Um juiz de alma lírica e coração poético

O que se esconde atrás de uma toga? Às vezes um coração frio e endurecido, consequência – dizem alguns – de tanto ver e julgar casos escabrosos, violências, crimes medonhos. Às vezes a toga esconde a ganância pelo poder; outras vezes é usada como um escudo pelos que se acham intocáveis. Às vezes uma toga de cor preta brilhante esconde sentimentos cinzentos.Felizmente por trás de algumas togas há uma alma lírica, um coração poético, um sentimento de fraternidade e o desejo de fazer um mundo melhor. E essas coisas a toga não consegue esconder. Ela se torna transparente, sendo possível que se veja e se sinta o que está por trás. E há poesia. Muita poesia. É o caso, por exemplo, do juiz Paulo Madeira (foto). Claro que há outros juízes desse naipe. Ou quase. Mas neste Dia Mundial da Poesia escolhi Paulo Madeira para em nome dele homenagear os demais.
Além das características (as positivas, claro) que listei acima, Paulo Madeira é um grande poeta, de talento ímpar e sensibilidade que emociona tanto.
Penso que é por causa dessa sua alma tão poética que ele está sempre preocupado em fazer o bem, em garantir os direitos dos cidadãos, em acolher, ensinar, orientar. Prova disso é que quando era juiz em Serra do Navio ministrava cursos gratuitos sobre os direitos do cidadão para a população.
Sua poesia tanto pode ser um canto de amor para a mulher amada, como um protesto contra as injustiças socias e o preconceito. É um alerta também sobre as maldades que andam soltas por aí. É um chamamento para que todos se unam em prol da liberdade e que caminhos sejam abertos e portas escancaradas para o amor e paz.
De tantos belos poemas, pincei este que compatilho agora.

Portas
Paulo Madeira

No Senegal uma porta se abre
Um homem é arremessado no vazio: porta do nunca mais.
No Brasil um suor negro escorre
Um feitor vigia
Na amargura da dor e da saudade,
um escravo gera o doce
Na Europa uma colher gira
Xícara de porcelana, palácio real
Em Minas Gerais outro braço negro
O brilho do suor escorre no diamante
Na Europa a rainha espera
Um navio volta pelo oceano
Transporta dores e brilhos
A história se arrasta, uma voz diz: basta!
Pés ligeiros, capoeira, nasce um quilombo
A memória, que andava escondida
Ouve um grito por liberdade e sai
Cochicha nos ouvidos: nem todos chegaram
O sal do mar tem o sangue de irmãos. Acordem!
Uns fizeram acordos, outros acordaram
Puxando a memória de lado, zumbidos dizem: chegaremos!
O poeta acorda em 2022
Contempla Madiba na parede, repete: chegaremos!
A luta é carpinteira
Nascerá uma porta
Por ela passará a escravidão
Arrastada, envergonhada
As vozes gritarão: nunca mais!

Paulo Madeira é maranhense, mas está no Amapá há quase 30 anos. Aqui constituiu família. Com apenas 29 anos de idade foi aprovado em concurso público para juiz e tomou posse em agosto de 1996. Contam que saiu  da solenidade de posse direto para uma audiência, nem teve tempo de comemorar. Já foi presidente da Associação dos Magistrados por dois mandatos e hoje dirige a Escola Judiciária Eleitoral do TRE-AP, que semana passada fez um belíssima homenagem às mulheres  . Aproveito a oportunidade para parabenizá-lo e a toda sua equipe pela impecável organização.

Parabéns, a todos os poetas pelo Dia Mundial da Poesia e especialmente ao poeta Paulo Madeira e que logo ele nos presenteie com a publicação de um livro com suas belas poesias.

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