É Natal

ESTRELA NO CÉU
Alcy Araújo Cavalcante (1924-1989)

Olho para o Oriente e vejo, além da minha compreensão, uma estrela no céu. Não é a minha estrela da guarda. É uma estrela diferente, no brilho e na cor. Querem me convencer que é um cometa. Não acredito. Descubro que tem vida e transporta uma mensagem de fé, de esperança e de concórdia.

Posso ouvir sua voz no silêncio da noite e sinto seu perfume e a sua música. Apesar de ser assim não fico assombrado. Não tenho nenhum medo dos meus medos cotidianos. Sinto que a estrela fala comigo e diz: “Segue a minha luz”  e estendo os braços em direção à cidade de Belém.

Alguma coisa muito bela vai acontecer na cidade, porque a estrela tem música e o céu está perfumado nestas noites claras em que os anjos passam apressados no azul. E o azul é mais azul e a luz é mais luz. Deve ser tempo de nascer esperança.

Também é muito estranha a passagem daquela caravana de Reis Magos. Eles são de tribos diferentes. Um tem a pele cor de ébano. O outro tem a pele curtida pelo sol do deserto. E há um terceiro, de cabelos dourados e pela branca como a neve das estepes. Não sei onde os seus caminhos se encontraram. Mas eles vão juntos e olham para a estrela. Sinto que estão fascinados. Isto diz que vai acontecer uma coisa muito importante no mundo. E eu não tenho nenhum medo.

Deve ser uma coisa muito linda, tanto que meu coração sente uma imensa alegria. Acho que vai nascer um menino na cidade de Belém. Mesmo porque as flores estão sorrindo e quando as flores sorriem é porque vai nascer uma criança.

Este negócio de anjos passando também é muito significativo.

Meu coração se apercebe que uma grande luz se aproxima do mundo e que a escuridão enorme dos nossos pecados pode ser dissipada.

Há mais uma coisa. Olho para Roma e vejo que os deuses fitam-se com admiração e assombro e sei que está chegando uma nova era. Esses reis passando, essa estrela diferente, essa música vinda dos céus, esses anjos … tudo é muito concludente.

Na certa vai nascer uma criança na cidade de Belém da Judéia e haverá paz aos homens de boa vontade.

O que os políticos pediram pro Papai Noel

Como eu disse pra vocês, este blog interceptou  os e-mails que alguns políticos enviaram ao Papai Noel e assim deflagrou a Operação “Papai Noel eu não minto por isso quero ganhar presente“.   Veja o que eles estão pedindo ao bom velhinho.

Senador Papaléo Paes – um calção do Paissandu, uma camisa do Paissandu, um meião do Paissandu, um boné do Paissandu, um chaveiro do Paissandu, um adesivo do Paissandu…

Senador Gilvam Borges – Vinte pares de sandálias e um pára-quedas para usar na campanha e mais algumas concessões de rádio e televisão.

Deputado Jorge Amanajás, presidente da Assembléia – a Universidade Desafio e apoio do PSB para disputar o governo do Amapá.

Lucas Barreto – Uma fantasia da ala “Atos Secretos” da escola de Samba Maracatu da Favela, que no carnaval de 2010 vem homenageando o Maranhão

Antônio Feijão, suplente de deputado federal – um mandato pra chamar de seu

Prefeito Roberto Góes – um baralho pra aprender a jogar paciência, um capacete de gelo e um curso “No Stress”

Os Capiberibes – um telão em cada praça e em cada “lugar bonito” mostrando os gastos do Governo e da Prefeitura

Pedro Paulo Dias, vice-governador – Um amuleto “tira o zolhão” e uma caixa de incenso “afasta olho grande”

Peraí que eu estou olhando as outras cartinhas e já volto

Se algum e-mail de político caiu por engano (eles sempre se enganam) na sua caixa postal, contribua com esta Operação deixando as informações aí em “Comentários”. Mas sem ofensas e sem baixarias

Feliz Natal!

ORAÇÃO À MÃE DE JESUS
Alcy Araújo Cavalcante  (1924-1989)

Esta é uma oração.
Uma oração de poeta cargueado de tristezas e de esperanças, que guarda da meninice distante a fé e o amor na santa Mãe de Jesus. Esta é uma oração feita num momento de aflição e de lágrimas, lágrimas que o homem de hoje chora pelo menino que não existe mais.
Esta é uma oração do homem que procura desesperadamente os itinerários do Pai Eterno, quando é impossível o caminho do retorno porque estão perdidas para sempre as marcas dos pés nus nas estradas da vida.
Senhora Mãe de Deus, hoje chorarei novamente. Sei que será assim, na sucessividade das minhas angústias, por não ter podido ser bom como sempre desejou aquela que, aqui na Terra, me conduzia pela mão naqueles dias de infância, que queimam as lembranças do homem que chora hoje prantos transatos. A vida, do meu Natal até o agora, foi marcando, Senhora Mãe de Jesus, e o menino se perdeu para nunca mais se encontrar.
Os desencantos e os sofrimentos, os caminhos atapetados de urzes, as feridas, o desamor, transformaram o menino e sepultaram a inocência com que aprendeu a primeira oração: Ave, Maria, cheia de graça…
Senhora, hoje estou com o coração molhado de lágrimas, na espera da bênção que virá sobre todos os filhos degradados de Eva, que Jesus veio para salvar.
E, nesta noite de Natal, eu rezarei, Santa Mãe do Céu, esta oração, a primeira que aprendi de mãos postas e o olhar de minha mãe preso ao meu olhar: Ave, Maria, cheia de graça…
E pedirei que rogues por mim, que tanto necessito de paz e de esperança, que tanto necessito de amor e de perdão. Minha Mãe do Céu, enxuga a minha angústia, ameniza o meu desespero, cura o meu desencanto nesta noite do nascimento do menino Jesus.
Senhora, olha para o menino que deixei de ser. O menino que usava, num fio de algodão, a tua imagem numa pequenina medalha de alumínio. Foi a minha primeira jóia. Lembrança da irmã Madalena, que acariciava meus cabelos, censurava com doçura minhas reinações e sonhava que eu fosse sacerdote da tua devoção.
Esta é uma oração. Oração do homem amargurado, que olha para o alto com olhos de granada, com a alma ajoelhada e o coração carbonizado lavado de lágrimas, porque hoje é Natal.
Rogai por mim… Por nós, para que sejam menores as nossas aflições. Ave, Maria, cheia de graça. O Senhor é convosco…

Praça Floriano Peixoto (Foto: Alípio Junior)
Praça Floriano Peixoto (Foto: Alípio Junior)

Mande sua cartinha

Dentre esses, escolha um (ou mais)  Papai Noel e deixe sua cartinha pra ele na caixinha de comentários

noelxSe você não conseguiu identificar algum, eis quem são: ex-prefeito João Henrique, Nogueira (prefeito de Santana), senador Gilvam Borges, casal Capiberibe, governador Waldez Góes, senador Papaléo Paes e prefeito Roberto Góes

Olha a cartinha da Ludmila pra eles:

Bom, vamos aos pedidos…
Meus queridos Papais Noéis e Mamãe Noel…
Me comportei muito bem este ano, prometo.
Por favor, gostaria que vocês atendessem aos meus singelos pedidos…

Querido Papai Noel João Henrique, quero uma garrafa de tequila para esquecer que políticos maldosos tomam meu dinheiro;

Querido Papai Noel Antonio Nogueira, meu sonho é ganhar uma carteira categoria “N”, aí se eu bater alguém na rua, todos vão entender;

Querido Papai Noel Gilvam Borges, preciso de sandálias novas para o Natal. Quero uma igualzinha às suas, só que número 36;

Queridos Papai e Mamãe Noel João Alberto e Janete Capiberibe, eu quero que vocês me paguem bem mais que 2 reais e o alto valor justifique uma cassação de verdade!

Querido Papai Waldez Góes, ainda tem uma vaguinha no governo para mim que não sou da família?

Querido Papai Papaléo Paes, quando vier à Macapá traga pra mim uma daquelas meias recheadas de Brasília, vou comprar panetones;

Querido Papai Roberto Góes, peço para o senhor que depois das eleições gerais o trabalho continue, por favor.

Beijos da boa e esperançosa menina…

Ele é fera!

ricardinho1Meu sobrinho e afilhado Ricardinho, 17 anos, filho da Alcilene e Cel Dias, passou no vestibular da PUC-SP para Engenharia Biomédica. O resultado saiu hoje e, claro, estamos comemorando mais esta vitória. Ele já passou também no vestibular do Instituto Mauá para Engenheira Civil e se prepara para a segunda fase do vestibular da USP.
Parabéns, Ricardinho! Parabéns, mana Alcilene e Dias!
E vamos continuar festejando, que esse é um momento maravilhoso.

Bom dia!

É Natal
Alcy Araújo Cavalcante

(1924-1989)

Sabeis que é Natal. Não é necessário que eu diga isto. O anúncio da renovação do milagre do nascimento de Jesus está nesta música que vem de longe, que desce do céu e flutua, em pianíssimo, em torno de nossa alma e toca de leve o coração dos homens. O milagre está, também, nesta luz que vem do alto e ilumina os espíritos, está no riso das crianças, na oração da rosa, na lágrima dos que sofrem, no canto dos pássaros, no sussurro da brisa, no murmúrio do rio e na saudade de minha mãe rezando.

Tudo é tão bonito que as lágrimas de dor e de saudade de infâncias inexistentes são poesia pura. O belo é tanto que não resisto à vontade vesperal de anunciar que é Natal, antes que a noite chegue, antes que seja oficiada a Missa do Galo, antes que dobrem os sinos na igreja comunicando a vinda do Messias.

Tudo é luz em torno do mundo. As trevas não prevalecerão quando cair a noite acendendo mistérios. As vozes dos anjos, o coral dos pastores de Israel, a lembrança dos Reis Magos estão presentes. Há perfume. Os turíbulos de Deus espargem incenso e mirra, porque é Natal no mundo e renasce a esperança no cumprimento da palavra dos profetas.

Mais uma vez é Natal!

Chegam as vozes da infância perdida nos caminhos e o coração enxuga saudades. Os sinos, à meia-noite, vão bimbalhar lágrimas distantes. Vêm de presépios inanimados e risos perdulários afogam angústias cotidianas. A dor se esconde por trás de mágoas indormidas e as horas se ocultam nos relógios, para que a poesia do Natal não passe e o musical minuto dure mais um segundo na eternidade deste dia.

É Natal!

Reza a minha alma de joelhos pelo menino sem brinquedos que perdi, na minha pobreza de sempre.

É Natal!

Repetem meus arrependimentos nas estradas.

E uma alegria imensa absorve as tristezas que fabriquei no mundo. Um sentimento infinito de bondade apaga as dores que construí durante o meu ontem irreversível. Uma ternura imensa acende felicidades futuras, porque é Natal, neste sábado do mundo. Há um polichinelo no bazar. Pertence ao menininho doente que Jesus chamou para o seu reino. Uma boneca abandonada já não chama mamãe para a garota loura que um anjo levou pela mão naquela manhã de sol. Mas outros brinquedos coloridos fazem ciranda em torno das árvores de Natal e milhares de crianças são felizes nos lares cristãos de meu país sem coordenadas. Enquanto isto, Deus sorri, pleno de Amor, por trás da Eternidade.

Uma vovozinha muito peralta

Aída Gemaque Mendes, a Ví Iaiá
Aída Gemaque Mendes, a Vó Iaiá

Aos 100 anos, completados em novembro passado, ela dança, caminha, joga vôlei, basquete e futebol. “O que eu gosto mais é de dançar. Ihhhhh adoooro dançar”, diz com os olhos brilhando e dando uns requebros.
Falta alguma coisa? Faltava. Faltava saltar de paraquedas. Peraltice que ela realizou ontem em Macapá. “Quero passear no céu, me sentir mais pertinho de Deus”, disse.

Estou falando de dona Aída Gemaque Mendes, a Vó Iaiá, nascida em 20 de novembro de 1909, no município de Chaves (PA) e que desde 1959 mora em Macapá.

Ao saltar ontem de paraquedas ele ficou famosa. Sua façanha está nos principais sítios e blogs do país e foi notícia até na Rede Globo. “Não fiquei famosa quando era nova, tinha que ficar agora depois de velha”, diz. E ela está a-do-ran-dooooooo a fama. Para  “bater retrato” com os fãs, faz pose e abre um largo sorriso.

Baixinha, magrinha, se gaba do corpinho que tem e da saúde. “A única doença que eu pego é gripe”. Não usa óculos. “Só não vejo direito as letras gitinhas, mas as letras graúdas eu vejo bem”, conta. Ouve bem, fala ao telefone. Deu várias entrevistas pelo celular nos últimos dias. O segredo de tanta vitalidade? Simples. “Trabalhar muito e beber muito açaí”.

Paraquedistas - os novos colegas de Vó Iaiá
Paraquedistas – os novos colegas de Vó Iaiá

Vó Iaiá teve cinco filhos (três morreram), tem um monte de netos e vários bisnetos. “Criei meus filhos na bacia de roupa e no ferro de brasa”, conta. Traduzindo: separada do marido, Vó Iaiá para manter a família teve que lavar muita roupa em casas de família. E engomar (passar) usando o ferro a brasa, que naquele tempo não tinha ferro elétrico. Até hoje gosta de lavar roupa. “Quando a gente se dá conta, lá está a vovó na bacia de roupa. Ela diz que máquina de lavar não tira sujo”, relata a neta Josilene Santos.

Irrequieta, a vovozinha não para. “A gente não gosta que ela saia sozinha. Mas de vez em quando ela dá um dribla na gente e sai sozinha para visitar os netos, a pé ou de ônibus. E pega o ônibus certinho”, conta a filha Gracinda de Jesus Vaz dos Santos.

Quando está em casa não fica sossegada. Está sempre procurando alguma coisa pra fazer. “Ela gosta de costurar e de fazer colchas de fuxico (um tipo de colcha de cama enfeitada com flores feitas com retalhos). E faz cada uma mais linda que a outra”, diz a filha.

– Tem medo de alguma coisa, Vó Iaiá?
– Só de onça
– Já viu uma onça de perto?

– Nunca vi e nem quero ver.

A filha Gracinda
A filha Gracinda

O salto estava marcado para às 10 horas da manhã. Na véspera ela dançou até meia noite na festa de confraternização do “Vida Feliz”, o grupo da terceira idade do qual ela faz parte e por onde já ganhou várias medalhas disputando vôlei, basquete e natação nos jogos da melhor idade. “Quando ela começa a dançar não quer mais parar. Eu chamava ‘mãe, vamos embora que a senhora tem que descansar’ e ela respondia: ‘não te preocupa, minha filha, que amanhã eu tô firme e forte pra saltar’”, conta Gracinda.

Às 9 horas, Vó Iaiá já estava no hangar prontinha e animada.

– Tá cansada, Vó?
– Nem um pouquinho. Essa juventude de hoje que quando dança numa noite no outro dia passa o dia inteiro dormindo. Eu não.

O evento sofreu um atraso de quase quatro horas. Enquanto Iaiá vive intensamente, a filha do piloto – uma jovem linda de 29 anos – cometeu o suicídio. O clube de paraquedista teve que providenciar outro piloto e isso levou horas.

O atraso não tirou o ânimo nem a alegria de Iaiá. Ela aproveitou para fazer  fotos, contar histórias, de vez em quando dava uma dançadinha e animava a família e os amigos. “Estou firme e forte. Fé em Deus que vai dar tudo certo” e dava uns passinhos de dança fazendo o “V” de vitória.

Com o neto Vavá

Ela contou que a idéia de saltar de paraquedas foi do neto Josivaldo dos Santos, o Vavá, um rapaz de 27 anos que está fazendo curso de paraquedismo.

– Ele chegou em casa e perguntou: “Vovó, a senhora quer saltar de paraquedas?”. Aí eu respondi na hora que queria. Ele disse: “A senhora topa mesmo?” Eu respondi: topo. E aqui estou pra pular lá do alto.

Durante uma semana ela fez um cursinho de preparação e os exames médicos. “Ela está ótima”, garantiu o geriatra Cláudio Leão.

O vice-governador Pedro Paulo Dias, que é médico, padrinho do grupo da terceira idade Vida Feliz e amigo de Vó Iaiá contou que quando ela foi dizer a ele que ia saltar de paraquedas ele levou um susto. Durante a conversa, sentiu que nada ia fazer Iaiá mudar de idéia. Reuniu um grupo de médicos para fazer uma avaliação do estado de saúde da vozinha, que foi submetida a uma bateria de exames. Resultado: saúde ótima. Mas ele se cercou de outros cuidados também. Foi pedir a opinião da Promotoria da Cidadania. “Se ela quer, a família concorda e o estado de saúde dela é favorável, não há motivo para que ela deixe de realizar esse sonho”, disse o promotor ao vice-governador.

Corajosa – desde que não apareça uma onça na frente dela – ela contava numa roda como ia

O instrutor Paulo Roberto Pinto, o PG
O instrutor Paulo Roberto Pinto, o PG

saltar e até ensinava o procedimento na hora da descida: “Tem que cruzar os braços e encolher as pernas”. O filho, um homem alto e forte, de 64 anos olhava preocupado. Ela vira-se pra ele e pergunta: “E tu, meu filho, tá com medo? Fé em Deus que vai dar tudo certo e eu tô muito feliz”. Nisso passa perto da roda o PG. Ela aponta pra ele e diz: “É nesse que eu venho atracada lá de cima”. PG é o instrutor Paulo Roberto Pinto, 45 anos de idade, 30 deles dedicados ao paraquedismo. Já foram seis mil e quinhentos saltos. No verão ele costuma ir para os Estados Unidos dar aulas . É a primeira vez que vai saltar com uma vovozinha de cem anos. A pessoa mais velha com quem já saltou foi um homem de 89 anos em setembro do ano passado nos Estados Unidos.

Alguém pergunta se ele está tranqüilo. “Ela está mais tranqüila do que eu”, responde.

– Qual o momento mais perigoso?
– Não tem perigo. O único perigo é estar dentro do avião, diz rindo. E acrescenta: saltar de paraquedas é muito simples e seguro. Acidentes só acontecem quando se negligencia a segurança.

Está quase chegando a hora. Isso por volta das 13h. Vó Iaiá é chamada pela equipe do Samu para verificar a pressão. “Não sei pra que isso. Tenho pressão de menina”. Dito e certo. Pressão arterial: 13 x 7.

– Tá tudo tranqüilo, Vó?
– Eu tô muito feliz. Uhhhhhhhhhh vou saltar de paraquedas.

Hora de fazer mais uma foto. Desta vez com a família e os amigos. E ela pede pra todo mundo

Vó Iaiá com a família e amigos
Vó Iaiá com a família e amigos

fazer o “V” da vitória. Ouve o que parece ser um choro discreto. Vira-se e pergunta pra prima:

– Tu tá chorando, prima?
– Não.
– Tu tá chorando, sim. Prima, deixa de besteira, eu tô feliz, tá todo mundo aqui feliz, meus amigos, toda minha família, fé em Deus, prima.

No caminho para o avião, ela distribuiu sorrisos e repetiu o gesto da vitória. Olhou pro alto e exclamou: “Eu vou passear no céu!”.

E lá se foi a vovozinha, feliz da vida e acenando pra quem ficou embaixo. Uns boquiabertos, outros rezando, mas todos felizes, embora se percebesse uma ponta de preocupação mal disfarçada em alguns familiares.

E vó Iaiá saltou. Foi presente de Natal do neto Vavá. De acordo com o instrutor Paulo Roberto Pinto, o PG, com quem ela saltou agarradinha, o salto foi de uma altura de 8 mil pés, 22 segundos de queda livre e 10 minutos de navegação. Por alguns segundos ela dirigiu o paraquedas.

Quando desceu, Vó Iaiá era o retrato da maior felicidade do mundo. Ergueu os braços para o céu e agradeceu a Deus. Deu entrevista coletiva contando que “foi bom demais”, que “é muito legal”, que não sentiu nenhum tantinho de medo, só uma “coisa estranha no ouvido por causa do vento forte” e que quer saltar de novo.

– O que pensou lá em cima?
– Pensei em Deus. Me senti mais perto Dele.

Abraçou e foi muito abraçada. Beijou e foi muito beijada. Mas o abraço mais apertadinho, o beijo mais especial ela deu no neto Vavá, o responsável por ela ter se metido nesta aventura inesquecível para ela e para todos que assistiram.

Eu também "bati retrato" com ela
Eu também “bati retrato” com ela

– Vai festejar como, Vovó?
– Tomando uma cervejinha.
– E a senhora bebe?
– Aqui e acolá eu tomo uma, mas só em datas especiais.

E se você tá achando que Vó Iaiá vai sossegar agora, tá muito enganado. Ela já está pensando em novas peraltices.

“Quero aprender a andar de bicicleta e talvez até de moto.”

É… Vó Iaiá não fica quieta mesmo.

(Texto e fotos: Alcinéa Cavalcante)