foi  picada por uma  surucucu pico de jaca  porque  o Pega Tudo se  interpôs entre ela e a cobra. Coitado, levou a pior, pois a peçonhenta não perdeu a viagem,  cravou suas presas no valente animal, que para tristeza de todos de  casa e até mesmo dos vizinhos, não resistiu  ao poderoso veneno   e morreu, mas foi graças a ele e sua coragem  que, abaixo de Deus, mamãe viveu até aos 92 anos

2-    Rompe Mato –  mamãe  precisando  ir  ao mercado, deixou minha irmã  Mariazinha tomando conta da casa e,  claro, do seu irmão caçula, este que vos escreve. Após uns 10 minutos  que mamãe  havia saído, minha mana sentiu  uma dor forte  e  não conseguia respirar, ficava só emitindo uma espécie de  ronco,  na ânsia de buscar  ar para seus pulmões. Gritei  por socorro e os vizinhos acudiram  e a  levaram  para o hospital geral. Mamãe chegou do mercado e foi informada do ocorrido, jogou bucho e mococó numa bacia, escorou a porta com um banco velho, me deixou na casa da vizinha Maria Sabiá,   rumando em seguida  para o HGM, onde ficou um dia e uma noite na cabeceira  da filha. Ao retornar  com minha mana recuperada, graças a Deus,  sentiu um cheiro de podre ao empurrar a porta. O  bucho e o mocotó  já estavam estragados. Deitado ao lado da bacia, vigilante e com fome, estava o Rompe  Mato,  reparando  a comida de sua dona para que gato nenhum chegasse perto. Fui  no mercadinho buscar duas goelas, mamãe  cozinhou e colocou em uma bacia e disse: come. Aí sim, o Rompe  Mato  balançou a rabinho  de  alegria e botou o que pode pra dentro. Rompe Mato morreu de velho, deitado embaixo da rede de  sua dona.

Pega Tudo e Rompe  Mato foram fiéis  a nossa família  até  a morte. Os dois cachorros  de minha saudosa mãe são  lembranças de minha infância feliz, vivida no meu querido bairro da Favela.

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