Mestre Nonato Leal chega aos 93 anos lúcido, atuante e com muito amor pela vida e música.

Nonato na inauguração da galeria Alcy Araújo, seu amigo e parceiro (Foto: Márcia do Carmo)

Lúcido e bem atualizado, o músico e professor Nonato Leal chega aos 93 anos aproveitando o período de isolamento para fazer o que mais gosta: tocar violão em sua casa e apreciar a praça Floriano Peixoto, seu lugar favorito. Para quem atravessou quase um século entre a música, palcos e aplausos, vivendo a euforia do público, familiares e amigos, até que este jovem nonagenário se adaptou, e a quarentena é vivida com a leveza de quem não se surpreende com os imprevistos da vida. As homenagens foram adiadas, mas o Mestre continua de sua varanda vivendo o seu tempo, sem pressa e com cuidado.

Nascido nas brenhas do município de Vigia, estado do Pará, Raimundo Nonato Barros Leal é autodidata, e teve o pai como primeiro professor, vantagem importante para sua meteórica e duradoura carreira, ao todo, 85 anos de música praticada diariamente. Aos 8 anos iniciou os estudos; aos 10, fez sua primeira apresentação para o público; com 18, sua proeza era tocar não somente violão, mas ainda violino, banjo, viola e bandolim; e aos 19, familiarizado com os instrumentos e o universo musical, Nonato compôs junto com seu irmão, Oleno Leal, “Tauaparanassu”, uma marcha em homenagem ao índio guerreiro da tribo Tupinambá, primeiros habitantes da aldeia Uruitá, como era chamada Vigia.

Na mala, música e sonhos

A cidade ficou pequena para os sonhos de Nonato Leal, a com a mala abarrotada de acordes e planos, aos 20 anos, ancorou na capital, Belém do Pará, para compor o elenco da PCR-5 Rádio Clube do Pará. Com o talento reconhecido, conquistou espaço no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, passou pelo Ceará, e de volta ao Pará, ingressou na Rádio Marajoara. Sua passagem por Belém foi determinante. Foi lá que conheceu Aluízio Bevilácqua, que após ouvi-lo tocar todos os instrumentos que dominava, perguntou em forma de sugestão, se Nonato não gostaria de dedicar-se somente ao violão.

O conselho foi seguido, e o músico finalmente desembarcou em Macapá no ano de 1952, a convite do irmão Oleno, e chegou na Rádio Difusora. Encantado pela jovem Paracy Jucá, de família tradicional, casou, e ela logo adotou o sobrenome Leal. Dos seis filhos do casal, dois herdaram a vocação para os instrumentos musicais, Vanildon e Venilton Leal, mas toda famílias compactua da paixão pela arte e cultura. No mesmo ano em que aqui chegou, foi inaugurado o Conservatório Amapaense de Música, e Nonato Leal foi o primeiro professor da instituição, levado pelas mãos de Oscar Santos. A profissão de professor caminha junto a de músico, e ainda hoje ele recebe em sua casa alunos de música, para quem ensina e também aprende.

De Waldick Soriano a Brenda Melo

Mestre Nonato Leal viveu intensamente a era do rádio, quando a televisão passou a ser utensílio doméstico, lá estava ele na frente das câmeras, e agora, no auge da era tecnológica, se adapta ao celular e suas novidades. Nonato Leal foi e é presença nos maiores eventos culturais do Amapá, e com a vida dedicada à música e aos palcos, não tinha como se esquivar da vida boêmia. Nas serestas, bailes, bares, shows, carnaval, serestas, rodas de chorinho e samba, a figura do homem e seu violão é comum. Astro renomado da música, ele se orgulha de ter acompanhado outros artistas, como Aymorezinho, Amilar Brenha, Manoel Sobral, Lolito do Bandolim, Sebastião Mont’Alverne, Manoel Cordeiro, Hernani Guedes Agnaldo Rayol, Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Waldick Soriano, João do Vale, Luiz Gonzaga, Nilson Chaves, Walter Bandeira, entre outros artistas brasileiros.

E de quem esse botafoguense é fã? Ao ser indagado sobre isso, ele mostra seu conhecimento musical, humildade e generosidade, para não esquecer de ninguém. “Gosto muito de Ângela Maria, Cauby Peixoto, Rafael Rabelo, Guinga, Zé Miguel, Patrícia Bastos, Enrico Di Miceli, Osmar Júnior, Leonam, Brenda Melo, de sertanejos de viola, e de muitos artistas talentosos que temos”. Com muitos contemporâneos já falecidos, Nonato Leal, vive o presente com os olhos brilhantes da juventude, que recebe com atenção e carinho em sua casa e por onde passa. A admiração dos mais jovens pelo Mestre fez com que se formasse a Orquestra Nonato Leal, que é motivo de orgulho para o músico.

Saudosista, Nonato Leal guarda boas lembranças de festivais e carnaval, uma delas é de sua parceria com o escritor e jornalista Alcy Araújo, seu contemporâneo e amigo, com que dividiu sua primeira participação em festivais da canção. “No primeiro festival concorri com três músicas, duas com o Alcy e uma com o Cordeiro Gomes, fomos vitoriosos, e na sequencia, fizemos outras parcerias, inclusive no carnaval, quando fizemos o enredo sobre Mãe Luzia, que foi um trabalho extraordinário. Tive quatro parceiros, além de Alcy, Cordeiro Gomes, Isnard Lima e Jeconias Araújo, todos já partiram. Desde então não participei mais de carnaval”.

Passado, presente e futuro

Para quem, aos quase 100 anos, relembra com lucidez o ontem, vive o hoje e faz planos para o amanhã, a caminhada é sem pressa. Com a memória viva de sua infância e juventude, ele conserva o palavreado rústico e ao mesmo tempo rebuscado, e usa expressões atuais. De voz calma e baixa, andar lento, sorriso sincero, o Mestre Nonato Leal, surpreende pela rotina um pouco diferente para quem está com a sua idade. Se alimenta muito bem, come bastante peixe, principalmente gurijuba, toma açaí todos os dias, até de noite, gosta de sair para prestigiar a música amapaense, e é presença comum nas rodas de choro, onde participa e assiste as apresentações comendo e até tomando uma cerveja ou vinho.

Ao completar 92 anos, entre as inúmeras homenagens, o lançamento do songbook “Mestres da Música – Nonato Leal”, e para este ano, estava programado o lançamento de sua biografia, “Arte e Vida de Nonato Leal: Atravessamento de Sonhos e Sons na Amazônia”, de autoria do escritor e historiador Vinícius Leal, neto do aniversariante, adiado para janeiro por causa da pandemia. Sobre o isolamento social, ele diz que foi a melhor medida tomada. “O distanciamento, o uso de máscaras, está salvando vidas, mas tem pessoas que não obedecem, e essa imprudência pode custar muito caro. Eu obedeço e estou bem. A única vez que fiquei isolado foi em Fortaleza, porque adoeci, em 1959. Eu não saio, mas assisto televisão, toco violão quase o dia todo, olho a rua e a praça, e está passando rápido. Deus está olhando por nós”.

(Texto: Mariléia Maciel)

Câmara aprova PEC do novo Fundeb em 2º turno

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (21), em dois turnos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 15/15, que torna permanente o Fundo de Desenvolvimento e Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb) e eleva a participação da União no financiamento da educação infantil e dos ensinos fundamental e médio.

Segundo o parecer da relatora, deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), a contribuição da União para o Fundeb crescerá de forma gradativa de 2021 a 2026, de forma a substituir o modelo cuja vigência acaba em dezembro.

Nos próximos seis anos, a parcela da União deverá passar dos atuais 10% para 23% do total do Fundeb, por meio de acréscimos anuais. Assim, em 2021 começará com 12%; passando para 15% em 2022; 17% em 2023; 19% em 2024; 21% em 2025; e 23% em 2026.

Os valores colocados pelo governo federal continuarão a ser distribuídos para os entes federativos que não alcançarem o valor anual mínimo aplicado por aluno na educação. Da mesma forma, o fundo continuará recebendo o equivalente a 20% dos impostos municipais e estaduais e das transferências constitucionais de parte dos tributos federais.

Os oito deputados do Amapá votaram a favor.

O líder da bancada do PROS deputado Acácio Favacho (foto) considerou a aprovação  um fato histórico para a educação brasileira.
“Votei sim para a aprovação do Fundeb, pois entendo que essa é uma das formas de assegurar que a Educação Básica Pública seja cada vez mais qualitativa, igualitária e ocorra de forma justa para todos os cidadãos, especialmente para nossos estudantes amapaenses. Trabalhamos incansavelmente na busca de um acordo para a votação e aprovação do novo FUNDEB e a vitória foi garantida”,  disse Favacho

(Com informações da Câmara dos Deputados e do Gabinete do deputado Acácio Favacho)

Que ciranda linda!

Ninguém solta a mão de ninguém

Uma onda diz vai, vai
Outra onde diz vem, vem
E de mãos dadas vão e voltam
Ninguém solta a mão de ninguém

Nossa ciranda, da maré é um movimento
Em tempos de isolamento a ciranda vai rodar
E vai fazer entre nós mais uma ponte
Alargando o horizonte, dos sertões até o mar
Demos as mãos, nesta roda virtual
A ciranda contra o mal, ela não pode parar
Pois de mãos dadas a corrente não se parte
Contra o ódio, viva a arte, nossa voz não vão calar
Nossa ciranda, une os republicanos
Contra todos os tiranos que estão a governar
É uma aliança entre as forças progressistas
Contra os nazifascistas que voltaram a se agrupar
E faz trincheira com os povos da floresta
Defendendo o que resta, da fauna, flora e de ar
Contra o garimpo, que faz mata virar pasto
Agronegócio nefasto, que só pensa em lucrar

Nossa ciranda quer Congresso funcionando
STF julgando, cada qual no seu lugar
Sem ditadores, cala-boca, sem censura
Calabouço, sem tortura, sem exílio além-mar
Ela é maior que as muralhas lá da China
Do Wua-wuá à Conchinchina ela vai se alastrar
Como a ração, desses de tarrafa e rede
Arrastando a fome e a sede para além do lado de lá
Nossa ciranda faz a onda, faz um laço
E no mundo dá um abraço, e abraçada vai lutar
Contra o racismo, flagelo da humanidade
Pela luz, fraternidade, pelo mundo vai rodar
Dança no passo, da ciência pro futuro
Não dá mão ao obscuro, aos que negam o benvirá
E essa dança que nasceu em uma praia
Ganha o mundo, se espalha, está em todo lugar

Hoje nas redes sociais: II Especial da Música Amapaense

A Associação dos Músicos e Compositores do Amapá – AMCAP, completa 24 anos de fundação nesta sexta-feira (12), e para comemorar a data, realiza uma Live Especial, com o lançamento do DVD do II Especial da Música Amapaense, gravado no Teatro das Bacabeiras.

Fazem parte deste show: Patrícia Bastos (Eu Sou Caboca), Marcelo Dias (Toada Cabocla), Amadeu Cavalcante (Festejo Popular), Maria Eli (Pra Festejar), Nivito Guedes (Tô Em Macapá), Enrico Di Miceli/Joãozinho Gomes (Mandala a Mandela), Julieli Marques (A Beleza da Arte Que Emana), Zé Miguel (Meu Endereço), Ana Martel (Mal de Amor), Bebeto Nandes (Jeito de Viver), Nathal Vilar (Estrela Guia), Grupo Pilão (Encantaria), Claudete Moreira (Legítima), Val Milhomem (Rosário de Ouro), Adriana Raquel (Deixa a Chuva Cair), Helder Brandão (África Mãe Raiz), Rambolde Campos (Dona Eva), Osmar Júnior (Curiaú), Cléverson Baia (Tambores da Paz), Yes Banana (Camaleão), Banda Placa (Ancestrais) e Banda Negro de Nós (Festejo).

A exibição do Especial será nesta sexta-feira (12), 19h – no canal da AMCAP, no YouTube.

Namorinho de portão

Namorinho de portão,
Biscoito, café
Meu priminho, meu irmão
Conheço essa onda
Vou saltar da canoa
Já vi, já sei que a maré não é boa
É filme censurado e o quarteirão
Não vai ter outra distração
Eu agüento calado
Sapato, chapéu
O seu papo furado
Paris, lua-de-mel
A vovó no tricô
Chacrinha, novela
O blusão do vovô
Aquele tempo bom que já passou
E eu de “é”, de “sim”, de “foi”
Bom rapaz, direitinho
Desse jeito não tem mais
Bom rapaz, direitinho
Desse jeito não tem mais
O papai com cuidado já quer saber
Sobre o meu ordenado
Só pensa no futuro
E eu que ando tão duro
Não dou pra trás
Entro de dólar e tudo
Pra ele o mundo anda muito mal
Lá vem conselho, coisa e tal
Bom rapaz, direitinho
Desse jeito não tem mais
Bom rapaz, direitinho
Desse jeito não tem mais