Francisca Luzia da Silva, a Mãe Luzia, a Mãe Negra, “primeiro doutor da região”, faleceu em 24 de setembro de 1954 em Macapá. Além de parteira, Mãe Luzia era excelente lavadeira. Quem a conheceu conta que ela só lavava roupa seminua, ou seja, sem blusa e sutiã. O historiador Edgar Rodrigues diz que o título de Mãe Luzia foi dado a ela pelo intendente de Macapá, Coriolano Jucá, ao contratá-la em 1895 como Parteira remunerada da Intendência, recebendo um salário por mês.
Mãe Luzia
Álvaro da Cunha
Velha, enrugada, cabelos d’algodão,
fim de existência atribulada, cuja
apoteose é um rol de roupa suja
e a aspereza das barras de sabão.
Mãe Luzia! Mãe Preta! Um coração
que através dos milagres de ternura
da mais rudimentar puericultura
foi o primeiro doutor da região.
Quantas vezes, à luz da lamparina,
na pobreza do catre ou da esteira,
os braços rebentando de canseira
Mãe Luzia era toda a medicina.
Na quietude humílima do rosto
sulcado de veredas tortuosas,
há um clamor profundo de desgosto
e o silêncio das vidas dolorosas.
Oh, brônzea estátua da maternidade:
ao te encontrar curvada e seminua,
vejo o folclore antigo da cidade
na paisagem ancestral da minha rua.
4 Comentários para "Para não esquecer"
demais!!!
essa poesia e linda
É sempre muito bom ler o Álvaro.
Beleza e lembrança.
Abs
Alcione
“há um clamor profundo de desgosto
e o silêncio das vidas dolorosas.”
Dolorosamente atual, este verso…
Ana Maria
Sem palavras. Emocionei-me.