Dia de rodar a saia, puxar ladrão e beber gengibirra

Imagem da Santíssima Trindade – O pedestal é enfeitado com um terço e fitas coloridas dos promesseiros

16 de junho é o Dia Estadual do Marabaixo instituído pelo Projeto de Lei nº 0049/10, do falecido deputado estadual Dalto Martins. A data foi escolhida para homenagear a Santíssima Trindade.

“Santíssima Trindade venho te louvar/ dá-me a Tua proteção/ na hora que eu precisar.”

Maria José Libório , filha de Tia Gertrudes. Ela toca caixa, canta e dança no Marabaixo da Favela

“Quando eu aqui cheguei
logo na minha chegada
eu amarrei um pé de rosa
que nunca foi amarrada”

A mais legítima manifestação cultural amapaense foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em novembro de 2018.

“Quem tem roupa vai a missa lê lê
quem não tem faz como eu lê lê
Rosa branca açucena lê lê
case com a moça morena lê, lê”

No Marabaixo as mulheres dançam em círculo, arrastando os pés. A coreografia lembra o andar dos escravos de pés acorrentados. Os homens tocam caixa (tambor) e tiram os ladrões, isto é, cantam, e as mulheres fazem o coro. Aliás, hoje as mulheres também  tocam caixa e puxam ladrões, como Maria José Libório, a Zezé, 81 anos, filha de Tia Gertudres – um ícone do Marabaixo.

Mas de onde vem esta que é a maior e mais importante expressão cultural do Amapá? Historiadores e pesquisadores dizem que da África, claro. Eles contam que nos navios que traziam os escravos para cá, os negros puxavam um canto que era como um lamento. “O ladrão lembra o lamento firme e vivaz de negros que cultivavam a esperança de voltar para o continente africano”, diz o pesquisador Rostan Martins. “Um participante líder e com habilidades de versar sobre assuntos do dia-a-dia, tira o Ladrão de improviso, como que roubando a “deixa” de outro participante que vai completando na improvisação”, explica.

O Marabaixo foi reconhecido Patrimônio Cultural do Brasil no dia 8 de novembro de 2018  por unanimidade, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que explicou que “o Marabaixo é fruto  da organização e identificação predominante entre as comunidades negras do Amapá,  é uma expressão cultural de devoção e resistência que representa tradições e costumes locais. A origem do nome remete aos escravos que morriam nos navios negreiros; seus corpos eram jogados na água e os negros cantavam hinos de lamento mar abaixo e mar acima. Os negros escravizados passaram a fazer promessas aos santos que consagravam, e quando a graça era alcançada se fazia um Marabaixo. Sua herança é deixada de pai para filho, e está associada ao fazer religioso do catolicismo popular em louvor a diversos santos padroeiros”.

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