Dólar e a queda vertiginosa perante o real nas últimas semanas. Oportunidade?

Dólar e a queda vertiginosa perante o real nas últimas semanas. Oportunidade?
Leandro Távora*

Inflação, escassez de produtos, guerra no Leste Europeu, petróleo nas alturas, contra todas as probabilidades, o dólar perante o real já acumula uma queda de quase 15% no ano de 2022, a curiosidade é que contra as principais moedas do mundo, ele se valorizou, contra o euro 4%, libra esterlina 3%, franco suíço 2%, iene 6% e as perguntas das últimas semanas tem sido: é hora de comprar dólar? Será que pode cair mais? Por que está caindo?

Cabe relembrar, o real só chegou a manter paridade com o dólar entre 1994 – ano de criação do plano real – a 1999, anos em que o governo controlou artificialmente a taxa de câmbio para que não houvesse uma disparada na desvalorização da nossa moeda e novamente gerasse uma inflação descontrolada. A partir de então, o governo passou a adotar a taxa de câmbio flutuante, o que impactou o bolso do brasileiro, mas por outro lado, ajudou as exportações brasileiras que amargavam resultados negativos. Em 2002, pré-eleição do ex-presidente Lula, já era possível ver um dólar a quase R$ 4,00.

No atual cenário, há fatores que podem explicar essa valorização tão abrupta do real sobre o dólar, ainda que com uma guerra acontecendo, a primeira impressão fosse a de que investidores saíram de posições mais voláteis e corresse para investimentos mais seguros, no caso, o dólar, fazendo assim com que ele disparasse e não é o que tem se visto aqui no Brasil, um dos motivos, é que o país é um grande exportador de commodities.

Para controlar a inflação, a 1º medida que a politica monetária de um país pode tomar é elevar a taxa SELIC – assunto esse já debatido em coluna anteriores – mas basicamente, ela serve de parâmetro para definir as taxas de juros do mercado, Selic alta é sinônimo de juros mais altos e consequentemente serve de freio na busca por crédito, diminuindo o consumo e finalmente, baixando a inflação.

Mas ela também serve de balizamento para o endividamento do próprio governo, pois quando a SELIC aumenta, eleva-se também o cupom de prêmio para quem investe em títulos da dívida brasileira, o famoso Tesouro Direto Nacional – hoje o investimento mais “seguro” do país – ou seja, na busca por ativos de baixa volatilidade e com altas rentabilidades, investidores estrangeiros tem ingressado massivamente com investimentos no país – dinheiro esse em dólar – o que ajuda a valorizar o real. Outro fator que explica o ingresso desses investimentos estrangeiros no país, é o fato da nossa bolsa estar “barata” – o que significa dizer que ativos (empresas) estão sendo negociadas abaixo do seu valor patrimonial – razão essa responsável pela valorização de quase 15% do Ibovespa, principal índice acionário do Brasil.

O que fazer nesse cenário? O dólar não é visto nesse patamar desde o cenário pré-pandemia, em meados de março de 2020, logo, a moeda nesse valor, poderia ser uma boa oportunidade para quem deseja ou aumentar posições em empresas americanas ou iniciar os investimentos estrangeiros, lembrando que prever a taxa de câmbio é meramente um exercício de futurologia, com cenário político e econômico brasileiro instável, o dólar pode do dia para a noite, mudar sua rota e voltar a subir. Infelizmente, no Brasil, esses ruídos pesam a mão no mercado financeiro.

Para o investidor de longo prazo, a máxima é uma só, preço importa, mas como os aportes serão constantes ao longo dos anos, será inevitável comprar nos mais variados preços, tanto ativos, quanto moedas.

*Leandro é empresário, pecuarista e investidor, formado em Direito pela Estácio Seama com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas.
Ele escreve toda semana neste site sobre economia, investimentos e negócios.

Twitter: @leandrotavora
Instagram: @leandrotavora

O conflito no Leste Europeu e o problema para o mundo

O conflito no Leste Europeu e o problema para o mundo
Leandro Távora*

Em minha segunda coluna neste site, eu falei sobre a inflação e de que maneira ela impactava o bolso do brasileiro, ainda em dois dígitos, ela pelo menos, já apresentava sinais de desaceleração. Acontece que agora, a antes iminente guerra no Leste Europeu, objeto de tema também desta coluna, apesar de improvável até mesmo pelos mais céticos, se concretizou na última semana e apesar de ocorrer do outro lado do Atlântico, ela traz sérias consequências a nação Brasileira.

No dia 24/02 o mundo acordou com as notícias de bombardeios em diversas partes da Ucrânia, cidades como Kiev, Chuhuiv e Kharkiv foram bombardeadas na ofensiva militar da Rússia e Vladimir Putin, presidente da Rússia, garantiu que se houvessem retaliações por parte do Ocidente, União Europeia, OTAN ou outros países, as consequências para tais seriam aquelas antes nunca vistas.

Como Putin não atacou diretamente nenhum membro da OTAN, a entidade se viu de mãos atadas em uma possível retaliação, já que seu artigo 5º garante defesa militar aos seus membros em caso de ataque por alguma nação, o que não é o caso da Ucrânia, ainda que estivessem “flertando” para um possível ingresso. Acontece que além das inúmeras vidas perdidas e que ainda serão, infelizmente, há também do ponto de vista econômico e financeiro, uma catástrofe em curso e que gerará uma reação em cadeia mundial.

EUA, União Europeia e diversos países, receosos com uma ofensiva militar para tentar proteger a independência da Ucrânia, tentaram por outro caminho, através das sanções econômicas, pressionar o ditador Vladimir Putin a retroceder com a invasão ao país vizinho, o que em um primeiro momento, parece não ter surtido efeito, pois a incursão militar continuou e sem sinais de que irá retroceder.

Foi então que as sanções se tornaram mais severas e chegaram a dois pontos cruciais: bloquearam a Rússia do sistema SWIFT, que é o sistema de comunicação interbancária e sustenta as transações globais e principalmente, suspenderam o acesso dela as suas reservas internacionais em moeda forte, ou seja, a partir daquele momento a Rússia não poderia negociar os seus títulos da dívida adquiridos a título de reserva internacional nos EUA, Londres, Canadá, Japão e em diversas outras economias fortes, ou seja, o “colchão econômico” não poderia ser mais utilizado até então, o que gera um grande problema quando o país detentor das reservas, por exemplo, tem uma baita desvalorização de sua moeda local, como é o caso da Rússia com o Rublo.

Uma das principais consequências da consumação dessa guerra foi no Petróleo. O Petróleo Brent, cotação que serve de parâmetro para a paridade internacional de preços, atingiu hoje, 03 de março de 2022, a maior cotação desde a crise do subprime em 2008, ou seja, com ela nesse patamar, a defasagem do preço dos combustíveis no BR é a maior desde 2016, logo, a Petrobras não aguentará muito tempo sem que haja novo reajuste no preço da gasolina, que já é extremamente cara por aqui e é aí que chegamos no problema citado no início da coluna, a gasolina é uma das maiores responsáveis pela geração da inflação, com um novo aumento, não haverá outra consequência que não seja a aceleração novamente dela.

Muito provavelmente, com as sanções que vem sofrendo a Rússia, será cada vez mais difícil se movimentar no xadrez não só político mundial, mas também no mercado internacional. Isso porque diversas empresas tem fechado suas operações no país, em protesto à invasão à Ucrânia. A Maersk, uma das maiores transportadoras do mundo, por exemplo, suspendeu a atracação de seus contêineres em portos Russos por dois motivos principais: o receio de estar burlando alguma sanção americana e de ser recebida a tiros, como já foram relatados em algumas situações, o que dificultará os fretes.

Conforme citado em coluna anterior, um dos maiores impactos para o Brasil, seria a suspensão da exportação pela Rússia, dos fertilizantes utilizados na agricultura brasileira, o que impactara diretamente no preço dos alimentos brasileiros, e mais uma vez, gerará ainda mais inflação. Já que a importação de Belarus está suspensa desde fevereiro por proibição do país de utilizar um porto na Lituânia para escoamento, o cerco se fecha cada vez mais pelo produto.

Ao que tudo indica, o cenário econômico e financeiro mundial tende a sofrer e por consequência, o brasileiro. Bancos e consultorias já começaram a revisar, para cima, suas projeções de inflação para 2022 e 2023 e por ora, os principais atingidos serão o petróleo, trigo e seus derivados, ou seja, o que já estava caro, tende a ficar ainda mais.

*Leandro é empresário, pecuarista e investidor, formado em Direito pela Estácio Seama com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas.
Ele escreve toda quarta-feira neste site sobre economia, investimentos e negócios.

Twitter: @leandrotavora
Instagram: @leandrotavora

SELIC e o impacto no cotidiano do brasileiro

SELIC e o impacto no cotidiano do brasileiro
Leandro Távora*

Inicio essa coluna agradecendo primeiro a Deus e depois a Alcinéa, pelo convite e oportunidade de publicar e assim ampliar o alcance da mensagem que tento incessantemente transmitir ao maior número de pessoas da sociedade, seja ela sobre investimentos, business e economia.

Na primeira coluna, vamos tratar sobre um assunto que impacta diretamente na vida de todos os brasileiros, o aumento da Taxa SELIC, que já era esperado e que foi objeto da última reunião do COPOM – Comitê de Política Monetária do Brasil, ocorrida hoje. Primeiramente, cabe esclarecer, do que ela trata. A Taxa SELIC é a taxa básica de juros do país, ou seja, é através dela, que as instituições financeiras, sejam elas, públicas ou privadas, se lastreiam na hora de definir suas taxas de juros, aquelas que comumente são usadas para emprestar dinheiro ou para financiamentos aos correntistas.

Ela tem importância fundamental ao investidor, pois a Taxa SELIC influencia diretamente na rentabilidade de investimentos de renda fixa e até da bolsa de valores. De forma mais simples, o valor da Selic indica quanto o governo paga de juros para as instituições financeiras e pessoas físicas que compram títulos públicos do Tesouro Nacional, o investimento mais seguro do país são os títulos públicos, especialmente o Tesouro SELIC, ele e os outros são facilmente comercializados através do Tesouro Direto. Ou seja, quando há um ambiente de SELIC alta, os investidores tendem a migrar para renda fixa pela segurança de estar “emprestando” dinheiro a união, o que faz com haja uma queda no preço das ações pela pressão da migração desses investimentos. É aí que aparecem as oportunidades de comprar excelentes empresas na bolsa de valores, por um preço menor ao que elas valem, mas trataremos disso em colunas subsequentes.

O ponto mais curioso da SELIC, é que ela é usada para controlar a inflação do país. Isso mesmo, aquela palavra que você ouve frequentemente nos jornais e que é responsável pelo aumento generalizado dos preços dos produtos, é quem define de que forma caminhará a SELIC, com inflação mais alta, há o aumento da SELIC para conter o consumo da população e assim diminuir a demanda por produtos, fazendo com que seus preços caiam. SELIC baixa, significa taxas de juros mais baixas, logo, há busca maior por crédito no mercado, o que acaba aumentando dinheiro em circulação, essa é uma das formas da política monetária do país para aquecer a economia.

Em suma, com esse ambiente de SELIC em dois dígitos veremos alguns cenários: alguns investidores migrando para renda fixa visando a estabilidade e segurança das aplicações em detrimento da renda variável, freio na busca por crédito no mercado em virtude das taxas de juros mais altas praticadas pelas instituições financeiras, na tentativa de conter a inflação.

Segundo a projeção do Banco Central, provavelmente a Taxa SELIC se manterá em dois dígitos durante todo o ano de 2022, pois com inflação também em dois dígitos, deverá demorar até que esse aumento impacte diretamente a diminuição dela. Ainda veremos por algum tempo os preços dos produtos em patamares elevados.

*Leandro é empresário, pecuarista e investidor, formado em Direito pela Estácio Seama com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas.
A partir de hoje Leandro Távora escreverá toda quarta-feira neste site sobre economia, investimentos e negócios.

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Minhas histórias, minhas paixões

Minhas histórias, minhas paixões
Carlos Sérgio Monteiro*

A Política

O ano era 1985, a dor ainda estava presente com a morte do meu pai, Luiz Carlos Araújo Monteiro (17/04). Nesta época, eu peregrinava nas oficinas mecânicas como vendedor da White Martins (solda, maçarico, máquinas, etc.) num Corcel II azul do meu irmão Luizinho.

Em junho/85 bate na porta do meu apartamento o amigo de muitas estripulias e peripécias, desde Macapá até Belém – alunos da Escola Técnica Federal do Pará, Sandro Azevedo que me convida para trabalhar na campanha eleitoral do seu pai, Azevedo Costa.

Resolvi apostar no projeto, trocando um salário de R$ 3.500,00 (dinheiro de hoje), da White Martins, por uma ajuda de R$ 1.000,00, para trabalhar como mobilizador.

Naquele tempo, a justiça eleitoral credenciava os partidos para tirarem o título de eleitor e nós, com uma mão preenchíamos o formulário para tirar o título de eleitor e com a outra entregávamos de casa em casa, as propostas do candidato.

Cumprida a primeira etapa em Macapá, fomos pra Santana, que era distrito de Macapá. (Adoro fazer campanha em Santana). Foi a primeira vez que me envolvi em campanha eleitoral, confesso que apaixonei ao ver os diabinho (hoje fake news) do Raimundinho Capiberibe, as estratégias de Manoel Dias (Duca), João Capiberibe, Leonai Garcia, César Bernardo, Paulo Guerra, Jurandil Juarez, Manoel Costa, Douglas, Abdon e tantos outros… No comando do marketing estava Walter Jr., um banho de competência para fazer do professor de inglês, perseguido da ditadura militar, negro e pobre, Raimundo Azevedo Costa, Prefeito de Macapá, com o slogan “Macapá vai brilhar”, na voz do interprete Dominguinhos do Estácio.

Prefeito Azevedo Costa e Vice Raquel Capiberibe, venceram a eleição, sendo os mais votados proporcionalmente de todo o País. Raquel, dava o tom feminino, professoral e de mulher aguerrida. Ela mostrava o lado social que Macapá precisava resolver.

Fazendo um corte epistemológico, me vem a lembrança a estratégia marcante de pegar o candidato Azevedo Costa, que era bom de discurso no palanque, não colocar, por enquanto, no programa de Tv. Um mês de campanha e já havia um clamor do eleitorado. Cadê o Azevedo? Na verdade estava sendo preparado pela equipe de média training (nessa época nem era esse nome. Kkk). Os adversários tremeram quando viram o professor negro na telinha, dando show com a apresentação das propostas para governar Macapá. Todos os dias quando terminava o meu trabalho de mobilizador, me enfurnava no comitê central que funcionava na Rua Cândido Mendes com Av. Pe. Júlio Ma. Lombaerd. (Prédio do Seu Celestino) para ver os meus ídolos da política local. Júlio Pereira (PDT) e Geovane Borges eram os grandes adversários de Azevedo Costa, principalmente pela força que tinham no sobrenome e na estruturas econômicas, a BETRAL e a máquina da Prefeitura de Macapá, respectivamente, já que o primo Jonas Pinheiro Borges era o prefeito de Macapá (tampão). Refrescando a memória, me vem a cabeça um fato pitoresco, quando os apoiadores de Geovani Borges, escrevem nos muros dos moradores do bairro do Trem: “O TREM ESTÁ COM GEOVANI”. Na calada da madrugada, fomos completar a frase: “E OS PASSAGEIROS COM AZEVEDO”. Kkkk Foi uma campanha de muito aprendizado. Inesquecível!
Com a posse de Azevedo Costa e Raquel Capiberibe, fui o primeiro do segundo escalão nomeado Diretor de Material e Patrimônio da PMM, meu primeiro emprego público, o que aproveito para agradecer eternamente ao Prefeito Azevedo Costa e ao amigo Sandro Azevedo (Secretário de Administração). Aliás, não poderia deixar  de mencionar os intermináveis debates na maloca do Circulo Militar que protagonizávamos com o amigo Zé Maria, secretário de administração do prefeito Jonas, Luiz dentista da CEA.

Esse primeiro passo me fez conhecer na prática as campanhas eleitorais para depois estudar e chegar a Consultor Político, uma das minhas profissões preferidas. Depois de 34 anos nessa estrada com muito mais vitórias do que derrotas, continuo sendo um eterno aprendiz, um eterno aluno, afinal nenhuma campanha é igual a outra, não tem receita de bolo, não tem Ctr C Ctr V.

Ao término de cada campanha sempre prometo que aquela foi a última, vou parar, esquecer política, campanha eleitoral, vou me aposentar. Aí chega alguém pra me fazer mudar de ideia. Sou um apaixonado, sonhador dessa cachaça político/eleitoral e olha que essa porra já me deu tantas decepções.

Bem fique atento, nos acompanhe que no próximo capítulo vou contar sobre a minha primeira campanha eleitoral que coordenei, elegendo Luis Banha (PTB) para vereador de Macapá, junto com Carlos Lobato, Paulão, Isaias Lima, Tio Jair, Mário Cuia, Tia Orlandina, Breka, Dona Nair, Lair e tantos outros.

*Carlos Sérgio Monteiro é advogado, consultor político e jornalista

Velhice – Ray Cunha

Velhice
Ray Cunha

raycunhaA preocupação com a velhice perpassa idades, gêneros, etnias, regiões e sociedades. Quase todo mundo se preocupa com ela, mas noto que a velhice atinge mais os jovens, e de maneira concreta. Quanto menos esclarecido, menos espiritualizado, menos educado é o jovem mais ele desdenha, e até hostiliza, os velhos, tratando-os com desprezo e nojo. O que é, pois, a velhice? Por que inspira tanta repugnância? Por que é tão menosprezada?

Envelhecer é morrer, pois que todos nascem com destino físico traçado, o código genético. A vida mental determinará o dia e a hora da morte, mas morrer é certo; podemos até voltar do corredor espiritual e ressuscitar, contudo, o corpo carnal não durará mais do que um século, e, se durar, não será por muito mais tempo. E até chegar ao fim, vai-se deslizando, cada vez mais depressa, num tobogã mais e mais liso; são as células morrendo mais do que nascendo, a pele se enrugando, os ossos tornando-se mais porosos, os órgãos falindo, até esvair-se a energia vital, a centelha do mistério da vida, e surgir o abismo, mas também a luz.

O desdém que alguns jovens e adultos dispensam aos velhos decorre de dois fatores: um, a animalidade dos jovens. Nela, a morte, e a velhice, não existem; no seu mundo só há beleza, vigor, primavera. O outro fator é o apego, a ilusão de que nossas quatro dimensões são para sempre.

Notaram que as crianças não excluem os velhos? Pois elas ainda têm aberto o portal que transcende as quatro dimensões, e que só pode ser transposto por meio da inexistência do apego, da pureza.

O fato é que o tempo nem é importante. Importante é a energia. Há velhos que jamais deixam de trabalhar, de produzir, de ajudar os jovens a construírem seus mundos, e de amar, E há os que morrem mentalmente, mas seus corpos continuam vagando por aí, deteriorando-se lentamente, às vezes crivados de piercings, ou com a pele quase toda furada em pequenos pontos coloridos, ou sob a mesa de um cirurgião plástico. A energia está na mente; os corpos são apenas prisão, da qual saímos porque amamos.

Já passei dos 60 e convivo com todo mundo, inclusive jovens. Não quero nada dos jovens além da oportunidade de vê-los na sua beleza imortal. O fato é que transcendi o tempo, porque de tanto ouvir o riso das crianças, de tanto observar as rosas, de sentir os jasmineiros umedecendo as noites tórridas do trópico, de inalar a fragrância do mar, que inunda minha alma, de tanto montar a luz no cataclismo do primeiro beijo, acabei por ouvir o atrito da Terra no espaço e de sentir que a eternidade é agora.
Brasília, 28 de dezembro de 2015

Sylvya , com dois ípsilons ou estudo de caso

SYLVYA, COM DOIS ÍPSILONS ou ESTUDO DE CASO
Ruben Bemerguy

Ruben_8-150x150Nenhum amor é igual a outro amor. Cada amor ordena uma ciência própria. Por isso o amor não se decora. Só se decora a tabuada. A poesia, como amor, também não se decora. Poesia se memoriza, especialmente se as letras têm o perfume de Macapá. Aprendi isso ainda menino.

Naquela época, e mesmo despertando uma adolescência febril, eu vigiava meus amores de longe. Tinha muito medo que meus amores soubessem de meu amor. Escondido de meus amores eu era como um córrego pequeno que corria por debaixo das ruas de Macapá. Às vezes eu também era poço. Às vezes, eu também era mato.

Essa estética de vida me impunha cultivar a imaginação na imaginação. Continue lendo

Prazer e felicidade – Por Débora Borralho

debora1b2“Prazer é bem diferente de felicidade”
Por Débora Borralho

Não é novidade nenhuma que Oscar Wilde é um dos maiores gênios da literatura mundial. E temos que concordar que seria um absurdo não reconhecer a grandiosidade de “O Retrato de Dorian Gray”, único romance escrito pelo autor em 1890.

A literatura Inglesa tem obras impressionantes, mas esta é, sem sombra de dúvidas, uma das que mais me deixam extasiadas no momento da leitura. A força das palavras usadas são as que nos envolvem e remetem ao enredo como se este pudesse estar acontecendo na atualidade.

Ainda hoje, a vaidade humana e o egoísmo destroem vidas e magoam pessoas. Pensando apenas em seu próprio benefício, visando apenas os prazeres da vida, o homem caminha a mesma trilha do jovem Dorian Gray: o da destruição.

Creio que Oscar era um visionário, pois mesmo após os inúmeros entraves para a publicação da obra e tantas críticas ao texto irônico que construiu, sabia que não estava apenas retratando a sociedade Inglesa da época, mas prevendo no que as pessoas do futuro iriam se tornar. Muitos de nós somos apenas belos retratos, belas figuras que caminham vazias.

A incapacidade de pensar no próximo como alguém igual a si próprio faz do mundo um deserto, refletir sobre o a imagem que estamos construindo de nós mesmos é essencial para que não nos assustemos tarde demais, como aconteceu com Dorian Gray que viu a podridão de sua alma exposta na obra de arte que o representava.

Busquemos a “harmonia do corpo e da alma, que nós (…) separamos para inventar uma idealidade vazia.”

Vidas Secas – Por Gabriel dos Santos Birkhann

gabrielVidas Secas
Por Gabriel dos Santos Birkhann (*)

Graciliano Ramos é, sem sombra de dúvida, um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.

Sua escrita é afiada como uma agulha, não releva as calamidades, nem borda a seca.

É direta tal como a exige a situação: “Vidas Secas” publicado em 1938 até hoje comove gerações de leitores, que de diferentes partes do Brasil e do mundo, sentem compaixão da família de retirantes que atravessa o sertão em busca de algo melhor.

Graciliano mostra a dura realidade na sua forma nua e crua. O livro se abre de modo avassalador, já expondo todo o drama ao qual aquela família estava fadada na sua saga:

“Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos”. (p. 9).

Na realidade dura do sertão, em meio à saga ou “luta pela vida”, o coração do homem se endurece: Fabiano sabe que a demora é a morte, e por isso impele, com grito, o filho mais velho a caminhar.

Fabiano, no entanto, se no início não gostamos dele, o livro se encarrega de mudar nossa concepção dele: o vemos como fruto de um meio excludente, não incluído como cidadão brasileiro ¹ (as ações das “autoridades policiais” mostram a divisão da cidadania arbitrariamente realizada).

À medida que a narrativa vai se desenrolando, Ramos vai mostrando a humanidade dos personagens, tal como na Continue lendo

Sobre celulares, boas maneiras e outras – Por Gabriel Birkhann

gabrielSobre celulares, boas maneiras e outras observações a mais
Por Gabriel dos Santos Birkhann

Esse texto é para “os chatos”. Os “otários” (sic) para alguns. Os “certinhos” (sic) para outros.
É. Sou meio chato. Na verdade, chato em totalidade.
Sou chato porque aprecio o mínimo (o mínimo, apenas isso!) possível de educação nos ambientes sociais.
Sou chato porque acho falta de respeito fumar num hospital!
Sou chato porque também acho falta de respeito buzinar, falar alto ao telefone em lugares proibidos (e convenhamos se houvesse bom senso e SIMANCOL, nós nem de lei precisaríamos!), e também porque vejo horrorizado quem acha normal parar e/ou estacionar em lugar proibido, ou fazer manobras radicais em áreas urbanas sem a menor preocupação ética (se a tivessem, não fariam isso!).

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