Homenagem ao Seu Manoel da “Duas Estrelas”
Milton Sapiranga Barbosa

Hoje, primeiro de junho de 2010, seria um dia de muita festa no bairro da favela, em especial, em uma casa situada na esquina da avenida Mendonça Furtado com a rua Hamilton Silva. Por certo, uma mesa farta estaria posta para receber familiares, vizinhos e amigos da família Pádua/Pinheiro.
Gente humilde, gente rica do mundo empresarial e até autoridades de alto coturno seria recebida com toda fidalguia, educação e um sincero sorriso de agradecimento do Sr. Manoel Tavares Pinheiro, dono da Casa Duas Estrelas, que se vivo fosse, hoje estaria completando 86 anos, pois que nasceu em 1 de junho de 1924 . Seu Manoel Pinheiro, como era tratado por seus fregueses, amigos e vizinhos do bairro da favela, muito contribuiu com o Amapá, principalmente no âmbito comercial. Ele, juntamente com Moisés Zagury(Casa Leão do Norte), Otaciano Bento Pereira(Armazém São Paulo), Luis Pires da Costa, Isaac Menahem Alcolumbre( Casa Fé em Deus), Abrahaão Peres (Casa Peres), Stephan e Abdallah Houat(Armazém Beiruth N`América), Francisco Serrano(Farmácia Serrano) e seu pai, Sr Celestino Pinheiro(Casa Estrêla), foram idealizadores e fundadores da Associação Comercial do Amapá, do Clube de Diretores Logistas, do Serviço de Proteção ao Crèdito e da Junta Comercial do Amapá( que, se não me engano hoje é a ACIA), entidades, que até hoje estão servindo a sociedade amapaense, em especial, a classe empresarial e aos comerciários. Neste primeiro de junho não poderia deixar de prestar minha homenagem ao seu Manoel Pinheiro, personagem importante e querida da minha infância feliz vivida no bairro da Favela. Lembro que quanto estávamos em sua casa, na esquina da Presidente Vargas com Leopoldo Machado ou no depósito da Casa Duas Estrelas, limpando latas de óleo ou garrafas de vinho, que ele comprava em grande quantidade, ele aparecia para fiscalizar o serviço encomendado ou tirar sarro com algum moleque, mas o mais importante, ia lá para nos dar bons conselhos e ensinamentos de vida, que agregado a educação recebida de minha mãe dona Alzira, da mana Mariazinha, da dona Margarida, Dona Marieta Amorim e suas filhas Tereza e Sônia, muito contribuíram para a formação de meu caráter, disso não tenho a menor dúvida e, serei grato a ele e aos outros enquanto viver.
Essa crônica-homenagem póstuma, foi escrita no dia primeiro de abril, quando lembrei de uma pegadinha que seu Manoel Pinheiro me aprontou no dia da mentira. Aconteceu assim:
Primeiro ele, sorrindo, me deus dois bombons e pediu que levasse um bilhete para o Nabil, na Casa Amim Richene, que ficava na outra esquina da Mendonça Furtado. Achei aquilo estranho mas não desconfiei que se tratasse de alguma brincadeira, e fui em frente, afinal o “mandado” já havia sido pago com guloseimas de todo moleque adora. Atravessei a rua e entreguei o escrito ao destinatário. O Nabil, depois de ler, riu, e escreveu mais algumas palavras no papel e mandou que levasse ao Lúcio, dono do Bar Canta Galo, que ficava três quadras dalí, na esquina da avenida Pe. Júlio. Aí sim, já fiquei desconfiado pelo sorriso maroto do filho do velho Amim, e quando cheguei no canto da avenida Cora de Carvalho, sem que seu Manoel e o Nabil pudessem me ver, resolvi ler o que continha naquele misterioso papel que ia passando de mão em mão e que provocava sorrisos. Lá estava escrito pelo seu Manoel: NABIL DÁ UMA DONZELA PRA ELE E MANDA IR LÁ NO LÚCIO . Já o Nabil por sua vez escreveu: LÚCIO, DÁ UM PÃO DOCE PRO MILTON E MANDA ELE IR LEVAR PRO MANOEL RAIMUNDO, no BAR POPULAR. Este estabelecimento comercial ficava no canto da rua Odilardo Silva com a avenida Mendonça Furtado, já bem mais distante do ponto onde se iniciara a pegadinha de primeiro de abril, muito bem bolada pelo seu Manoel Pinheiro, e que, se eu não tivesse sido curioso e desconfiado, iria andar muito, pois acho que seu Manoel Raimundo iria mandar-me levar o bilhete no comércio do seu Menezes(Cacú), que por certo, dando continuidade a pegadinha de primeiro de abril, me enviaria para algum outro amigo comerciante, estabelecido bem mais distante.
Mesmo p… da vida após ler o bilhete, não rasguei o papel e levei pro seu Lúcio, dando continuidade a brincadeira, pois não ia perder a chance de ganhar um pão doce. O seu Lúcio leu o bilhete, escreveu seu recado, me deu o pão e mandou eu ir em frente. Peguei novamente aquele papel e em seguida mostrei pra ele um dedo em riste ( o maior de todos, o do famoso “cotoco”), dizendo, “vão continuar fazendo de besta o c….”! Passo seguinte, retornei a Casa Duas Estrelas e pedi ao seu Manoel uma garrafa de flip guaraná. De posse da mesma, tomei o guaraná com a donzela e o pão doce, depois disse ao seu Manoel que o flip ficava o por conta de ter me feito de bobo naquele dia, o dia da mentira. E seu Manoel ria, mas ria pra valer da peça que me pregara,. Felizmente, como ele era tinha bom coração, nem colocou o valor do flip guaraná na conta para mamãe pagar,( pois seria surra na certa, pois ela não havia autorizado pedir fiado) Acho que ele achou justo a paga pelos momentos de diversão que eu havia lhe proporcionado e aos seus e meus dois grandes amigos. Aproveito para abraçar, neste 1º de junho, os seus filhos, Fátima, Gil, Gilberto, Ana, Cita, finalizando com um MUITO OBRIGADO SEU MANOEL, POR TUDO.
Obs: alguns dados foram extraídos do livro Personagens Ilustres do Amapá, de autoria do jornalista Coaracy Sobreira Barbosa, editado em agosto de 1997, seis meses após o falecimento do seu MANOEL TAVARES PINHEIRO.