Um poema de Manoel Bispo

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Origami
Manoel Bispo

Pássaro azul, de papel mil vezes redobrado
por mãos de fadas no artesanal e terno invento
pássaro de planuras leves e canto quebrado
ave-arte, cujo voo paira no vagar do intento.

Quantos planos afloram entre as dobraduras
legiões de ângulos rasos como se escondidos
nos ninhos feitos dessas mesmas linhas puras
que a geometria acha nos seus elos perdidos.

Dobrar até a bela formatura sair do abstrato
e o imaginário coração de pássaro disparar
como dispara o coração de Goya no retrato

E, se faltar alguma dobra na ave dita e feita
que não seja o caso de medir ou comparar
posto que é ponto sabido: não há dobra perfeita!

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