Para não esquecer

1945 Mãe Luzia Francisca Luzia da Silva, a Mãe Luzia, a Mãe Negra, “primeiro doutor da região”, faleceu em 24 de setembro de 1954 em Macapá. Além de parteira, Mãe Luzia era excelente lavadeira. Quem a conheceu conta que ela só lavava roupa seminua, ou seja, sem blusa e sutiã. O historiador Edgar Rodrigues diz que o  título de Mãe Luzia foi dado a ela pelo  intendente de Macapá, Coriolano Jucá, ao contratá-la em 1895 como Parteira remunerada da Intendência, recebendo um salário por mês.

Mãe Luzia

Álvaro da Cunha

Velha, enrugada, cabelos d’algodão,

fim de existência atribulada, cuja

apoteose é um rol de roupa suja

e a aspereza das barras de sabão.

Mãe Luzia! Mãe Preta! Um coração

que através dos milagres de ternura

da mais rudimentar puericultura

foi o primeiro doutor da região.

Quantas vezes, à luz da lamparina,

na pobreza do catre ou da esteira,

os braços rebentando de canseira

Mãe Luzia era toda a medicina.

Na quietude humílima do rosto

sulcado de veredas tortuosas,

há um clamor profundo de desgosto

e o silêncio das vidas dolorosas.

Oh, brônzea estátua da maternidade:

ao te encontrar curvada e seminua,

vejo o folclore antigo da cidade

na paisagem ancestral da minha rua.

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