Artigo dominical

A mensagem
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 Vários anos atrás, quando ainda se usava o telégrafo, houve um concurso para operadores de radiotelegrafia. A sala de espera estava cheia de jovens em busca de trabalho. Aguardando a chamada para apresentar os seus currículos, todos brincavam e conversavam. Ninguém prestava atenção à mensagem em pontos e linhas, porque esta era a linguagem do telégrafo, que o alto-falante transmitia. Um jovem estava sentado tranquilamente num canto. De repente, levantou-se e entrou no escritório. Após alguns minutos, saiu. Tinha sido contratado como radiotelegrafista. Os outros ficaram com raiva e lhe perguntaram por que ele tinha passado na frente de todos, apesar de ter chegado depois.

– A culpa é de vocês – respondeu o jovem – não ouviram a mensagem?

– Qual mensagem? – perguntaram os outros. Ele explicou:

– Em código Morse, o alto-falante dizia: “O homem que nós procuramos dever ficar sempre atento. O primeiro que captar esta mensagem entre no escritório e ganhará a vaga de trabalho”. Foi o que eu fiz.

Um exemplo de como é importante ficarmos sempre atentos. Por causa de uma distração, ou mesmo por falta de atenção, podemos perder muitas coisas: oportunidades, provas e até mesmo a nossa própria vida ou ser causa de acidentes graves. Ainda hoje, eu me pergunto se o fato de ter errado a ponte na estrada para Laranjal do Jari não foi, talvez, uma falta de atenção minha na direção do carro.

No primeiro domingo de Advento, a Liturgia nos propõe sempre um evangelho que é um convite à vigilância. A breve parábola do homem que partiu e entregou a casa aos empregados, distribuindo tarefas para cada um, lembra-nos que ele pode voltar a qualquer momento. Assim, chegando sem aviso, pode encontrar dormindo os que deviam vigiar. Jesus insiste: vigiai!

Ficar atentos não significa só prestar atenção, mas também estar concentrados sobre um assunto ou sobre um trabalho. O contrário, portanto, não é somente dormir, mas também ficar distraídos, ocupados, aparentemente, em mil afazeres, mas, de verdade, em nenhum. Até para aprender na escola precisa um mínimo de atenção e de concentração. Sempre, para que um trabalho saia bem feito, precisa de atenção. De outra forma, a comida fica sem sal, o documento se perde, a parede sai torta, a peça se quebra, a máquina dá prego. Quantas vezes cobramos a atenção dos outros e, por nossa vez, somos perguntados se estamos escutando ou não o que estão nos dizendo.

Sem dúvida, a capacidade de concentração é um dom pessoal, mas, de fato, hoje, se não cuidarmos, ficamos mais atarefados do que temos condição. Queremos estudar e olhar a telenovela ao mesmo tempo. Atender ao celular e dirigir. Escutar música no fone de ouvido e conversar com alguém. Impossível! Até as máquinas multifuncionais, afinal, realizam só uma função por vez e as outras em seguida.

O vigiar, ao qual Jesus nos alerta, é, justamente, um convite a encontrar o que é mais importante e, a esta tarefa, dar a nossa maior ou total atenção. Vivemos numa sociedade onde a diversão está em toda parte. Parece que vivemos para nos divertir. Certo. A vida deveria ser alegre e feliz para todos. Só que a diferença entre diversão e distração é muito pequena. Viver a vida com alegria, não significa vivê-la com superficialidade. Divertir-se, não quer dizer correr atrás de toda novidade, ocupando o nosso tempo em atividades passageiras ou mesmo inúteis. Se é verdade que a vida não deve ser uma correria louca ou um sufoco medonho para sobreviver ou ganhar mais, não pode ser também tão vazia ao ponto de querer preenchê-la com qualquer coisa, infelizmente, por medo que o tempo não passe.

Jesus não quer nos amedrontar. Pede-nos para vigiar, porque esta é a capacidade de dar valor a nós mesmos, de não jogar fora os dons que recebemos, de usá-los para algo de bom e de grande. Na sala de espera, os jovens da história podem ter aprendido algum fuxico novo, mas o que prestou atenção à mensagem ganhou um trabalho. Quem fica atento ganha o sentido da vida.

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