Categoria: Memória
Alzira Soriano, primeira prefeita eleita no Brasil
A primeira prefeita do país foi Alzira Soriano, eleita em 1928 para comandar o município de Lajes, no estado do Rio Grande do Norte, com 60% dos votos. Durante sua administração, ela promoveu a construção de estradas, mercados públicos municipais e a melhoria da iluminação pública. O jornal norte-americano The New York Times inclusive a citou, à época, como a primeira prefeita eleita em toda a América Latina. Com a Revolução de 1930, perdeu o mandato por não concordar com o governo de Getúlio Vargas.
A responsável pela indicação de Alzira como candidata à Prefeitura de Lajes foi a advogada feminista Bertha Lutz, uma das figuras pioneiras do feminismo no Brasil.
(Fonte: TSE)
Craques do futebol amapaense
Craques do futebol amapaense
Por João Silva
Dois campeões, dois irmãos, dois craques que deram muitas alegrias ao torcedor amapaense: o quarto-zagueiro Faustino e o centro-avante Jangito.
A foto é dos anos 60, quando os dois irmãos bons de bola foram campeões pelo CEA Clube, antes de se transferiram para o futebol paraense, para o Clube do Remo. Faustino foi titular absoluto e jogou mais tempo no Leão Azul, Jangito jogou menos; depois foi levado para o futebol acreano onde brilhou intensamente atuando pelo Juventus e Independência.
Jangito começou no campinho da Matriz, no Juventus Esporte Clube cá de casa, fundado pelos padres do PIME.
Faustino, depois do Remo, foi jogar no futebol amazonense, pelo Nacional e Sul-America, sagrando-se bicampeão amazonense de futebol; o quarto-zagueiro clássico faleceu em 1998 em Manaus, como funcionário da Andrade Gutierres;
João do Carmo Tavares, o Jangito é economista, e funcionário aposentado do Banco do Brasil; na ativa chegou a assumir a gerência local do BB, e depois que pendurou as chuteiras virou técnico da Sociedade Esportiva e Recreativa São José; era um atacante inteligente, de chute forte, artilheiro nato; é casado, tem filhos, está vivo, vai completar 81 anos e mora com a família em São Paulo.
Os dois também jogavam basquetebol com bom desempenho.
Hoje – 134 anos do nascimento do Mestre Julião
“Aonde tu vai rapaz
nesse caminho sozinho?
Vou fazer minha morada
lá nos campos do Laguinho”
Há exatos 134 anos (em 9 de janeiro de 1890) anos nascia em Macapá Julião Tomaz Ramos, o Mestre Julião, uma das figuras mais expressivas do Marabaixo, exímio tocador de caixa e cantador e líder da comunidade negra.
Foi com Mestre Julião que o primeiro governador do Amapá, Janary Nunes, iniciou os diálogos para a retirada dos negros da Praça Barão para que ali fossem construídas as casas para os funcionários do governo, ocupantes do primeiro escalão.
Com o apoio de Julião, que era o líder da comunidade, Janary convenceu os negros a deixarem o lugar, oferecendo a eles casas no bairro do Laguinho, na época chamado de campos do laguinho.
(Os que não aceitaram a proposta, mudaram-se para a Favela – hoje bairro Central e Santa Rita- sob a liderança de Gertrudes Saturnino.)
Julião foi servidor público. Era ele o zelador do campo de aviação – o primeiro aeroporto de Macapá, que ficava na Av. FAB.
Foi casado com Januária Simplício Ramos, com quem teve seis filhos: Felícia Amália Ramos, Alípio de Assunção Ramos, Apolinário Libório Ramos, Benedita Guilhermina Ramos e Joaquim Miguel Ramos.
Mestre Julião morreu em Macapá em junho de 1958.
Hoje – Centenário do nascimento do poeta e jornalista Alcy Araújo
“Canto a terra, a dor dos aflitos
e a inútil esperança dos desesperançados.
Também os negros, os índios e o verde
e presto relevantes serviços topográficos
demarcando itinerários de poesia.”
Alcy Araújo
Fez parte da Academia Amapaense de Letras ocupando a cadeira 25.
Na música, Alcy – tendo como parceiro Nonato Leal – venceu vários festivais, inclusive o I Festival Amapaense da Canção.
No carnaval, compôs belíssimos sambas de enredo para a Embaixada Cidade de Macapá e Maracatu da Favela, recebendo, todas as vezes, a nota máxima dos jurados.
“Aqui estão as minhas mãos, falando palavras feitas de pássaros e
de ausências e cantando canções sonhadas em segredo.” (Alcy Araújo)
Era assim a igreja de N.S.de Fátima
Ela foi construída por carpinteiros, pedreiros, pintores e auxiliares de serviços gerais que moravam no bairro da Favela (hoje bairro Central e Santa Rita)
A escola, que, na verdade era um barracão, servia também de local para as reuniões dos Marianos, das Filhas de Maria e para exibições de filmes.
Lembranças da Velha Boa
João Silva*
Como esquecer a RDM do meu tempo, a Velha Boa?!
Muitos anos depois…
Muitos anos depois…
Luiz Jorge Ferreira
A Escritora, Jornalista e Poeta Amapaense, Alcinéa Cavalcante iniciou em seu Blog… a escrever sobre várias pessoas que no Amapá realizaram no tempo que lá moraram dentro de suas atividades desempenhadas em relação a comunidade com as quais se relacionavam, cada uma delas, trabalhos memoráveis, tanto dentro dos Esportes, Eventos Culturais,e Sociais, que mereceu e merece a realização desse registro.
Eu fiquei muito surpreso e orgulhoso de receber seu convite, para que traçasse um pequeno retrato de um grande Educador, homem ligado a fomentar os aspectos Culturais da região no que se refere as manifestações folclóricas como os Pássaros da Época Juninha, reuniões de grupos interpretando um texto já romanceado de muitos tempos, mas que sob a direção desse Educador recebiam uma roupagem mais interessante com musicas compostas para as apresentações do Grupo…
Que tinham nome de Passaros da região, Japiim, Uirapuru…e assim por diante…isso em Junho.
No fim do Ano, o Educador criava Peças sempre voltadas ao cunho educativo, e convocava os Escoteiros do Grupo Escoteiro que dirigia, compunha a trilha sonora da Peça Teatral, cujo o acompanhamento também era realizado por um Grupo Musical montado com componentes pescados entre os mais talentosos.
Nesse caso específico…
Os Joviais…
Afora esse trabalho motivador e educativo…
O Grupo Escoteiro Veiga Cabral mantinha suas atividades para qual fora criado com reuniões, jogos de Ping Pong, futebol de Campo e de Salão, em Campeonatos internos e externos , alugando a Quadra para que Associações usassem-na e estimulassem o serviço da Cantina instalada no local, que só se subtraia de vender Alcool e Cigarros…
Para os que tinham queda pela Radiofonia, e muitos tinham…foi montado um Serviço de Autofalantes e Sonoro que ajudava a animar essas atividades…
Para o apogeu de todas essas multiplas atividades..tinham os Escoteiros, entre os festejos civicos, seus dois grandes Acampamentos, que aconteciam um em Julho e outro em Dezembro…
Tudo isso sob a Égide da realização de jogos, pescarias, provas tipicas do Escotismo …provas de nó…agarrar o rabo da raposa( essa era uma pegadinha) que os veteranos não contavam e os novatos caiam como patinhos…
Esse Universo de momentos divertidos e educativos, aconteceram por muitos anos…
Com resultados positivos que se refletem até hoje nos frutos dessas gerações que por lá passaram…
Começaram a acontecer com a chegada do Chefe Humberto Dias Santos (foto),funcionário da LBA, que também exercia a função de treinador de futebol …foi treinar o São José…antes ele já treinara o Juventus…time ligado a Igreja Matriz, e a ordem religiosa que a gerenciava.
Para comandar o São José, cujo os treinos seriam realizados no campo localizado ao fundos da Sede Escoteira Veiga Cabral.
Uniu-se a figura do Chefe Escoteiro, a do treinador, a do Diretor Teatral…ao organizador de Cordões Pássaros e Peças Teatrais, ao Regente do Coral Escoteiro do Grupo de Escoteiros de Terra…Veiga Cabral , e de muitas outras apresentações educativas que instruiram e doutrinaram futuros bons cidadãos…
Ao Chefe Humberto e assessores,e colaboradores, Chefes Escoteiros também tal qual ele, que foram responsáveis por muitos cidadãos responsaveis que hoje pelos muitos cantos do país, orgulham-se de haver vivido e convivido entre si nesse período.
Eu ofereço palmas, gratidão, e nosso Sempre Alerta!
(Luiz Jorge Ferreira é médico, poeta, escritor, autor de vários livros)
“Espia Só” – Ruben Bemerguy
“Espia Só”
Ruben Bemerguy
A pouquidade imantava os apelidos. Na minha época, pelo menos, era assim. Todos tínhamos um, fosse menino, fosse menina.
Lembro bem de alguns: o “Olho de Poço”, o “Caranguejo de Ganho”, o “Pateta”, o “Di rã”, o “Piquita”, o “Barrasco”, o “Cabeco”, o “Catuné”, o “Judeu”, o “Caimbó”, o “Tourão”, o “Grosso”, o “Mentira em Dia”, o “Abana Peido”, o “Manoel Calça Vesga”, o “Caroço de Bacaba”, o “Espia Só”, a “Mana do Céu”, a “Susi”, entre outros tantos que agora não me socorre a memória.
Era uma espécie de bullying, antes mesmo do bullying ficar famoso. Naquele tempo, famoso era só o apelido. Impiedosos, quanto mais nos incomodávamos, mais apelidados éramos. A criação do apelido era uma interpretação bem nativa e maliciosa do outro. Às vezes, uma forra, uma revanche, uma contrapartida pra aproximar o outro do ridículo espalhafatoso.
Mas a gente cresce. É uma pena, mas não há como custodiar a pouquidade para sempre. As notícias dos da pouquidade também se apequenam. Um, pouco sabe do outro. Isso, essa privação, era inimaginável na pouquidade. É que a arte de sofrer ausências não se adivinha nunca, nem na pouquidade, nem depois dela.
Outro dia, sem vê-lo há muitos anos, soube, por acaso, do “Espia Só”. Soube na dimensão da dor. “Espia” estava internado em uma Unidade de Terapia Intensiva. O nível de glicose do “Espia” seria o culpado pelo cárcere. Sim, as UTIs são isso mesmo. A exceção da voluntariedade, aquelas voluntariedades no modelo “não tem outro jeito”, de resto é, em tudo, um calabouço.
Lá – nas UTIs – reinam as posições corporais. Os verticais mandam. Identificam o curso dos corpos horizontais e os gerem. Além, em extraordinária arte divinatória, preveem e organizam a notícia do luto. Os horizontais são mandados e, o mais grave, sem nenhuma energia para sublevação.
Os verticais se vestem de branco assusta(dor). Os horizontais entregam à própria nudez um sentido falso e, ainda que famélicos de trajes, revestem o corpo em fronhas frequentemente desenganadas.
Verticais e horizontais só guardam em comum seus sofismas. E os guardam em segredos quase sagrados. Descobri-los – o sofisma um do outro – é o maior desejo entre eles. Assim, dedicam-se a interpretar indícios para alcançar o paralogismo do outro. Tudo, claro, ao contrário do cárcere, de modo absolutamente involuntário, ainda que facilmente certificados a olhos de nus de uns – verticais – e de outros – horizontais. Na esfera dessa adivinhação não há hierarquia. Essa, eu diria, é a única igualdade em uma UTI entre verticais e a população carcerária a que me refiro.
Talvez por isso, não sabem os verticais, p.ex., que o açúcar no sangue do “Espia” é contemporâneo a própria existência dele. “Espia” sempre foi um delicioso doce de mamão verde feito pela vó Esther. Desde a pouquidade “Espia” assustava por ser assim.
Obediente aos padrões das ruas de Macapá, tez preta, forte, pequena altura, cabelo pixaim, nariz fino e arrebitado e dentes como esculpidos em marfim.
Espia era também nosso goleiro no time da praça. Dada a posição em campo, já se prevê, com razão, que Espia não executava as tarefas do futebol com habilidade e, por isso, goleiro, sempre goleiro. A fragilidade acrobata do Espia, entretanto, não desmaiava a sua alegria quando fazíamos um gol. Era o primeiro a nos abraçar, embora o mais distante dos atacantes, se assim se pode dizer. O abraço do Espia me abraça a vida toda, especialmente agora, bem longe da pouquidade.
Ao contrário do futebol, Espia era imbatível na peteca e no celotex, esse, chamado hoje, parece, futebol de mesa. Espia colecionava os troféus que nós mesmos fabricávamos. Em regra, troféus de lata e cera de vela usada. Valia muito. Nossa mãe do céu!
Tenho muitas lembranças do Espia. Muitas mesmo. Não esqueço que os da pouquidade costumavam dizer “não levar desaforo pra casa”. Espia dizia, sua mãe havia cavado um poço no quintal da casa só pra ele desaguar as falas de atrevimento. Do poço, segundo o Espia, não brotava água, mas luz de lua. Para ele e sua mãe, água só amazonava. Luz de lua curava. Um santo remédio de vida. Hoje entendo bem a filosofia da mãe do Espia e do Espia.
Soube na dimensão da mais intensa dor do último suspiro do Espia no mundo dos verticais. Pra mim, Espia voltou ao poço que sua mãe cavou no quintal da casa. Se a água só Amazona, a luz de lua cura.
Bendita a sua memória – Z’L.
(Ruben Bemerguy é advogado e membro da Academia Amapaense de Letras)