Milton Sapiranga Barbosa, especial para o blog
A Prefeitura de Macapá construiu vários mercadinhos como forma de facilitar a vida das famílias que moravam em bairros distantes do mercado central, que até então era o local onde os macapaenses se abasteciam de carnes e vísceras de bovinos e suínos.
Favela, Laguinho e Trem ganharam seus mercadinhos, mas com a proliferação de açougues particulares, fecharam suas portas, exceto o do bairro proletário, situado na rua Jovino Dinoá, canto com a Primeiro de Maio, que resiste ao tempio e está até hoje em atividade, mas sem o mesmo charme de antigamente. Da última vez que passei por lá existia apenas um talho (era assim que chamávamos o local onde a carne era exposta.
O mercadinho da Favela, edificado no canto da Odilardo Silva com a Mendonça Furtado, era comandado pelo Sr. José Rufino, um senhor que não tinha o porte avantajado, musculoso, como é de praxe em quem trabalha em açougue. Era franzino, mas brabo que só ele. Era mais conhecio por Zé Rufino e tinha como auxiliares seus filhos Zé Pamonha e Chico, o sobrinho Osmar Melo e o Sr. Zeca Costa (este era o responsável pela venda das vísceras).
No meu tempo de moleque se podia marcar vaga com qualquer objeto, desde que não fosse de vidro. Valia paneiro, pedra, tijolo, lata ou um pedaço de pau . E ai daquele que tentasse furar a fila ou jogar fora um daqueles objetos. Era briga na certa. A turma costumava respeitar o lugar marcado, mas era sempre bom esperar a chegada de alguém para marcar a vaga depois de você, pois aí, você tinha como provar que chegara cedo no mercadinho. Eu sempre era um dos primeiros, pois tinha um amigo, que morava ao lado do mercadinho, que marcava minha vaga .Era o Erick Lucien (irmão da Henriqueta, Mariana, Mário e Eulálio) e que, como o Tio Boliva, que mencionei em crônica anterior, era torcedor ferrenho do Bangu. Havia a fila dos homens e a fila das mulheres.
A calçada do Mercadinho da Favela também servia para pilarmos cerol, porque ficava longe das vistas de nossas mães. Mas bom mesmo era que enquanto esperávamos a chegada do caminhão que transportava a carne, aproveitávamos para jogar bola, peteca no triângulo, peteca no buraco, pião ou caveira (essas três últimas brincadeiras tão comuns na minha infância, a meninada de hoje não brinca mais. Uma pena).
Quando o caminhão surgia era aquela correria para não perder o lugar na fila, pois era nessa hora que os furões costumavam se dar bem.Não é demais, nem absurdo dizer que alguns namoros, que terminaram em casamento, foram iniciados nas filas do Mercadinho da Favela. Tem gente por aí que pode comprovar.
Naquela época, uma criança podia ir com o dinheiro nas mãos ou dentro do paneiro, para não perder, que ninguém assaltava e, no mercadinho, éramos, respeitados e bem atendidos pelos açougueiros.
O Mercadinho da Favela é mais uma lembrança da minha infância feliz, vivida no querido bairro da Favela.
4 Comentários para "Mercadinho da Favela"
Que legal ler seu texto e saber como era o bairro que meu pai foi criado.
Oi Letícia, muito obrigado por sua atenção. Seu pai era um amigo fiel. Não negava nada a ninguém e atendia a todos sem distinção de classe, religião, etc.etc. Teria muito prazer que conhecer a filha do meu inesquecível amigo Erick Lucien. Trabalho na Rádio Cidade 101 FM, aqui no bairro novo buritizal. Um abraço
Milton, bem sacado esse resgate da história dos mercadinhos. Lá no Laguinho, era igualzinho.
Um abraço.
Olá Alcinea… esta otima sua nova Casa!
Ah enquando ao Mercadinho que pena + o do bairro do Trem o movimento maior é de Papudo.
O prefeito bem que poderia resgatar o mercado.
Abs,
Raul Gemaque
Morador do bairro do Trem