Morre Bibi Ferreira. O teatro fica menor

A atriz, cantora e diretora Bibi Ferreira, de 96 anos, morreu hoje (13) de enfarte em sua casa.
O corpo dessa grande diva  será velado a partir de amanhã (14) no Theatro Municipal, no centro do Rio.
Em setembro do ano passado, em seu perfil numa rede social, Bibi  comunicou sua saída da vida pública. Ela escreveu:  “Nunca pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada! Bibi”.

Velha praça

Praça da Matriz em 1935 (hoje Veiga Cabral)

No coreto se apresentavam as bandas de música da Guarda Territorial e do Mestre Oscar. Foi ouvindo estas bandas que interpretavam de forma magistral clássicos da música que muitos casais começaram a namorar e casaram, aí pertinho do coreto mesmo, na bicentenária igreja de São José.

O poeta Arthur Nery Marinho – que veio para o Amapá em 1946 – chegou a tocar  no coreto e relembra a velha praça nesta poesia publicada no livro “Sermão de Mágoa”, em 1993.

Praça Antiga
Arthur Nery Marinho

Velha praça, velha praça,
tenho saudade de ti.
Não da bonita que estás
mas da que eu conheci.

A praça do tio Joãozinho
e do seu Naftali:
o primeiro era Picanço
e o segundo Bemerguy.

A praça do João Arthur
também a praça do Abraão,
a praça que outrora foi
da cidade o coração.
A praça em que se jogava
todo dia o futebol,
esporte que só parava
quando já dormia o Sol.

Parece que isto foi ontem,
mas tanto tempo passou,
o que deixou de existir
minha saudade gravou.
Vejo a barraca da Santa,
vejo ali o ABC.
Há muito tempo não existem
mas a minha saudade os vê.

Da igreja o velho coreto
eu avisto, neste ensejo.
Do mestre Oscar vejo a banda
e lá na banda eu me vejo.

Eu considero um castigo
não apagar da lembrança
o que me foi alegria
e agora é desesperança.

Velha praça, velha praça,
renovaste e linda estás.
Não tens, porém, a poesia
do que ficou para trás.

Especial Macapá – Quando o aeroporto era na Av. FAB

Av. FAB domingo a tarde

Essa avenida larga, movimentada, tida como a principal de Macapá, por onde passam todos os ônibus e onde ficam escolas, secretarias de governo, hospitais, tribunais, Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e Prefeitura, foi o primeiro campo de aviação de Macapá. Por isso quando virou avenida recebeu o nome de Avenida FAB (Força Aérea Brasileira). Aí  pousavam todos os aviões que chegavam em Macapá e daí decolavam.

O José Ribamar Pessoa – que trabalhou no aeroporto da avenida Fab – contou ao blog que não havia cerca, muro, nada que impedisse que as pessoas chegassem bem pertinho do avião para receber quem estava chegando ou se despedir de quem estava partindo. “Naquela época, era permitido a todos receber autoridades, familiares, etc embaixo da aeronave, inclusive também no embarque”, conta.

O poeta Manoel Bispo – que chegou gitinho em Macapá – conta que  quando a molecada ouvia o barulho do avião corria pro “aeroporto” vislumbrando ganhar uma grana pra comprar gibis, picolés e garantir o da matinê do cinema.
É que naquela época não existia táxi em Macapá e quase nenhum carro particular (ônibus nem pensar). A pessoa chegava, descia do avião e ia a pé pra casa. É aí que a molecada entrava. Se aproximava do passageiro e oferecia o serviço: carregar a maleta, do aeroporto até a casa. “O ‘carreto’ mais longo que fiz com uma mala na cabeça foi do aeroporto pro bairro do Trem. A maleta era daquelas de madeira, mas me rendeu um bom dinheirinho”, me disse o poeta certa tarde.

Dia desses o Celso Façanha estava lembrando dos seus tempos de moleque e disse que uma vez viu “com esses olhos que a terra há de comer” um avião quase entrar num prédio ali por perto de onde é hoje a Escola Integrada.

Deixemos o Celso contar:

– Era um dia de chuva, a pista tava um lamaçal, o avião aterrissou mas não conseguiu parar logo. Foi indo, indo, indo…  e só conseguiu  parar ali perto do GM, quase que entra num prédio onde era o Irda. Quando a porta  abriu  o primeiro passageiro a descer foi o Pernambuco, um açougueiro brabo. Ele desceu reclamando: “Pô, esse cara (piloto) podia ter logo me deixado em casa.”

Minha mãe, a professora Delzuite Cavalcante, contava que, sentada no pátio da nossa casa, via os pousos e decolagens.

“Era ali, dizia apontando com o dedo, o campo de aviação e daqui a gente via tudo.”

E minha avó completava: “o avião passava aqui na ilharga.”

 

Ao ler esse texto, Mazinho Silva deixou agora sua contribuição na caixa de comentários. Contribuição tão importante que reproduzo aqui:

“Boa Noite,
Gostaria de fazer um pequeno reparo na informação ora apresentada, pois como um amapaense nascido (25 de agosto de 1952) e criado aqui, na Rua General Rondon, 1226, esquina da Avenida Procópio Rola, posso dizer com certeza total a quem interessar possa que, ao contrário do que muitos pensam ou relatam, a pista de aviação nunca foi localizada exatamente onde hoje se encontra a Avenida FAB e sim, entre a Avenida FAB e a Avenida Procópio Rola, que à época era apenas uma via projetada. Portanto, afirmo e reafirmo que a pista de pouso de Macapá, Território Federal do Amapá, localizava-se exatamente onde hoje se encontram os prédios do governo do Amapá entre as duas avenidas acima citadas. A Pista tinha sua cabeceira principal na frente do Fórum Desembargador Leal de Mira e terminava exatamente onde hoje está construído o Palácio do Governo do estado do Amapá (nessa época a Rua General Rondon não atravessava a Avenida FAB), onde havia uma cerca de arame farpado, que se estendia em sua laterais até as proximidades da Escola Industrial,para evitar a travessia de animais e veículos, Lembro disso desde os cinco anos de idade pois assistia os aviões DC-3 e C-47 manobrando ao final da pista, bem ao lado da minha casa e por várias vezes, vi os aviões varando a pista e parando somente ao final, na área de escape, próximo da Escola Industrial, em razão da pista molhada e que era feita em cima do solo original, sem piçarra ou asfalto. E, por medida de segurança, quando os aviões varavam a pista, os passageiros desembarcavam e vinham andando com os sapatos ou sandálias na mão pois a pista estava escorregadia. O prédio do aeroporto ficava na Avenida FAB, bem em frente à Igreja Batista. Era um prédio extremamente pequeno, construído em Madeira e coberto com telhas de barro. Caso alguém tenha fotos da época, poderão comprovar o que aqui estou relatando. Conta-se inclusive que a Avenida FAB não tem buracos em razão de ali ter sido a pista de pouso, o que não procede pois a pista não era asfaltada e nem havia piçarra na sua superfície. Apenas a terra nua.
Espero ter contribuído positivamente com a História Real da nossa terra.

Cordialmente,

Valdemar das Graças Figueira da Silva (Mazinho Silva)”

Macapá era assim

Avenida Mendonça Furtado entre as ruas Jovino Dinoá e Odilardo Silva

 

O bairro da Favela (hoje Bairro Central) era assim, cheio de áreas de ressacas e muito verde. Nos igapós as crianças se divertiam pegando peixinhos e tomando banho, ouvindo lendas e criando histórias cheias de encantos e magias. O bairro era habitado em sua maioria por intelectuais, boêmios e artistas. A ponte sobre o igapó era também ponto de encontro dessa turma que, após o trabalho, se reunia para contar as novidades e “tomar uma” para desestressar.
Sabe quem são esses distintos senhores da foto?

(Querido leitor, se quiser escrever sobre Macapá (antiga ou atual), postar fotos, contar causos, ou fazer qualquer outro tipo de homenagem a esta cidade cortada pela Linha do Equador você tem espaço garantido neste blog. Basta enviar seu texto e/ou fotos para o email [email protected]  que seu material será imediatamente publicado.)

Para não esquecer Hélio Penafort

Hélio Penafort (foto), jornalista e escritor e excelente contador de histórias, se ainda estivesse neste planeta teria completado 81 anos de vida nesta segunda-feira, 21. Meu amigo Hélio partiu num carnavalesco mês de fevereiro, mas é imortal pela sua obra.

Revirando meus arquivos, encontrei um recorte de jornal de junho de 1988 – que a Alcilene guardou com tanto carinho – com este belíssimo texto do meu pai Alcy Araújo sobre o amigo Hélio Penafort:

“Quando conheci o Hélio Penafort os vícios da civilização ainda não haviam poluído a sua singela maneira de transitar nas ruas do meu mundo, deteriorado por uma sociedade sem anjos, onde os poetas lutam para que a poesia não se perca entre ruídos de máquinas, sons de buzina, assaltos e políticos.

Hélio Penafort fumava cigarros “gaivota” e o Álvaro da Cunha finos “king-size”. Tomava conhaque “São João da Barra”, quando o Manoel Couto ingeria “white house”. Cortava o cabelo no Mercado Central, enquanto o Ezequias Assis já freqüentava o salão de um cabeleireiro gay. Tudo nele era de uma pureza de pescador.

Eu estava defronte de um contador de estórias que fazia rir o Padre Jorge Basile, numa tarde, na redação-oficina da “Voz Católica”, jornalzinho da Prelazia de Macapá, onde tantos talentos vieram à tona, como o companheiro João Silva e outros mais.

Hélio Penafort, há trinta anos bem vividos, bem comidos e bem bebidos, conta estórias. Na imprensa, no rádio, na televisão, nos livros que publica. Suas reportagens são contos, com personagens dançando o cacicó ou o turé, cavalgando ondas na costa oceânica ou singrando rios em igarités. Nas suas estórias, a mata, a terra molhada, o rio, a cachoeira do Firmino ou de Grand Roche. Na paisagem, sempre o homem. O caboclo, o índio, o negro. E mulheres de pernas bonitas e corpo cheirando a marés, a mato no amanhecer, a ervas que Deus plantou no chão amapaense.

Hélio Penafort é uma antologia folclórica. Um estudo de antropologia. Um livro para sociólogos e freqüentadores reincidentes do Bar do Abreu.

Entre uma estória e uma lenda, entre um mito e uma carraspana, ele já foi radialista, telegrafista, fotógrafo, prefeito municipal, juiz de paz, chefe de gabinete do governador, diretor de rádio-jornalismo, produtor de textos e programas de rádio e TV e sabe Deus mais o que.

Alto, desengonçado, careca, vive sorrindo, como quem tem a certeza de que a vida pode ser maravilhosa, não importa as acontecências. Certa vez ele disse: “Estou pê da vida com o Paulo Oliveira”. E em lugar de franzir o cenho, caiu na gargalhada.

Não há civilização que enodoe a alma deste contador de estória, carregada de poesia e de humor transparente. Com trinta anos de jornalismo, ele continua um homem da fronteira, que traz nos olhos o brilho das águas que se fixaram em sua visão. Só sei do Hélio zangado, quando estão botando no esfriador de arroz do seu amado e onírico Oiapoque. Aí ele protesta, no mais castiço patuá. Eu disse castiço?”

Quem foi Glicério Marques

Texto: João Lázaro, do blog Porta-Retrato
Glycério de Souza Marques nasceu no dia 13 de maio de 1915, no Estado do Pará.
Filho do militar Raimundo Gonçalves Marques e D. Luzia de Souza Marques.
Estudou nas escolas de Belém e ingressou na Escola Militar dando baixa no ano de 1938 com a patente de 2º-tenente.
Quando jovem dedicou-se ao escotismo.
Veio para Macapá no início do ano de 1945, convidado pelo Governador Janary Gentil Nunes com a missão de implantar o escotismo no Território Federal do Amapá, juntando-se ao Chefe Escoteiro Clodoaldo Carvalho do Nascimento.
Trabalhou inicialmente como Inspetor do Ensino primário; foi também Diretor da Escola de Iniciação Agrícola da Base Aérea do Amapá; em 1953 foi nomeado Diretor da Escola Profissional Getúlio Vargas que, posteriormente, se chamou Escola Industrial; participou da criação de clubes esportivos; foi presidente da União dos Escoteiros do Brasil em Macapá; da Federação de Desportos; da Sociedade Artística de Macapá; Instrutor do Tiro de Guerra 130 do Amapá; foi postulante à construção de um estádio de futebol o qual foi construído e foi dado o seu nome Estádio Glycério de Souza Marques; foi Diretor da Rádio Difusora de Macapá.
Glycério casou-se no primeiro matrimônio com a Sra. Nely de Miranda Marques; em segundas nupciais com D. Natália dos Santos Marques com quem teve os filhos: José Glymar, Luzia e Carmem.
Glycério faleceu no dia 25 de dezembro de 1955 deixando um grande vazio no coração da juventude escoteira do Amapá e saudades a todos os desportistas.
(Fonte: Informações e foto extraídas da obra Personagens Ilustres do Amapá de Coaracy Barbosa Vol III (não impresso) – em PDF – via APES – Associação Amapaense de Escritores).

Personagens queridas no bairro da Favela

Personagens queridas no bairro da Favela
Milton Sapiranga Barbosa

1- Mundico Sabiá – Foi um dos primeiros a invadir e iniciar o povoamento do bairro. Sim, Favela nasceu em regime de Invasão (esse dado me foi passado pelo sobrinho do seu Mundico, o pedreiro aposentado Franqueira).
Seu Mundico, trabalhava fazendo carretos em uma carroça que pertencia a dona Sara Zagury (conhecida empresária da época e esposa do Sr. Isaac Zagury).
Quando eu estava com preguiça de ir andando até o Igarapé da Fortaleza ou Mercado Central, ficava de plantão próximo a Igreja dos Irmãos, à espera de pegar uma carona na “boléia” da carroça do Seu Mundico e lá ia eu aboletado naquele rústico veículo de tração animal, feliz pela carona e por ouvir piadas e causos que ele contava de quando era rapaz. Seu Mundico era uma figura ímpar, sempre sorridente, era muito querido e admirado pelos favelenses.

2-Congós – Era um negro que andava encurvado amparado por uma vara, que fazia as vezes de bengala. Tio Congó (sem o s) assim todos o tratavam, era excelente no trato com torções, benzedor como ninguém, rezador para curar quebranto e costurava rasgadura. Além de todos estes dons, Seu Congó, tinha sua imagem usada pelas mães para fazer criança parar de chorar ou acabar com birra para não tomar banho ou dormir. Bastava a mãe dizer “lá vem o tio Congo” era um Deus nos acuda. Ele também ajudava as mães, já que sempre fazia menção de partir pra cima do moleque chorão. Mas tudo não passava de fama. Tio Congó era amável e brincalhão quando chegava perto da criançada.
Ele era o dono da grande área onde hoje está implantado o Bairro dos Congós.

3- Antônio Cirino – O homem mais temido (no bom sentido) e respeitado na Favela. Seu Antônio Cirino, conhecia de plantas que curam como ninguém. Até as grandes autoridades de Macapá, como Hildemar Maia, por exemplo, recorriam aos seus preparados e garrafadas milagrosas. Ele tinha um quintal-pomar, com mangueira, goiabeira, mamoeiro, carambola e maracujazeiro, mas moleque nenhum entrava para apanhar uma fruta. Papagaio quando chinava e caía em seu quintal, só se ele fosse pegar e desse pro moleque.
Seu Cirino saía para ir comprar comida na beira e deixava a casa aberta. Alguém entrava em sua casa?. Aqui ó.
Certa vez ele me mandou pegar um remédio para minha mãe que estava em cima de uma mesinha e recomendou: “ pega o vidro, sai e não olha pros lados e nem para trás”. Fui, entrei sem olhar pros lados, peguei o vidro e já na porta de saída, como todo bom moleque que se preza, dei uma olhadela para dentro da casa. Tomei o maior susto de minha vida. Tinha um rolo enorme de cobra ao lado da mesinha que estava o remédio. Saí voando de lá. Quando cheguei em casa, ele me fitou e foi logo dizendo: “Não te disse para não olhar para trás.” Até hoje estou sem entender como ele soube que olhei para trás e não pros lados.

4- Bulivino – Era o negro velho mais folclórico do bairro. Como seu Mundico Sabiá, também vivia de fazer fretes com uma carroça, só que era patrimônio dele. Tio Buliva, como era tratado pela molecada, passava horas e horas contando façanhas de sua juventude, e nós, claro, acreditávamos ou fingíamos acreditar para que ele não parasse com suas historias.
Tio Buliva era torcedor do Bangu Atlético Clube, do Rio de Janeiro. Ou melhor, era torcedor do mestre Zizinho, que segundo os que o viram jogar, era igual ou melhor que Pelé. O sonho de Tio Buliva era ver o seu filho Janjão se transformar num mestre Ziza do futebol amapaense. Era sonho de pai, pois o Janjão não jogava nada.
Tio Buliva vivia numa maré mansa que até parecia ser baiano. Não tinha pressa pra nada e dizia sempre: “pra que correr, onde vou não vai sair do lugar”. Ele era tão devagar que na sua carroça tava escrito “Devagar e Sempre”.
Esta é a minha homenagem ao quarteto aqui destacado, pois eles foram pessoas importantes na minha infância feliz no querido Bairro da Favela.

(Você que acabou de ler este texto do Sapiranga quer homenagear pessoas do seu bairro que foram ou são importantes para você? Escreve e manda pro e-mail [email protected] que a gente publica aqui)