O Amapá e a segurança energética – Por Ruy Smith

O Amapá e a segurança energética
Ruy Smith*

Com o Apagão instalado no Amapá, já experimentamos os efeitos advindos desse evento: colapso nos serviços públicos, nas atividades econômicas e no bem-estar do povo; e um esforço de guerra pra manter serviços imprescindíveis, como hospitais. A infra de energia amapaense não conta, por óbvio, com a tão desejada segurança energética!

Voltando um pouco no tempo, muitos lembram que o então senador Sarney, eleito por 3 vezes pelo Amapá, por anos a fio prometeu a chegada do linhão, trazendo energia abundante; sem energia o Amapá estaria fadado à estagnação econômica, era a tônica da época.

Vale dizer que o popular “linhão” é uma linha de transmissão integrante do SIN – Sistema Interligado Nacional, uma rede formada por produtoras de energia (hidrelétricas, térmicas, eólicas, etc.) e linhas de transmissão de energia elétrica cobrindo grande parte do território nacional. Aqui faço um parêntese: a minha impressão é de que todo o tempo que o linhão demorou pra chegar até o Amapá foi devido à falta de viabilidade econômica do empreendimento, com altos investimentos para a pequena demanda local; a partir do momento em que hidrelétricas foram se instalando no Amapá, as coisas andaram – viramos exportadores de energia, com as hidrelétricas amapaenses ligadas ao linhão!

Pois bem, com o linhão à porta, para o Amapá consumir a energia gerada em qualquer parte do país foi necessário construir uma interface que adequasse a energia transmitida pelo linhão àquele padrão já utilizado pela distribuidora local, a CEA. Tal interface, para 13 municípios atingidos pelo Apagão, é a subestação rebaixadora sinistrada. O Amapá veio a perceber que 80% de seus municípios sempre esteve  dependente de uma única via de transmissão (o linhão) e uma única subestação – esta com 3 transformadores, 2 danificados pelo fogo e 1 backup sem manutenção regular.

Portanto, sem um Plano B planejado, mesmo com hidrelétricas em operação no Amapá, o plano emergencial adotado pelo governo federal para estancar a fase aguda da crise consiste em fornecer energia direto da hidrelétrica Coaracy Nunes – a única que possui subestação rebaixadora própria e agora fornece energia à CEA sem passar pelo linhão – bem como, ter conseguido recuperar o transformador backup para reativar a rebaixadora de Macapá, contratar 45Mw de energia de geradores e trazer 1 transformador do Jari, que ficou sem cobertura, para instalar na rebaixadora de Macapá e  ampliar a oferta de energia. Os geradores estão sendo instalados e o transformador do emprestado do Jari está em montagem.

Óbvio que essas ações de emergência são necessárias para superar a fase aguda da crise, como já dito, mas não servem ao Amapá mesmo considerando um prazo relativamente exíguo. Explico: a UHE Coaracy Nunes possui produção sazonal e, mesmo com reservatório recuperado em pleno inverno, gera cerca de 20% da demanda; a rebaixadora de Macapá, agora contando com um transformador recuperado e outro do Jari, estará sem backup nos transformadores e, assim passível de eventual falha incontornável; os grupos geradores – que vieram para suprir parte da demanda e a única fonte de energia disponível para ampliar eventual demanda ao longo dos próximos meses – são soluções em desuso, caras e poluidoras.

O Amapá nunca teve segurança energética na era do linhão; teve sorte. Hoje, com as alterações emergenciais feitas no sistema, tem menos ainda. Urge que, ao mesmo tempo em que caminham as ações emergenciais, nossos parlamentares federais, o governador do Estado, os prefeitos dos municípios atingidos, usem esse momento de exposição nacional do problema energético amapaense para pressionar, com inteira razão, por medidas que possam trazer a segurança necessária. Nesse ambiente, 2 pontos creio que são essenciais: a recomposição das rebaixadoras de Macapá e Laranjal, e a construção de linhas de transmissão e rebaixadora, independentes,  formando um sistema alternativo ao linhão à partir das hidrelétricas que temos, cuja capacidade instalada alcança 3x o que consumimos.

A empreitada em busca da nossa segurança energética demanda bastante recurso e tempo. De onde virá o recurso é uma questão afeita ao convencimento político junto ao governo federal. Como será alcançada, é questão técnica de alçada dos especialistas do MME. A questão principal é que o Amapá não precisa mais passar por um Apagão, outra vez. Entretanto, nesses próximos meses, contaremos com a sorte!

*Ruy Smith é engenheiro mecânico e ex-deputado estadual

  • Em que ano o Amapá passou novamente por um grande racionamento de energia? Não tô bem lembrada, mas acho que foi em 1991 ou 1992. Diga aí?

  • Em que ano o Amapá passou novamente por um grande racionamento de energia? Não tô bem lembrada, mas acho que foi em 1991 ou 1992. Diga aí?

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