O cabo do machado- Dom José Conti

O cabo do machado
 Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

As velhas árvores da floresta eram muito orgulhosas delas mesmas. Altas, grandiosas, chamavam a atenção dos que passavam e todos as admiravam. Certo dia, chegou um homem que estava precisando de um cabo de madeira forte e do tamanho certo para o seu machado. Por ser muito educado, ele perguntou antes às velhas árvores qual delas devia se sacrificar para conseguir o cabo. Explicou que machado sem cabo não servia para nada. As velhas árvores reuniram o conselho e, depois de muitos ruídos de ramos e mexer de folhas, sentenciaram que o homem devia cortar uma jovem árvore lá à margem da mata. O homem foi lá, cortou a pequena árvore e, depois de alguns acertos, o cabo de que precisava estava pronto. O homem, feliz da vida e sem pedir mais nada para ninguém, começou a cortar, uma por uma, as velhas árvores. Elas, caídas no chão, perceberam, tarde demais, o erro que tinham cometido. Chorando diziam umas às outras: – Se tivéssemos sabido, teríamos defendido a nossa irmã mais nova.

Vivemos em tempos nos quais se fazem muitas previsões sobre o que pode acontecer. A meteorologia nos diz se vai chover ou se teremos tempo firme. As bolsas de valores projetam o tamanho dos lucros para os investidores nunca perder o seu dinheiro. As pesquisas sobre as intenções de voto, pretendem nos dizem, de antemão, qual será o resultado das eleições. Também Jesus, no evangelho deste domingo parece nos convidar a planejar o futuro da nossa vida. O faz com o exemplo de quem quis construir uma torre, mas calculou errado o material e, por isso, não deu conta de acabar a construção. Será motivo de chacotas. Igualmente, um rei quis partir para a guerra contando com as suas forças para ganhar. Depois, porém, descobriu que o outro exército era mais forte e numeroso. Foi prudente, resolveu desistir e negociar a paz. Será que Jesus quer que sejamos frios calculistas ou negociadores interesseiros? São comparações. Jesus quer que, dito com palavras simples, não passemos vergonha. O que está em jogo não é a construção de uma torre, mas o crescimento do Reino de Deus. Não se trata de vencer uma guerra com armas e soldados, mas de ganhar a luta contra o mal que está dentro e fora de nós. Ele nos convida, simplesmente, a fazer uns cálculos, a pensar bem, para ver se daremos conta ou não da empreitada.

Nesta altura, seria mesmo para ficar desanimados. Quando teremos inteligência e capacidade para construir o Reino da justiça do amor e da paz? Um Reino, este, que é “de Deus” porque deixa vislumbrar já aqui na terra um pouco da perfeição e da plenitude divina. Quando teremos forças para vencer a guerra contra o mal e o pecado em todas as suas formas cada vez mais disfarçadas e sofisticadas? Nunca! É a resposta certa, a não ser que…façamos o que Jesus também nos diz no evangelho deste domingo. Se contamos com pais, mães, mulheres, filhos, se confiamos no dinheiro, nos bens e no poder que temos, juntaremos sim uma numerosa turma, mas estaremos fazendo cálculos inúteis. O único que pode “vencer” o mal e completar a obra que iniciou é ele mesmo, o Senhor Jesus, o crucificado que ressuscitou e venceu a morte. Somente quando deixarmos de contar com as nossas forças, de nos sentirmos capazes, quando entregarmos tudo nas mãos dele, aí sim, algo novo – o Reino de Deus – acontecerá. Tudo será novo. As nossas famílias não serão mais empecilhos ou campos de batalha, mas laboratórios do Reino, na comunhão e na paz. A desistência do nosso orgulho nos fará enxergar as necessidades do outro, nos tornará humildes, capazes de aprender, de recomeçar, de partilhar saberes e alegrias. Os bens materiais, as riquezas da natureza, os frutos da inteligência humana, não serão desprezados, porque são criaturas e dádivas de Deus. Também não serão só explorados, serão usadas para o bem de todos, dos pequenos, dos pobres e famintos. A cruz a ser carregada é aprender a doar a vida, a fazer do amor uma semente de vida nova.

As velhas árvores, calcularam mal e perderam tudo. Nós também, não queremos doar nada e deixamos escapar o tesouro do Reino. Vão rir de nós.

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