“Uso a palavra para compor meus silêncios (…)”
É inegável a importância literária de Manoel de Barros – doçura, simplicidade, natureza e paz em forma de poema. Uma mistura de cores, sons, cheiros e letras. Mais que palavras, Manoel (d)escreveu belezas que não podemos deixar morrer. Criador de sua própria linguagem, aclamado pelo público e pela crítica, o poeta bucólico foi mestre na arte de nos transportar para o universo verde que tantas vezes passa despercebido no nosso dia-a-dia.
A Literatura tem muito disso: ela nos acorda de um sono profundo da realidade e mostra em forma de sonho muita coisa que não conseguimos perceber. É uma viagem de fora para dentro e, surpreendentemente, de dentro para fora, para além…
São as pequenas coisas que tornam o nosso viver grandioso. Saber reconhecer que as menores paixões podem concretizar grandes amores e que o cantar de um pássaro na janela pode ser a maior sinfonia que os nossos ouvidos podem conhecer.
O poeta das sutilezas mostrou que devemos cair como as folhas das árvores, sem alardes e que é melhor aprender vendo, ouvindo, pegando, provando e cheirando.
Manoel se foi como tantos outros em 2014, mas será eternamente lembrado por sua obra, sensibilidade e capacidade de recriar a literatura brasileira. Como ele mesmo escreveu: “A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse os nossos mais profundos desejos”. E o que eu desejo profundamente é “‘repetir, repetir – até ficar diferente’ e ‘usar a palavra para compor os meus silêncios’”.
(Débora Borralho é neuropsicopedagoga, professora de Português e acadêmica de Direito. Escreve toda segunda-feira neste blog a coluna “Palavras Cruzadas”)
1 Comentário para "Palavras cruzadas"
Texto perfeito.
“A Literatura tem muito disso: ela nos acorda de um sono profundo da realidade e mostra em forma de sonho muita coisa que não conseguimos perceber” – Adorei isso e anotei na minha agenda