Siga na luz, meu vizinho Chicola

Era madrugada quando meu vizinho e amigo partiu silenciosamente. Mas a manhã chegou trazendo um sol bochechudo para secar as lágrimas de todos que acordaram com a triste notícia.
Chicola Penafort partiu. Se libertou das dores, mas na gente que fica por aqui há a dor da sua partida. Mas essa dor de hoje logo será substituída por doces lembranças, tão doces como aqueles cocos do seu quintal que tantas e tantas vezes  me presenteou com cachos pois sabia o quanto eu gosto de uma água de coco geladinha e doce.

Escrevo segurando as lágrimas. Não vou chorar, meu amigo. Você era da alegria, do riso, do sorriso aberto e franco de menino sapeca do Formigueiro.
Não teremos mais os papos na calçada, os risos, as conversas sobre tudo (carnaval, política, segurança etc), mas fica em nós para sempre seus exemplos de bom pai, marido, amigo e vizinho.

Ah, um vizinho excepcional, daqueles que acredita que “vizinho é o  parente mais próximo”,  por isso tinha todo cuidado com a vizinhança, estava sempre pronto para servir e proteger.

Eu tenho tanta coisa para dizer, mas uma lágrima está teimando em cair. Peraí, deixa eu ir lá fora olhar o céu e pedir a Deus força e consolo para tua linda esposa Josy Façanha, teu filho, teus parentes e aquela multidão de amigos.Pronto. Orei. Na varanda da minha casa. E fiquei com o olhar perdido nos teus coqueiros e nas tuas flores que sobre o muro passam para o meu quintal e proporcionam momentos de lirismo.Ah, fui lá no fundo quintal. Olha como cresceu tanto aquela mudinha de limão caiana que há anos você me deu. É uma delícia.

Vizinho, vou parar por aqui. Há tanta coisa a ser dita, mas o coração tá apertadinho – o que impede que as palavras fluam. Nesses momentos a gente fica mesmo sem palavras. Né?
Faltam palavras, mas o meu sentimento de gratidão a você é imenso.
Descansa em paz, meu vizinho; que Deus e os anjos te recebam na luz, te acolham em seus braços ternurais e confortem tua família, amigos e vizinhos.

Padre Paulo – 30 anos de sacerdócio

Padre Paulo, um verdadeiro servo de Deus, completa hoje 30 anos de sacerdócio. Durante todo o dia foi alvo de significativas homenagens de milhares de fiéis e amigos.
Ele foi ordenado padre  pelo bispo Dom Luiz Soares Vieira na Igreja Nossa Senhora da Conceição, no dia 5 de julho de 1991.  
“Lembro a Igreja Nossa Senhora da Conceição totalmente lotada . O povo feliz e em festa. Recordo de meus pais Domingos e Maria, minha irmã Vera e o Mestre Sacaca que entrou todo de branco trazendo uma caixa de Marabaixo”, recorda. Lembrou também dos saudosos padres Jorge Basile, Lino Simonelli, Francisco Usai, Ângelo Consoni, Antônio Cocco, Rogério Alicino, Mario Rossetti, Luiz Carlini, João Gadda, João Sometti que estavam presentes naquele dia tão importante.

Padre Paulo é uma das pessoas mais amorosas e solidárias que conheço. Ele não apenas prega o amor. Ele pratica. É um exemplo de amor ao próximo. E é com esse amor que ele luta pelos negros, pelos pobres, pelos doentes. Além disso, é um grande defensor da cultura amapaense.

Neste dia em que ele completa 30 anos de sacerdócio ele enfatiza que é muito feliz e que nunca deixou nem deixará  de amar os pobres e defender os pecadores.
“Sou um cara muito feliz. Sem a minha família, a minha querida comunidade e os meus amigos, que são aos milhares não seria o que sou. Continuarei firme e até o fim da minha vida quero lutar para deixar esse plano melhor do que cheguei. Amar é o único meio para buscar DEUS”, ressalta.

Obrigada,Padre Paulo, por seus ensinamentos e exemplos. Saiba que para mim é uma bênção viver na mesma época e mesma cidade que o senhor e que a sua amizade é um presente divino.

Padre Paulo: “Ser negro é defender a sua essência”

#TBT

Encontro de poetas da minha casa. Na foto: Flávio Cavalcante, eu, Mauro Guilherme, Neth Brazão, Celestino, Raquel Braga, Manoel Bispo, Maria Ester, Rui Guilherme e Cléo Araújo.
Saudade dessas aglomerações poéticas.

Siga na luz, meu amigo Mauro Guilherme

Meu poetamigo meu amigo-irmão, o mundo fica menos poético, menos doce, menos musical, menos alegre, sem você. Segue na luz. Aqui a gente fica vendo o rio sempre indo, nunca voltando; sempre partindo, nunca ficando. Às vezes até parece que ele passa chorando.

Vítima de Covid faleceu hoje, aos 55 anos em Macapá,  o promotor de Justiça, poeta, cronista, contista, cantor e compositor Mauro Guilherme.
Escritor premiado, inclusive nacionalmente, Mauro é autor de mais de dez livros de poesias, romances e contos e organizou diversas antologias de autores amapaenses.
Era um grande incentivador dos escritores e poetas do Amapá. A todos estimulava e ajudou vários a publicarem livros. Dava uma grande valor a literatura produzida no Amapá, tanto que era um dos primeiros a comprar e divulgar as obras locais.

Participava ativamente dos movimentos literários.
“A existência do Mauro Guilherme foi rica, pródiga de talento e criatividade, e o seu legado literário, artístico e humano vai contribuir para todos nós que convivemos com ele e também para outras gerações, em um ciclo vital e perene da Arte, sempre tão necessária e essencial”, disse o presidente da Associação Amapaense de Escritores, Paulo Tarso.

O jornalista e escritor Elton Tavares, ressaltou que “Mauro foi um exemplo de empenho na disseminação da cultura e da literatura amapaense. Toda essa trabalheira aí de conversar com autores, organizar formatação dos livros, artes para capas e etc, só com muito amor pela arte literária”.

Nas redes sociais centenas de pessoas lamentaram a morte dele e destacaram suas inúmeras qualidades.

Mauro foi meu grande amigo. Não era apenas um irmão de poesia. Era um irmão de alma. Nossa AMIZADE era maiúscula mesmo. A partida dele me deixou triste demais. Durante todo o dia eu tentei escrever alguma coisa, mas as lágrimas embaçavam meus olhos e eu não conseguia ver, com nitidez, o teclado para escrever alguma coisa. Mas sei que tudo que eu pensasse escrever ou que tente escrever agora não será suficiente para falar da nossa AMIZADE e da sua importância para a literatura amapaense. Nem dos tantos sonhos que sonhamos juntos para valorizar cada vez mais os escritores e suas obras.

E os nossos saraus? Durante a pandemia não nos encontramos pessoalmente nenhuma vez; mas por telefone falávamos da saudade dos nossos saraus e encontros poéticos na minha casa e planejavamos um grande e longo sarau para depois da pandemia, juntando todos para matar saudade, declamar, cantar e trocar afetos. E, de repente, ele parte assim. Sem cantoria, sem sarau de poesia, sem avisar, sem despedida. Partiu como quem vai ali na esquina comprar um guaraná e já volta.
Gratidão, meu amigo, por sua amizade, afeto, ensinamentos… Ah, Mauro Guilherme, foi um privilégio muito grande ter sua AMIZADE (assim maiúscula mesmo).
Que Deus te receba na luz, conforte teus familiares e amigos.

(A foto na abertura desse texto é de um sarau em homenagem a ele. Homenagem feita pelos escritores da coletânea “Quinze dedos de prosa”  com direito a discursos e a entrega de uma  placa a ele como nosso reconhecimento pelo apoio dado aos escritores amapaenses. Dá pra ver a placa em cima da mesa. Né? Abaixo posto mais algumas fotos desse evento)

Quando meu amigo se perdeu na mata

Há muitos anos um amigo meu se perdeu na mata. Era caçador experiente, conhecedor dos segredos da floresta, acostumado a entrar na mata para relaxar, apreciar as árvores e caçar algum animal para comer.
Mas certo dia ele se perdeu. Ao atravessar um igarapé por cima de um tronco caiu e bateu a cabeça. Ficou meio zonzo e, ao invés de tomar o caminho que o levaria ao ponto de partida, tomou o rumo contrário.
Ele entrou na mata com dois amigos e como sempre cada um seguia para um lado, mas às 16 horas tinham que se encontrar no ponto de partida para retornar.
Nesse dia meu amigo não retornou. Seus dois amigos esperaram até o anoitecer… e nada. Voltaram para Macapá para pedir ajuda.
Muita gente se mobilizou. Mesmo quem não tinha experiência nenhuma com mata queria ir à procura dele.
Passaram-se dias e dias… e nada. Os que entravam na mata davam tiros na esperança de que ele respondesse. É assim que costumam fazer. Mas, desta vez, não havia resposta.

Na caçada anterior, meu amigo trouxe uma guariba para ser seu bichinho de estimação.

Já estava para completar um mês do desaparecimento quando a mãe dele lembrou da guariba. E disse: “É a mãe dessa guariba que está prendendo meu filho na mata. Soltem ela, devolvam ela para a mata que ela vai soltar meu filho”. Dito e feito.
Soltaram a guariba (meu amigo Cristiano – o Raimundo Maia Barreto – é testemunha disso).
Pois bem, no dia seguinte o desaparecido foi encontrado navegando num rio numa jangada que ele improvisou com galhos de árvores e o pouco que restava de sua roupa.
Foi encontrado por um avião de pequeno porte cedido pelo governo para sobrevoar a área.
“Não foi o avião que me me encontrou. Fui eu que o encontrei”, contava, dizendo que ao ouvir o barulho do avião correu pro rio na jangada que acabara de fazer e fez sinal levantando os braços.
Trazido para Macapá, foi internado no Hospital Geral (hoje HCAL) para fazer exames. Dois dias depois em sua casa nos contava a aventura.
Relatou que ouvia os tiros dos colegas, mas não podia responder porque só tinha uma bala na sua espingarda que não poderia desperdiçar pois lhe seria muito útil se encontrasse algum animal feroz pela frente. Se alimentava de frutas, folhas e raízes; matava a sede com água que tirava de um cipó; passava as noites acordado no topo de árvores; dormia pouquíssimas horas por dia e para isso deitava no chão e se cobria com folhas; passou fome e muito frio e não tinha noção de quantos quilômetros andou – pela floresta, riachos e subindo e descendo morros –  procurando a saída. Em vários momentos percebeu que andava em círculos, pois sempre passava pelo mesmo lugar.

Quando foi encontrado estava magro, quase nu, os pés, braços e pernas cheios de arranhões. Mas com muitas histórias para contar para os amigos, colegas de magistério e alunos pelos quais era tão querido.

E se alguém pensa que depois dessa ele se aquietou… negativo. Muchê continuou indo pra mata, porém nunca mais caçou guariba.

Há 10 anos – Encontro de amigos da Favela

O Milton Sapiranga Barbosa ligou pra um, ligou pra outro, e de repente conseguiu reunir uma boa turma de amigos de infância do antigo bairro da Favela (hoje bairro Central).
Cervejinha gelada, refrigerante, tira-gosto, muitas gargalhadas, boas lembranças animaram certa tarde de janeiro de 2010 no pátio da casa da família Maia.
Gente que não se via há décadas se encontrou por lá. Só para vocês terem uma idéia, o Walter há 29 anos não vinha em Macapá.

Elton Tavares por Elton Tavares

“Nunca fui sonhador de só esperar algo acontecer. Sou de fazer acontecer. Não sou e nunca serei anjo. Não procuro confusão, mas não corro dela, nunca!

Nunca fui de pedir autorização pra nada, nem pra família, nem pra amigos. No máximo para chefes, mas só na vida profissional.

Nunca fui estudioso, mas me dei melhor que muitos “super safos” que conheci no colégio. Nunca fui prego, talvez um pouco besta na adolescência.

Nunca fui safado, cagueta ou traíra, mesmo que alguns se esforcem em me pintar com essas cores.

Nunca fui metido a merda, boçal ou elitista, só não gosto de música ruim, pessoas idiotas (sejam elas pobres ou ricas) e reuniões com falsa brodagem.

Nunca fui “pegador”, nem quis. É verdade que tive vários relacionamentos, mas cada um a seu tempo. Nunca fui puxa-saco ou efusivo, somente defendi os locais por onde passei, com o devido respeito para com colegas e superiores.

Nunca fui exemplo. Também nunca quis ser. Nunca fui sonso, falso ou hipócrita, quem me conhece sabe.

Nunca fui calmo, tranquilo ou sereno. Só que também nunca fui covarde, injusto ou traiçoeiro.

Nunca fui só mais um. Sempre marquei presença e, em muitas vezes, fiz a diferença. A verdade é que nunca fui convencional, daqueles que fazem sentido. E quer saber, gosto e me orgulho disso. E quem convive comigo sabe disso.”

(Elton Tavares é competente jornalista, chefe da assessoria de comunicação do Ministério Público, editor do bombado blog DeRocha e, claro, meu amigo muito querido)

Bon appétit

“Filé Marajoara” feito pelo meu vizinho Hermes Jr especialmente para mim neste domingo. Como não ser feliz tendo um amigo/vizinho assim? Obrigada, meu querido. Vc fez meu domingo mais lindo, mais gostoso, mais colorido e mais delicioso.